Cultura da vinha

As características climáticas, orográficas e mesológicas existentes na Região do Douro são condicionadoras do aproveitamento económico dos recursos naturais e das actividades aí desenvolvidas.

Foi a coexistência de vários vinhos de qualidade na Região Demarcada do Douro que determinou que, fosse necessário criar um critério de escolha e partilha dos mostos produzidos na região.

Assim, da totalidade da superfície plantada com vinha, somente 26.000 ha estão autorizados a produzir Vinho do Porto. As vinhas aptas a produzir são seleccionados por um critério qualitativo baseado no Método da Pontuação, e classificadas segundo uma escala qualitativa de A a F. Este método tem em consideração parâmetros edafo-climáticos e culturais com importância determinante no potencial qualitativo das parcelas. É a partir do 5º ano de plantação que as vinhas podem ser consideradas para efeito de produção de Vinho do Porto, e, de acordo com os elementos cadastrais, cada parcela de vinha tem direito a um determinado coeficiente de benefício.

A viticultura, actividade principal para a maioria dos agricultores da Região, desenrola-se em condições climatéricas particularmente rudes, em solos pedregosos, sem utilização alternativa.

Para a instalação da vinha na região houve que recorrer a técnicas de armação do terreno em socalcos nas zonas de maiores declives. As formas de condução com que a vinha se apresenta são a solução encontrada para ajustar a influência do clima e do solo às necessidades da planta e aos objectivos de produção.

A cultura da vinha á extreme na maioria dos casos, coexistindo com amendoeiras e oliveiras na bordadura das parcelas.

Armação do terreno

O papel desempenhado pelo Homem foi fundamental na criação dos socalcos, que são uma característica de toda a região.

insectos

Antes da crise filoxérica, praga que surgiu na região pela primeira vez em 1862, as plantações eram feitas em pequenos terraços irregulares (geios), com 1-2 filas de videiras, suportados por paredes de pedra. Os socalcos eram ‘ rasgados ‘ nas encostas, de baixo para cima, as paredes eram construídas com as pedras tiradas do terreno, a sua altura dependia da inclinação da parcela e a movimentação da terra para preparar o solo para a plantação era pequena. A densidade de plantação rondava as 3 000 – 3 500 plantas/ha.

A filoxera é um insecto que provoca sérios danos nas videiras europeias. A luta química contra esta praga é pouco eficaz. A utilização de sulfatadores que injectam no solo sulfureto de carbono foi um processo utilizado no passado com alguns resultados, mas revelou-se pouco eficaz em muitos locais.

Filoxera_ciclo

Para ultrapassar esta situação, utilizam-se porta enxertos resistentes (espécies americanas).

Estes pequenos terraços foram posteriormente abandonados e constituem hoje os designados ‘mortórios‘.

Após a filoxera, foram feitos novos terraços, mais largos e inclinados, com ou sem paredes de suporte, permitindo maiores densidades de plantação (cerca de 6000 plantas/ha). Surge também nesta altura a vinha plantada em declives naturais, segundo a inclinação do terreno. Nestes sistemas a mecanização é impossível pois não existem ou são escassas as estradas de acesso às vinhas e a inclinação lateral está associada a uma forte densidade de plantação.

Este facto, traduzido pelos custos elevados que implica em termos de mão-de-obra, tem conduzido ao abandono gradual deste tipo de vinhas.

A introdução da mecanização na região exigiu novas formas de armação do terreno.

No fim dos anos 60 e início dos anos 70, um novo sistema surgiu na região. Trata-se dos patamares horizontais com taludes em terra, com 1-2 linhas de videiras e com densidades de plantação baixas, na ordem de 3 000 – 3 500 plantas/ha. Dado que necessita de parcelas de grande dimensão para a sua instalação, é um sistema que não está adequado a zonas de minifúndio.

Mais recentemente, e como alternativa aos patamares, aparecem as vinhas plantadas segundo as linhas de maior declive do terreno (‘ Vinha ao Alto ‘). Com uma densidade de plantação semelhante à das vinhas tradicionais, na ordem das 4 500 – 5 000 plantas/ha, este sistema apresenta uma boa adaptação para pequenas parcelas, podendo ser o trabalho mecanizado pela utilização de guinchos ou, até declives na ordem dos 40%, por tracção directa, com tractores de rastos,

Formas de Condução

Tradicionalmente as vinhas da região são conduzidas em formas baixas, sendo os mais expandidos, o Guyot simples e duplo e os cordões unilateral ou bilateral, predominando estes últimos nas novas plantações. As ramadas podem-se encontrar em alguns locais, embora não seja uma forma de condução habitual na região, nem autorizada na produção de Vinho do Porto.

Embora nas vinhas tradicionais a altura da sebe ronde 1 metro, actualmente a altura do embardamento aumentou para valores entre 1,30 – 1,60 m . O 1º arame coloca-se a cerca de 0,6 m, seguindo-se um arame simples ou duplo a 30-35 cm para uma primeira ampara dos pâmpanos e um último no topo, a 1,40 – 1,50 m do solo.

Prácticas Culturais

As operações culturais (cava, escava, redra, empa, desponta, fertilizações, tratamentos fitossanitários, poda e enxertia), são as mesmas que existem nas outras regiões vitícolas, sendo apenas de salientar são, no Douro, muito mais penosas de executar devido às condições climáticas e ao acidentado do terreno.

Combate de infestantes

Técnicas mistas, em que se alterna a lavoura (mecânica nas vinhas onde tal é possível) com a aplicação de herbicidas. Usualmente duas intervenções com o herbicida e duas ou três intervenções mecânicas.

Mobilizações do solo, são poucos os viticultores que não usam herbicidas fazendo apenas mobilizações do solo. Outros, aplicam o herbicida na linha e/ou talude e na entrelinha fazem mobilização do solo.

Castas

A grande diversidade de castas existentes no Douro, adaptáveis a diferentes situações de clima, demonstra as condições óptimas para a cultura da vinha existentes na região. As castas, na sua maioria autóctones, estão enxertadas em diversos porta-enxertos, escolhidos segundo a sua afinidade para as castas e características do solo.

O encepamento da região, aliás como o de todas as regiões demarcadas, está regulamentado através de decreto-lei, sendo aí referidas as castas autorizadas e recomendadas e a respectiva percentagem.

Actualmente, nas novas plantações tem-se optado por um número mais reduzido de castas, eleitas pelas suas características particulares. Nas castas tintas destacam-se a Tinta Amarela, Tinta Barroca, Tinta Roriz, TourigaFrancesa, Touriga Nacional e Tinto Cão; as castas brancas predominantes são a Malvasia Fina, Viosinho, Donzelinho,Gouveio.

No que diz respeito à produtividade, a região não se caracteriza por ter castas muito produtivas. Será de referir que o rendimento máximo permitido é de 55 hl/ha (cerca de 7.5OOkg/ha). A produtividade média é de cerca de 30 hl/ha (4. 100kg/ha).

Porta-Enxertos

O porta-enxerto mais utilizado após a invasão da filoxera foi o Rupestris du Lot. Posteriormente, foram introduzidos híbridos de Berlandieri com Riparia (42O-A, SO4) e híbridos de Berlandieri com Rupestris, tais como o R 99, o R 11O, o 1103 P e ainda o 196-17. Os primeiros são utilizados nos terrenos mais fundos e frescos e os segundos em encostas quentes, secas e fragosas.