Localizado no quadrante Nordeste do Distrito da Guarda, o concelho de Figueira é constituído por 17 freguesias, distribuídas por uma área de 508,57 km2.

 

Pelas freguesias, os campos de cereais e as árvores de fruto conferem à paisagem rural uma beleza dificilmente igualável, enobrecida ainda mais, pela imponente arquitetura religiosa, com igrejas e capelas de rara beleza.

 

Hoje, a vila de Figueira e o seu concelho são conhecidos e reconhecidos pelo seu rico património monumental, pela beleza das suas paisagens, pelo sabor da sua gastronomia e dos seus vinhos e pela hospitalidade das suas gentes.

 

Historicamente, falar de Figueira de Castelo Rodrigo implica remontar muitos séculos na história. Desde a Pré-História até ao séc. XX, muitos são os testemunhos existentes, permitindo-nos viajar pelo tempo à descoberta das raízes históricas de toda uma região.

 

Entranhado no coração da região do Riba Côa, o concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, instituído por decreto de 25 de Julho de 1836, apresenta grande riqueza de património edificado, onde assume papel de destaque Castelo Rodrigo, uma das mais belas e marcantes Aldeias Históricas de Portugal. Mas em todas as freguesias encontramos monumentos de grande valor que guardam segredos e memórias de tempos passados.

 

 

IDADE DO BRONZE

A zona de Riba Côa, apartada no isolamento das suas pobres montanhas, manteve o arcaísmo

da sua civilização. O surgimento de armas de bronze e estelas de chefes “heróis”,

característicos nesta zona, confirmam a formação paulatina de uma sociedade de guerreiros-pastores.

A estátua-menir de” Ataúdes” descoberta a cerca de 2,7 km para Este de Figueira de

Castelo Rodrigo, remonta a esse período da história de que existem poucos testemunhos. O

imponente monumento mede 2,96 metros de altura e 0,79 m de largura, apresentando dois

motivos principais e centrais: uma figura humana e uma espada.

 

Trata-se de uma estátua armada, portanto uma insígnia estandardizada de poder. È a espada o

único elemento que, objetivamente, nos possibilita uma aproximação à cronologia do

monumento.

 

A arma representada remeterá para um momento avançado do bronze antigo, finais do 2.º

quartel do II milénio a. C.

Vigorou nestas terras uma sociedade chefiada por uma elite guerreira, consequência da

hierarquização que era exigida para defesa das terras e gados, o controlo de vias e zonas de

pasto.

 

No séc. VI a.C., a principal invasão celta alterou o quadro geopolítico da nossa região.

Castelo Rodrigo, pela sua inserção numa elevação, à semelhança de muitas vilas e cidades da

região, faz-nos remontar a um povoamento de tipo castrejo, o que alguns restos arqueológicos

vêm comprovar. Tratava-se sem dúvida de castros Vetões, os primeiros povoadores de quem

existem vestígios.

 

 

Este povo pré-romano habitou uma zona que ia desde o rio Tormes até ao norte de Cáceres e

desde Ávila até ao rio Côa. Eram fundamentalmente criadores de gado e por esse facto,

procuravam para a instalação das aldeias, lugares e zonas montanhosas, onde abundassem

pastos para os rebanhos.

 

As características do concelho de Figueira adequavam-se perfeitamente às exigências de vida

deste povo que buscava defesas naturais para a implantação dos seus povoados, que

construíam em zonas escarpadas ou em zonas flanqueadas por rios profundos.

Este é o povo autor de numerosas esculturas em granito, os “Berrões“. Estas esculturas,

colocadas nos limites das povoações, eram erigidos como manifestação de culto aos animais

que constituíam a base da economia. Em Santo André, no limite da freguesia de Almofala,

 temos duas magníficas peças que remontam a este período.

 

Encontram-se ruínas de tipo castrejo em Castelo Rodrigo, Serra de Nave Redonda e Serra de

Monforte. Nestas civilizações, a pedra assumia particular importância, nomeadamente na

construção, mediante o emprego de um aparelho grosseiro.

