História
O facto de, na opinião de alguns historiadores, Peso
da Régua ter sido habitada durante as invasões
romanas e bárbaras, deu origem ao nome Vila
Regula – casa romana de campo, soterrada em lugar
da cidade. Outros, porém, defendem a hipótese de
derivar de “récua”, devido aos ajuntamentos de
récuas ou cavalgaduras que passavam o rio Douro.
Uma terceira teoria, sustenta a derivação de
“reguengo”, designação atribuída às terras dos reis.
Peso da Régua pode ainda ter origem no termo
“regra”, aludindo ao direito que podia ser herdado
de ascendentes ou conferido a descendentes
através de um foral. Esta teoria baseia-se na
doação de terras feita pelo Conde D. Henrique a D.
Hugo, em 1093, que por sua vez as doou a D. Egas
Moniz. Seria, portanto, esta “regra” a dar origem à
palavra Régoa, mais tarde Régua. Em relação à
proveniência do nome Peso existem duas correntes
de opinião: a primeira defende a hipótese de derivar
do lugar onde as mercadorias eram pesadas e
cobrados os impostos; a segunda explica a
probabilidade de o nome ter evoluído a partir de um
lugar onde os animais de transporte eram
alimentados ou pensados, o “Penso”.
Esta parte da actual cidade é antiquíssima. A ela se
referiu o foral que D. Sancho I, que concedeu ao
lugar de Godim, porque lhe deu a sua herdade do
monte Argemundais com seus termos declarados,
requerida em 1797 pelo Marquês de Abrantes, D.
Pedro de Lencastre Almeida Sá e Meneses e
passada na Torre do Tombo, do livro que serviu de
registo na chancelaria de D. Afonso III.
A Régua é uma cidade moderna, que apenas
conheceu a sua condição de concelho após a época
pombalina, no ano de 1836. Toda a importância
reconhecida se inicia por culpa e graça da criação,
na Régoa, da Companhia Geral das Vinhas do Alto
Douro, pelo Marquês de Pombal em 1756. Tendo
mandado delimitar as vinhas do Vale do Douro com
marcos de granito – Marcos de Feitoria –
determinando assim as áreas de produção dos
melhores vinhos, Portugal criava no Douro a
primeira região demarcada e regulamentada do
mundo. A partir daí, e por via do comércio e sua
centralização local, a Régoa passou a ser o centro
da Região, o local onde todos chegavam e de onde
tudo partia.
“A marca funda que deixou na paisagem, na vida dos
homens e no sistema de relações, mais do que a
sua importância económica, para a região e para o
país, fez do Port Wine um facto cultural, património
da cultura portuguesa, um vinho universal.
É que este vinho generoso, de características singulares,
velho, doce e aromático, encerra séculos de
experiência, de trabalhos, de saber e arte, de
solidariedades e conflitos.
Favorecido pela natureza, que reúne condições excepcionais nas
encostas xistosas do vale do Douro, o vinho do
Porto é, como todos os grandes vinhos, um produto
dos homens.
Dos durienses, claro, mas também dos
negociantes do Porto, dos ingleses, das gentes
pobres das terras frias de Trás-os-Montes e da
Beira, dos carreiros minhotos, dos galegos…
Aqui,
na região demarcada de vinhos que é considerada a
mais antiga do mundo (1756), no sentido
contemporâneo de uma denominação de origem, a
história das gentes e a história do vinhedo seguem,
desde há séculos, caminhos paralelos.”
PEREIRA, Gaspar Martins; BARROS, Amândio Morais
(2000).
Memória do Rio. Para uma história da navegação no
Douro. Edições Afrontamento. Porto
No dia 3 de Fevereiro de 1837, Peso da Régua foi
elevada a vila, tendo-lhe sido anexado o concelho
de Godim, com as freguesias de Godim, Loureiro,
Fontelas, Moura Morta e Sedielos.
