Da nobreza como virtude rara
Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches nasceu em Cabanas de Viriato, concelho de Carregal do Sal, a 18 de Julho de 1885.
Licenciou-se em Direito pela Universidade de Coimbra em 1907, tendo seguido a carreira diplomática que o levou a assumir postos em Zanzibar, Curitiba, São Francisco da Califórnia, Boston, São Luís do Maranhão, Porto Alegre, Vigo, Antuérpia e Bordéus.
Nesta última cidade assistiu à fuga ao holocausto nazi em 1940. Tendo-lhe sido revelado o horror humano que se perpetrava, desobedecendo às instruções de Salazar, passou milhares de vistos para refugiados, salvando mais de 30 mil pessoas, que assim puderam escapar ao extermínio alemão. Fê-lo sabendo que sacrificava o seu próprio futuro e o da sua família. Foi deposto e marginalizado. Impedido de trabalhar, morreu arruinado em Lisboa em 1954. Os seus filhos, alguns dos quais também perseguidos pelo Estado Novo, refugiaram-se no estrangeiro. Dois deles combateram pelos aliados, participando no desembarque da Normandia. Sousa Mendes casara em 1908 com sua prima direita Maria Angelina Ribeiro de Abranches, cujo pai era irmão de seu pai e sua mãe irmã de sua mãe. Deste casamento teve 14 filhos, 12 dos quais chegaram à idade adulta. Era filho de José de Sousa Mendes, que foi juiz desembargador da Relação de Coimbra, e de sua mulher, Maria Angelina Ribeiro de Abranches de Abreu Castelo-Branco. Teve dois irmãos, um dos quais seu gémeo, César de Sousa Mendes, que consigo se licenciou em Direito, e foi igualmente diplomata. Descendia de importantes famílias da Beira. Consta de algumas fontes que Sousa Mendes tinha ascendência cristã-nova, mas esse facto não se comprova. Aliás o seu feito heróico salvou todos os que se lhe aproximaram, independentemente de credos ou raças. A comunidade judaica internacional jamais o esqueceu, apoiando-o e aos seus descendentes no exílio, e recordando as suas acções.
Foram seus avós paternos Raquel Augusta Mendes da Gama e Manuel Alves de Sousa, filho de António Francisco Álvares Aranha e Teresa Maria Sousa, de Muxagata, distrito da Guarda. Seu avô materno foi Silvério Coelho Pais do Amaral, filho de António Coelho do Amaral e Luísa de Barros, de Beijós (em Carregal do Sal) e sua avó foi Maria dos Prazeres Ribeiro de Abranches, filha do 2.º visconde de Midões César Ribeiro de Abranches Castelo-Branco, comendador da ordem de Nossa Senhora de Vila Viçosa. Este era filho do 1.º visconde de Midões Roque Ribeiro de Abranches Castelo-Branco, nascido em Midões, concelho de Tábua, em 1770. Foram pais do 1.º visconde Teresa Leonor de Vasconcelos e Sotomaior de Mendonça, da casa dos morgados e depois condes de Santa Eulália, em Seia e seu marido Luís Ribeiro de Abreu Castelo Branco, filho de Roque Ribeiro de Abreu, cavaleiro da Ordem de Cristo e Familiar do Santo Ofício. Era este último trineto de Mécia da Cunha, herdeira da antiquíssima casa de Tábua de que foi 10.ª senhora, e de seu marido, Pedro Gomes de Abreu, filho do bispo de Viseu João Gomes de Abreu e de D. Beatriz de Eça, bisneta por varonia do rei D. Pedro I e de D. Inês de Castro.