 

 

A PRESENÇA DOS ROMANOS EM RIBA CÔA

Os Romanos começaram a conquista da Península a partir do ano 218 a. C., entrando em

contacto com os povos que habitavam esta região 25 anos mais tarde. Posteriormente,

enquanto parte da Península estava a adaptar-se à civilização romana, este mundo estranho

ergueu barreiras contra a romanização e só depois de século e meio de lutas ferozes, os povos

desta região foram definitivamente submetidos. Foi sob o comando de Júlio César, então Pretor da Lusitânia, por volta do ano 61 a. C., que os romanos puseram fim aos periódicos

levantamentos de Lusitanos e Vetões.

 

Os Lusitanos, que eram o povo vizinho pelo oeste, estendiam-se desde o rio Côa até ao mar,

com o Douro a estabelecer o limite da fronteira norte. As suas relações com os Vetões eram

estreitas, de tal modo que se formavam grupos de salteadores entre os membros dos dois

povos, que marchavam para outras regiões da península, para pilhar onde tivessem

oportunidade.

 

A chegada dos romanos à Península Ibérica trouxe uma forma diversa de encarar os povos

submetidos. A ocupação romana distinguiu-se da efetuada por outros povos invasores, devido

ao carácter social e administrativo que instalaram e desenvolveram ao longo dos séculos. A

introdução da língua latina, dos deuses romanos que aos poucos substituem as divindades

locais, da organização administrativa do território, a abertura de estradas, a construção de

pontes e templos, foram fatores que alteraram o “ modus vivendis” dos povos peninsulares.

A romanização manifestou-se em todo o território, como provam os vestígios arqueológicos,

pois no sopé de muitas colinas, surgiram as Villae e os templos, sendo famoso a torre de

Almofala, que apesar das várias alterações, conserva ainda o magnífico pódio romano e tem

revelado importante espólio, que permite trazer alguma luz a uma época que foi importante

para o definitivo desenvolvimento civilizacional desta região.

 

A presença dos romanos no concelho de Figueira, está assinalado no Casarão da Torre em

Almofala, nalgumas “ Villae” e em Aras votivas. De entre estas destaca-se a Ara Votiva do

Casarão da Torre, descoberta nas escavações feitas junto à torre de Almofala. A Ara apresenta

a inscrição “ CIVITAS COBELCORVM “. Pode entender-se como uma referência à capital dos

Cobelcos, um povo de que não havia referência. O Achado leva a supor que terá existido no

local, uma povoação de certa importância.

 

Esta descoberta, segundo a investigadora Dr.ª Helena Frade, poderá revolucionar a história

local e até nacional, pois deixa antever a possibilidade de ali ter existido a cidade dos

Cobelcos, desconhecida até ao presente e que altera o mapa de distribuição das cidades

conhecidas no período da ocupação romana da Península Ibérica.

 

 

SUEVOS E VISIGODOS EM RIBA CÔA

A península Ibérica, num fenómeno que abrangeu todo o império romano sofreu a invasão de

hordas de povos bárbaros: Alanos, Vândalos e Suevos.

 

Os Suevos, depressa constituíram um forte estado que durou sensivelmente entre o ano de

411 a 585., tendo constituído capital em Bracara Augusta (Braga). Este povo implantou-se na

região entre Douro e Minho. Converteram-se ao Cristianismo em 456, no tempo de Richiário.

Posteriormente, chegaram os Visigodos, que rapidamente conquistam Alanos e Vândalos.

Durante dois séculos esta região é influenciada pela luta entre estes dois reinos, pois os

visigodos haviam-se convertido ao arianismo, o que deu aos suevos um espírito de cruzada

contra estes últimos. Foi o rei Visigodo Leovigildo (577-586) que submeteu definitivamente os

suevos em 586. O seu sucessor Recaredo I (586-601) converteu-se ao catolicismo no 3.º

concílio de Toledo.