A 31 de Dezembro de 1859 foram-lhe adicionadas, pela
extinção do concelho de Canelas, as freguesias de
Poiares, Covelinhas, Vilarinho de Freires e Galafura.
A 11 de Dezembro de 1933 foi criada a freguesia de
Vinhós, desanexada da freguesia de Sedielos.
Com esta desanexação, o concelho de Peso da Régua
integrava onze freguesias.
Com a integração de Canelas, em 1976, o concelho completou o número
actual de freguesias – doze.
Peso da Régua foi elevada à categoria de cidade a
14 de Agosto de 1985.Em 1988 foi reconhecida pelo
Office Internacional de la Vigne et du Vin como
Cidade Internacional da Vinha e do Vinho.
O Marquês de Pombal e a Região Demarcada do Douro
O criador da Região Demarcada do Douro foi Sebastião José de
Carvalho e Melo, Conde de Oeiras, mais tarde, em
1769, Marquês de Pombal. Nasceu em Lisboa a 13
de Maio de 1699 e veio a falecer na sua quinta em
Pombal a 8 de Maio de 1782.
Senhor de personalidade e feitio muito próprios, foi
na sua época contestado por alguns. Com a sua
maneira autoritária de governar, violenta por vezes,
soube lançar sólidos alicerces para uma região
demarcada de muito prestígio.
A criação da Companhia Geral da Agricultura das
Vinhas do Alto Douro, por Sebastião José de
Carvalho e Melo ficou a dever-se a homens de muito
mérito, como ao Dr. Luiz Beleza de Andrade, que era
natural do Porto e grande viticultor nesta região do
Douro, ao espanhol biscaínho D. Bartholomeu
Pancorbo e ao Padre Mestre Dr. Frei João de
Mansilha, natural de S. Miguel de Lobrigos.
Esta Companhia, em 1756, tinha como principais
objectivos:
* A demarcação da região;
* Fiscalização dos vinhos de embarque;
* Passagem de guias de trânsito para os vinhos;
* Estabilização de preços e qualidade nos vinhos;
* Privilégio nas vendas dos vinhos para a cidade
do Porto e locais circunvizinhos;
* E, por fim, o privilégio no fabrico e fornecimento
de aguardentes.
A Companhia organizava todos os anos, em
Fevereiro, a importante “Feira dos Vinhos”, que
consistia em chamar os lavradores do Douro à sua
casa no Peso da Régua, e aí, durante 8 dias,
transaccionarem os seus vinhos. Como nessa altura,
na vila, não existiam pensões, a Companhia
proporcionava aos lavradores lautos banquetes.
Barão de Forrester
O Barão de Forrester, de nome Joseph James
Forrester, nasceu em Hull, na Escócia, a 21 de Maio
de 1809.Veio a falecer, vítima de um acidente de
barco, no Cachão da Valeira, em Maio de 1861.Veio
para Portugal em 1830 e dedicou-se desde muito
cedo à carreira comercial, ajudado nesse tempo por
um tio, grande comerciante na cidade do Porto.
Tornou-se num homem distinto, de grande cultura,
deixando-nos uma extensa obra bibliográfica.
Também foi poeta, desenhista e aguarelista. Além
dos inúmeros mapas da região demarcada, foi ele o
autor do importante mapa “O Douro Português”,
traçando o curso deste rio desde a fronteira
espanhola até à Foz. Este excepcional trabalho fez
com que o governo lhe atribuísse o título de Barão,
honraria pela primeira vez concedida a um
estrangeiro.
Como nesse tempo o acesso para o Douro era
dificil, mandou construir um barco do género rabelo,
ricamente decorado e apetrechado, onde oferecia
grandes jantares aos seus amigos. A tripulação era
muito bem remunerada e magnificamente
uniformizada. Quando se encontrava hóspede de D.
