Teve hoje lugar na Sala Ogival da Viniportugal uma estupenda prova comentada, brilhantemente conduzida por um dos enólogos mais proeminentes do nosso país, o Engº Osvaldo Amado.
Os vinhos provados foram da Adega de Cantanhede, extraordinariamente comandada pelo seu Presidente, Sr. Victor Damião, que tem conduzido os destinos desta adega, elevando-a a um patamar de elevada qualidade, tornando-se numa das melhores referências de gestão, colocando para trás das costas os velhos dogmas que levaram ao tapete inúmeras adegas cooperativas, e como refere bem, é parte integrante do concelho de Cantanhede! Dos pontos de vista económico, social e até cultural.
Todo o staff está de parabéns e os resultados estão à vista, tendo em conta que todo o sucesso alcançado iniciou-se há perto de 10 anos e sempre com castas nacionais, reforçando a modernização de equipamentos e métodos, especialmente na condução de vinha e intensificação do acompanhamento aos seus associados, que são perto de 700, numa área de 1000 hectares. Corresponde a uma produção média de 7 toneladas por hectare, com densidade de vinhas perto das 3500 pés/hectare, assentes em solo argilo-calcário, recebendo um clima atlântico, estando próximos a cerca de 20km do Oceano Atlântico.
O alinhamento das provas foi cuidado, tendo iniciado com dois brancos:
– Marquês de Marialva Arinto Reserva Branco 2014;
– Marquês de Marialva Arinto Grande Reserva Branco 2012.
Durante a prova destes dois brancos o Engº Osvaldo Amado realçou essencialmente todas as potencialidades da casta Arinto, perfeitamente adaptada a este terroir, conferindo excelente frescura, acidez viva, longevidade aos vinhos e com madeira, enorme estrutura e sabor, conduzindo até a vinhos muito sofisticados, principalmente com alguma idade.
O meu destaque vai para o segundo branco provado. A cor ainda apresenta pouquíssimos sinais de evolução, um amarelo com laivos ligeiramente dourados, com um brilhante transparência. O aroma é uma profusão complexa de diversas sensações. Notas tropicais, fruta de polpa branca, alguns herbáceos suaves, frutos secos, compota e mineralidade bastante presente. Na boca é volumoso e untoso, muito complexo, estruturado mas ao mesmo tempo de enorme leveza, gastronómico para uma variadíssima gama de pratos, tendo um enorme final de boca a alguma tosta e abaunilhados. Muito bom mesmo.
Seguiram-se depois 3 tintos à prova.
– Marquês de Marialva Baga Reserva Tinto 2011;
– Marquês de Marialva Baga Grande Reserva Tinto 2010;
– Foral de Cantanhede Gold Edition 2009 ( feito com Baga e Touriga Nacional ).
Os dois primeiros vinhos provados evidenciaram todas as potencialidades da casta Baga na região, quer em termos de sabor, quer em termos de identidade. Segundo o Engº Osvaldo Amado, tem a dificuldade acrescida de por cada 10 anos, se conseguirem 4 anos ótimos de colheita desta casta.
A Baga é sem dúvida fantástica, que conduz a vinhos vigorosos, plenos de concentração, bonitas cores entre o violáceo e o rubro carregado, opacos, muitos frutos vermelhos maduros, silvestres, alguma especiaria, balsâmicos e com madeira sempre discreta. No paladar, e visto tratarem-se de Baga’s com mínimo de 5 anos, revelaram-se em grande forma, plenos de boa acidez, fruta fresca ainda, encorpados. O primeiro com menor fim de boca mas mis gastronómico. O segundo pleno de explosão na boca, que se agarra à bochecha, que faz uma ligeira mousse, muito mastigável e de textura já arredondada, sendo o seu comprimento final relativamente longo, bom para fim de conversa.
Aqui destaca-se terceiro tinto provado. Muito em forma, complexo, misto entre amoras, fruta preta, ameixa em passa, charuto, grafite, tosta sem se sobrepor aos aromas. O sabor é muito atrativo, pleno de expressividade sensorial, intenso, concentrado, muito complexo, diria viciante até. Para conversa convém pouco, porque nos distraímos e esgotamos rapidamente a garrafa. Colheita de 2009 plena de energia final e muito mais durará este vinho de classe!
Passou-se de seguida aos espumantes. Foram os seguintes.
– Espumante Baga Bruto Blanc de Noir 2014;
– Espumante Extra Bruto Cuveé Branco 2011 ( 85% Arinto, 15% Baga)
Ambos espumantes de grande presença e caráter, complexos, de bolha fina, para situações diferentes cada um. Os dois com aromas menos evidentes, mas explosivos de sabor na boca, crocantes, complexos e fim de boca de boa amplitude.
Realce para o segundo provado. Cor amarelo pálida muito transparente. Aromas cítricos, florais, algum fósforo, muito minerais e com muita vida pela frente. Na boca sente-se toda a sua alma. Tudo muito equilibrado, acidez-doçura em perfeita sintonia, bolha que conduz a uma textura cremosa, leveza, notas mais tropicais no palato, complexo e de sabor muito vibrante. Fim de grande calibre.
Foi ainda dada à prova uma estupenda Aguardente Vínica Velha XO 20 anos de complexidade a toda a prova, bem desenhada e arquitetada, ouro puro bem guardado para agora conferir pelo menos ao painel desta prova um prazer imenso.
Para terminar em beleza, tivemos o Marquês de Marialva Singular Vinho Licoroso. Pouco se fala deste estilo de vinhos, mas pode-se dizer que são um estilo muito atraente de sabor, pleno de requinte e sempre muito complexos, como este, exclusivo de uvas tintas, Baga, Tinta Roriz e Touriga Nacional. Bem desenhado, arquitetado, pensado … para dividir com amigos num excelente fim de refeição!
Em suma, temos uma Adega com muita vida, dinamismo, garra, entrosamento entre todo o Staff, muita objetividade e que proporciona ao consumidor grandes vinhos com relação qualidade-preço quase imbatível!