 

Os visigodos mais avançados no sistema jurídico e social, recebem a influência do direito

romano e a inspiração dos valores católicos da vida social dos suevos, constituindo o Codex

Visigotorum, que regeu e influenciou a vida das populações mesmo após a conquista dos

muçulmanos.

 

É dentro deste contexto de reorganização do Reino visigótico, que existem referências ao Riba

Côa, através da diocese de Caliábria. Sabemos que era a localidade mais importante, contudo,

a data da fundação é incerta. Supõe-se que a passagem a diocese terá ocorrido durante o

reinado de Suitila (612-631), pois o primeiro bispo de Caliábria aparece a assinar as actas do

4.º concílio de Toledo, em 633, onde assina “ Servus Dei, episcopos callabriensis”.

 

A criação de Caliábria impunha-se, segundo M. Gonçalves da Costa ”… não existindo outra sede em espaço tão dilatado, como era de Viseu a Salamanca e Egitânia e aumentando a conversão dos povos, tornava-se extremamente molesto a visitação que os bispos eram obrigados a fazer. Foi pois natural que os Visigodos católicos resolvessem colocar

outro bispo em Caliábria…”. D. Mateo Hernandez Vegas, in Ciudade Rodrigo, la catedral y la ciudad Salamanca (1935), indica que a decadência de Civitas Augusta (Ciudad Rodrigo) exigiu a criação do bispado de Caliábria “… é certo e bem comprovado que a sede da arruinada Civitas Augusta foi transladada para Caliábria, cidade situada na foz do Côa no Douro…”.

 

 

A decadência de Caliábria está directamente ligada à da própria monarquia visigótica, que

atingiu o seu ponto alto na viragem do séc. VII para o VIII, em razão das disputas pela coroa.

A morte do rei Vitiza e a sua sucessão por um filho não é aceite por um grupo de nobres que

entregam a coroa a Rodrigo. A isso se opõem dois homens: D. Julião, governador de Ceuta e

D. Opas, arcebispo de Hispalis (Sevilha) tio e tutor dos herdeiros afastados. O governador de

Ceuta estabelece aliança com Muça, sarraceno e chefe das forças do norte de Africa. As tropas

de D. Julião e Muça vencem Rodrigo no ano de 711 na batalha de Guadalete.

 

Desde esse momento, apenas no séc. XII, altura do nascimento de Portugal, voltou a falar-se

de Caliábria. Quatro séculos depois, Caliábria ainda seria uma cidade de algum significado,

pois foi dom de D. Fernando à Diocese de Ciudad Rodrigo.

 

 

IDADE MÉDIA

ÁRABES

A invasão dos muçulmanos e a desintegração política e religiosa, incidiu directamente sobre o

Riba Côa. Esta invasão fez ruir por completo a organização política do estado Visigótico,

transtornando também a comunicação entre as cidades e o campo.

 

Nos primeiros anos da invasão, os colonos berberes instalaram-se em toda a zona do Douro.

No concelho de Figueira, existem vestígios da sua presença quer pela tradição oral (muitas são

as lendas sobre mouras, fontes e sepulturas antropomórficas), quer pela marca deixada na

toponímia, como podemos verificar nos nomes de Almofala e Algodres. Mas são ainda mais

significativas as inscrições árabes sobre o lintel de uma porta na Aldeia Histórica de Castelo

Rodrigo.

 

 

RECONQUISTA CRISTÃ

Na idade média e num fenómeno que se mantinha desde longo tempo, a insegurança

permanente parece ter funcionado como óbice para atrair e fixar gente, o que indica que estas

terras permaneceram à margem dos fenómenos de recuperação demográfica e ordenação

feudal que estava a ocorrer em zonas próximas.

 

A situação começou a alterar-se desde meados do século XII, altura em que o monarca Leonês

Fernando II, tomou no ano de 1161, a decisão de levar a cabo o repovoamento da zona de

Riba Côa. Poucos anos depois, em 1189, Afonso IX de Leão, fixou os limites do concelho de

Castelo Rodrigo, o primeiro a ser criado em terras do Riba Côa, tendo posteriormente, em

1209, atribuído à vila o foral.