Antónia Adelaide Ferreira, veio a encontrar a morte
no barco em que se fazia transportar numa viagem
de recreio, voltando-se no traiçoeiro ponto do
Cachão da Valeira. Socorridos por outro barco,
salvaram-se todos menos o referido Barão, uma
criada e um criado.
Dizem que D. Antónia se salvou graças aos seus
vestidos, que se comportaram como um perfeito
balão e o Barão se afogou, porque levava na sua
faixa uma quantidade apreciável de moedas de oiro.
Morreu e ficou sepultado no lugar que mais o
impressionava, chegando a desenhá-lo por duas
vezes. Foi uma perda irreparável.
Ferreirinha
Ao falar do Douro, há nomes que se impõem como o
de D. Antónia Adelaide Ferreira, conhecida
carinhosamente por “Ferreirinha” ou
“Ferreirinha-da-Régua” pelas gentes da sua terra.
Seu avô, Bernardo Ferreira, deixou três filhos, José,
o mais velho, o António, e o mais novo, o Francisco.
José Bernardo Ferreira, de grande bondade e
respeito, foi o pai de D. Antónia Adelaide Ferreira,
que seria mais tarde a grande administradora da
maior casa agrícola do Douro.
António Bernardo Ferreira era o mais inteligente e
de espírito mais comerciante. Quando ainda só se
falava de um possível confronto das lutas liberais,
meteu-se num barco rabelo e foi até Vila Nova de
Gaia, onde vendeu os armazéns com todo o vinho
por preço inferior ao praticado na altura. Quem não
gostou deste negócio foi o irmão mais velho,
porque os bens também eram dele e não fora
consultado para o efeito.
Mas o com o produto da venda compraram todo o
vinho existente no Douro, transportando-o de
seguida em carros de bois e récuas para a Figueira
da Foz. Entretanto, rebentou a guerra civil, tendo
os armazéns de Vila Nova de Gaia sido saqueados e
o vinho derramado para o rio Douro. Mas enquanto
o Norte sofria na carne a desgraça de uma guerra
civil e a barra do Douro estava bloqueada, estes
senhores faziam as exportações do vinho generoso
para Inglaterra pela barra da Figueira da Foz.
Fizeram um excelente negócio e a família Ferreira
ficou muito mais rica e poderosa.
D. Antónia Adelaide Ferreira e António Bernardo
Ferreira, primos em primeiro grau e filhos de José
Ferreira e António Bernardo Ferreira
respectivamente, uniram as suas vidas pelo
matrimónio e tiveram dois filhos, uma menina Maria
d`Assunção, mais tarde Condessa de Azambuja e
um rapaz a quem deram o mesmo nome do avô e do
pai.
Mas só depois da morte do primeiro marido, é que o
espírito empreendedor desta senhora se manifestou
de forma admirável, fazendo grandes plantações no
Douro e obras de benfeitoria, tornando-se numa
figura de primeira grandeza. Tão importante que o
Duque de Saldanha, então Presidente do Conselho,
pretendeu que seu filho, o Conde de Saldanha,
contrai-se matrimónio com a filha de tão distinta
senhora.
D. Antónia recusou o convite, embora se sentisse
muito honrada, alegando para o efeito a tenra idade
de sua filha, que só tinha onze anos e que também
gostaria que fosse ela a escolher o seu esposo. O
Duque, habituado a não ser contrariado, mandou os
seus homens raptar a menina. Mãe e filha, quando
souberam o que lhes pretendiam fazer, fugiram
vestidas de camponesas, ajudadas por amigos, para
Espanha e depois para Londres, onde se refugiaram.
Depois da filha casada com o Conde de Azambuja,
D. Antónia casou com Francisco José da Silva
Torres, seu secretário.
Com pouco mais de meio século de existência e no
auge das suas capacidades de administradora,
comprou todo o vinho do Douro para dessa forma
ajudar os agricultores na luta contra os baixos
preços praticados por consequência duma crise de
abundância. Com todo o vinho comprado e
guardado nos seus armazéns, surgiu a “filoxera”,
que destruiu quase a totalidade dos vinhedos,
lançando os durienses na miséria. Mas com o poder
negociável que se lhe reconhecia e com todo o
vinho nos seus armazéns, pôde com facilidade
negociar da melhor maneira com os ingleses,
tornando a casa agrícola Ferreira muito mais rica.
