A videira está sujeita ao ataque de inúmeras doenças ou pragas das quais deve ser protegida. No texto de hoje, falamos apenas dos principais tratamentos efectuados nas vinhas portuguesas.

Fungos, virús, bactérias, vermes, ácaros, afídeos… são nomes de ameaças que pairam sobre a vinha durante o ciclo vegetativo. As condições climatéricas influenciam muito o modo e intensidade do ataque, mas a condução da vinha, a sua sanidade, a qualidade da prevenção e a casta (cuja resistência a doenças e pragas é variada), determinam também a gravidade da ocorrência.
A fase principal de tratamentos desenrola-se num período de tempo relativamente curto: desde o gomo de algodão ao fecho do cacho, ou seja nos primeiros 3 meses do ciclo vegetativo. O Verão longo, quente e seco, características principais do clima mediterrânico, não exige habitualmente tratamentos entre o fecho do bago e o pintor (momento em que os bagos ganham cor); e a partir daqui a proximidade da vindima limita a aplicação da maioria dos produtos de tratamento.

O Míldio
Pela frequência, pelo longo período de actividade/viabilidade e pelos prejuízos que provoca, o míldio é o mais temível dos parasitas fúngicos. A chuva/humidade e o calor são determinantes no seu crescimento. Regiões vitícolas quentes e secas na Primavera/Verão raramente têm problemas com a doença.
O fungo ataca todas as partes verdes da planta em particular as folhas (é nas folhas também que hiberna). A capacidade fotossintética da planta diminui, o desenvolvimento das uvas sofre atrasos e desequilíbrios e pode haver perda parcial ou total da produção. Os sintomas surgem com pequenas manchas amareladas na página superior das folhas (mancha de óleo – infecções primárias), enquanto na inferior, após a incubação, surgem as frutificações do fungo, de aspecto esbranquiçado e macio, que disseminam a doença (infecções secundárias).
A prevenção da doença é muito importante: solos bem drenados, sem poças de água, vigor equilibrado, o interior da videira bem arejado, varas contaminadas eliminadas na poda, os “ladrões” da planta retirados e infestantes controladas, são alguns dos meios. O tratamento deve ser também essencialmente preventivo. O recurso a curativos só em situações de erros técnicos no tratamento preventivo ou na impossibilidade da sua realização.
Em anos chuvosos, como 2007, o míldio pode ser uma ameaça constante, e em anos como 2002 surgir em plena vindima. Nas regiões húmidas a luta contra o míldio é incontornável e em anos chuvosos os tratamentos podem ultrapassar a dezena. A calda bordalesa continua a ser o tratamento clássico e biológico. Para além desta existe toda uma gama de outros produtos químicos de contacto, penetrantes e sistémicos que devem ser escolhidos em função das necessidades e diagnóstico da gravidade ou risco epidemiológico da doença.

Oídio
O oídio hiberna nos gomos da planta ou na superfície da mesma. A partir dos 15ºC e 25% de humidade torna-se activo. Todas as partes verdes da planta são atacadas. Nas folhas surgem umas manchas de tom verde oleoso. Na página inferior um pó cor de cinza esbranquiçada (esporos) exibe a instalação do fungo. Sem tratamento os tecidos morrem, os pequenos bagos rebentam e a podridão cinzenta acaba por destruir parte ou a totalidade da colheita. É mais estimulado pela densidade da copa da videira que pela humidade do ar. A luz solar directa inibe a germinação dos esporos.
A prevenção cultural faz-se eliminando (à poda) varas com cleistotecas (pontos negros onde hibernam os esporos sexuais do fungo), promovendo o arejamento da videira e evitando o vigor excessivo.
A luta contra o oídio tem habitualmente calendário fixo. É necessário proteger a vinha desde a floração até ao fecho dos cachos. A doença é controlada desde 1854 com a aplicação de enxofre. Existem duas formas: o enxofre molhável e o enxofre em pó (a primeira tende a ser a mais utilizada e de preferência só até à floração). Na luta química, existe um número variado de fungicidas que inibem a germinação do fungo e/ou bloqueiam a formação dos apressórios necessários à penetração do fungo na planta.
Em situações de emergência, que são vulgares, existe o permanganato de potássio que é um detergente que “lava” a doença da planta. Depois da limpeza a videira está muito exposta a ataques, donde que, se deve aplicar a protecção de enxofre ou fungicida orgânico.