Depois da catastrófica praga da filoxera, mandou
replantar as vinhas. Pagou a construção de
quilómetros de estradas e de caminhos-de-ferro,
tendo dado trabalho a mil operários e desta forma
cobriu as suas vinte e três quintas com milhões de
cepas. Em 1880, ficou novamente viúva, mas mesmo
assim continuou com a sua obra benfeitora,
ajudando a construir os hospitais de Peso da Régua,
Vila Real, Moncorvo e Lamego. Mandou construir no
Moledo um palácio para acolher o Rei D. Luiz, as
termas, a piscina e um fabuloso parque. Ajudou a
Misericórdia do Porto, ficando esta obrigada a
socorrer qualquer familiar seu.
D. Antónia que nasceu no concelho de Godim no
ano de 1810, viveu a sua infância na Casa de
Travassos, vindo a falecer em 1896 na Casa das
Nogueiras. Dois anos depois da sua morte, foi
criada a Companhia Agrícola dos Vinhos do Porto,
mais conhecida por “Casa Ferreirinha”.
POIARES
Poiares é uma freguesia portuguesa do concelho do Peso da Régua e do Distrito de Vila Real, com 11,80 km² de área e 802 habitantes (2011). Densidade: 68 hab/km². Além da povoação de Poiares, inclui as do Barreiro, Estrada, Seara d’Ordens e Vila Seca.
Pela última Reorganização administrativa do território das freguesias, de acordo com a Lei nº 11-A/2013 de 28 de Janeiro, esta freguesia juntamente com a freguesia de Canelas (Peso da Régua) passaram a constituir a União das Freguesias de Poiares e Canelas (Peso da Régua) com Sede em Poiares.
História
A fundação da povoação de Poiares remonta ao século XII.
De facto, em 1193 D. Sancho I fez a doação de um casal de terras, no actual lugar de Poiares, aos jograis Bonamis e seu irmão Acompaniado, os dois actores mais antigos portugueses, como forma de pagamento do espectáculo de arremedilho1 que realizaram.
Entretanto, foi nestes tempos que começaram a haver representações litúrgicas por ocasião das principais festividades católicas (ver “O Teatro português antes de Gil Vicente”), pelo que desde muito cedo Poiares começou a sua actividade na religião católica, ficando desde 28 de Junho de 1205 a pertencer à Ordem Hospitalar de São João de Jerusalém, também conhecida por Ordem dos Hospitalários, a qual a partir do ano de 1530 passou a ter a designação de Ordem de Malta.
Não esquecendo a grande Comenda que foi desta Ordem, é assim que esta freguesia ostenta nos seus Brasão e Bandeira a insigne Cruz de Malta.
Como testemunhos da sua história, guarda na sua Igreja Matriz uma cruz processional em prata, chamada “Santa Cruz de Poiares”, datada de 1225 e mandada fazer por Afonso Mendes – Prior da Ordem do Hospital, como também abreviadamente era conhecida esta Ordem. Tem também vestígios da referida grande Comenda de São Miguel de Poiares, a qual tinha ainda anexas as Vigararias de Freixiel e Abreiro, pertencentes que foram à sagrada religião da Ordem dos Hospitalários.
Salesianos
Poiares acolhe um dos Colégios Salesianos da Província Salesiana Portuguesa.
Nele estudam alunos das aldeias circundantes, mas também alunos de toda a região de Trás-os-Montes e Alto Douro, sendo que estes ficam em regime interno. A sua escola inclui os 2º e 3º ciclos de escolaridade.
A torre do colégio é um marco da aldeia, que pode ser visível até vários quilómetros de distância.
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