Podridão Cinzenta
Ocorre maioritariamente da floração ao fecho do cacho e depois do pintor, sempre que as condições climatéricas sejam favoráveis (chuva e/ou muita humidade e 18ºC. de temperatura). Ataca preferencialmente as uvas, os ataques às folhas e sarmentos são menos importantes. Entre o vingamento do fruto e o pintor a sensibilidade ao fungo diminui para aumentar bruscamente assim que o açúcar se acumula no bago. Depois do pintor, em presença de humidade e fissuras na película das uvas, o fungo desenvolve-se rapidamente.
Na prevenção da doença está o pouco vigor vegetativo, o bom arejamento da copa e dos cachos e a manutenção de uvas com a película integra.
A aplicação da calda bordalesa é um bom preventivo pois estimula o engrossamento da película da uva. Na luta química aconselham-se 4 tratamentos com fungicidas dirigidos ao cacho: na alimpa/vingamento, no início do fecho do cacho, ao pintor e 3 a 4 semanas antes das vindima.

Doenças do Lenho
Constituem uma ameaça crescente para o futuro da viticultura e a maioria não possui tratamento específico. Escoriose, Esca e Eutipiose são as mais comuns. A primeira pode ser tratada com fungicida, no período que vai do gomo de algodão às folhas livres, mas as duas últimas apenas com prevenção.
A poda é a operação mais importante na prevenção destas doenças. Podar primeiro as cepas afectadas, queimar as varas ou cepas afectadas, efectuar pouco cortes e de pequenas dimensões, não fazer podas precoces e principalmente desinfectar as tesouras de poda e as feridas da poda logo a seguir ao corte, são os princípios a respeitar.

Infestantes
Os herbicidas tendem a entrar em desuso. O enrelvamento é uma prática cada vez mais comum nas empresas. Habitualmente usa-se o glufosinato de amónio, um herbicida não residual ao qual se junta um pouco de ureia (azoto) para apressar a desinfestação. Só depois de mobiliza o solo e se efectua a sementeira de uma mistura entre leguminosas e gramíneas, com o objectivo de retirar ou promover o vigor na vinha. O enrelvamento protege os solos da erosão, facilita o arejamento e a frescura, incrementa a comunidade biótica, além de permitir a deposição natural de matéria orgânica quando se procede ao seu corte.

Traça
Tem 3 gerações anuais. Na Primavera os ovos da 1ª geração são postos nas inflorescências, na 2ª e 3ª geração no abrigo do cachos. Os danos na 1ª e 2ª gerações são pouco significativos mas os da 3ª geração, coincidente com a maturação das uvas, podem ser graves abrindo a porta à podridão cinzenta e podridão acética, em particular se tem um largo período de ocorrência. A luta biológica contra a traça faz-se a partir de armadilhas de confusão sexual, com resultados animadores embora seja um produto caro. A luta química faz-se com insecticidas, caso a evolução da praga o justifique ou como prevenção em parcelas reincidentes da praga. Nas vinhas modernas com castas por talhão por vezes um tratamento periférico nas parcelas mais sensíveis resolve o problema. Faz-se no período que vai da separação das flores ao bago de ervilha. Este tratamento é extensível à Cicadela.

Cicadela ou Cigarrinha Verde
Ocasional na parte Sul do país até finais de 80, hoje encontra-se em quase todas as regiões vinhateiras. O insecto tem 3 ou 4 gerações anuais. Durante o Inverno protege-se em plantas abrigadas e no abrolhamento migra para a vinha efectuando posturas junto à nervura principal da página inferior das folhas. As ninfas picadoras-sugadoras perfuram as folhas e a sua saliva tóxica provoca hipertrofia celular bloqueando os vasos floémicos. As folhas perdem a cor verde (tornam-se amarelas nas castas brancas e vermelhas nas tintas), a planta debilita-se com encurtamento e mau atempamento das varas e consequentes quebras de produção e dificuldades de maturação.
O tratamento contra a cicadela é feito no período da alimpa ao pintor, com um insecticida adequado, desde que a evolução da praga o justifique.

 

Classificação dos Fungicidas
Superfície ou contacto
Dividem-se em inorgânicos (fungicidas cúpricos) e orgânicos (químicos de síntese). São essencialmente preventivos. Protegem apenas os órgãos tratados durante 7 a 10 dias. Não protegem os órgãos formados após os tratamentos. Após uma chuvada (mais de 20 mm) as aplicações devem ser renovadas.

Penetrantes
Penetram no interior dos tecidos. Não são arrastados pelas chuvas. Têm alguma mobilidade dentro da planta mas não protegem os órgãos formados depois dos tratamentos. São preventivos nos 12 dias seguintes e curativos nos 3 a 4 dias após o tratamento.

Sistémicos
Penetram no interior dos tecidos das plantas. Não são arrastados pelas chuvas. Protegem os órgãos formados após tratamento. Têm uma persistência de acção de 14 dias.

Fonte: Revista de vinhos