 

O início do repovoamento, dado tratar-se de uma decisão política, não só preparava as bases

para a futura colonização em massa, mas também ordenava a hierarquia do território e das

populações, dentro dos marcos feudais do reino Leonês, o que provocou imediatas reações

militares, do lado português, com o objetivo de impedir essa fixação.

 

A tentativa portuguesa de impedir uma fixação Leonesa radica na importância estratégica de

que se revestia Castelo Rodrigo, de onde poderiam ser arremetidas sortidas contra o território

português.

Deste modo, uma sociedade de fronteira, bastante desarticulada e sem nenhum controlo

durante vários séculos, em poucas décadas havia-se convertido numa sociedade enraizada na

fronteira.

 

Quando o rei lavrador sobe ao trono português, a situação militar do Riba Côa era clara, pois

não obstante as incursões dos seus antecessores, que fizeram passar de mão alguns castelos,

toda a região era Leonesa.

D. Dinis pretendeu alterar esta situação e, aproveitando uma fraqueza dinástica de Leão,

desloca-se à Guarda e dali declara guerra a Fernando IV, menor, filho de Sancho IV, que tinha

por tutor D. Henrique. O rei português inicia uma profunda penetração por Castela, avançando

com êxito sobre Ciudad Rodrigo, passa a Salamanca e chega a Valladolid,

regressando a Portugal para se apossar da Região de Riba Côa, tendo colocado

guarnições portuguesas em Castelo Rodrigo, Alfaiates, Sabugal, Vilar Maior, Castelo Bom,

Almeida e Castelo Melhor. Desta forma obriga os Castelhanos a assinar o tratado de Alcanizes

em 12 de Setembro de 1297. Com este tratado, o nosso monarca, desiste das pretensões

sobre Limia e Toronho e as terras de Aliste, mas exige o território que ocupara, passando a

fronteira para o rio Águeda.

 

Este tratado teve consequências para as terras do Riba Côa, pois estas nunca mais voltaram a

estar integradas nos domínios da coroa de Castela, com excepção para o período da união

dinástica entre 1580 e 1640.

Desde aquela data as gentes deste concelho, apesar de longe da capital do reino, mantiveram

sempre erguidas as cores da bandeira, que defenderam com denodo, sem olharem a esforços,

intervindo em variadas acções militares que permitiram consolidar na população o seu forte

sentir nacional e patriotismo.

 

 

RECONQUISTA CRISTÃ

A fortaleza de Castelo Rodrigo desempenhou sempre papel de destaque entre os redutos da

região e foi motivo de preocupação de sucessivas gerações de monarcas. No tocante à

estrutura da fortificação, existem documentos que nos permitem conhecer as medidas que

levaram a cabo reis, ordens militares, senhores e os habitantes do concelho.

 

Assim, D. Dinis, para melhor assegurar a posse das terras conquistadas aos reinos de Leão e

Castela, mandou reparar as muralhas em volta da vila, guarnecendo fortemente a vila, o

mesmo fazendo a todas as praças da fronteira Este.

Uns anos mais tarde, em 1369, D. Fernando I, na tenaz luta que empreende contra Castela,

alegando direito ao trono por morte de D. Pedro I, mandou reparar as muralhas, que foram

palco de escaramuças constantes, que se prolongaram até à guerra da Independência, mas

como nem sempre os recontros foram favoráveis ás forças portuguesas, a vila sofreu grande

sangria na população e o castelo foi caindo em ruínas.

 

Mais tarde, D. Manuel fê-lo reconstruir em finais da primeira década, dando-lhe foral em

Santarém, datado de 25 de Julho de 1509.

Foi precisamente neste século, que os nossos castelos começaram a ser adaptados às armas

de fogo com a construção de troeiras e aumento da profundidade das linhas de fogo, através

da construção de barbacãs .

 

O “… Livro das Fortalezas…”, de Duarte d’Armas, dá-nos indicações sobre a estrutura física da

maior parte dos castelos situados na zona do Riba Côa, pois dos castelos compreendidos no

tratado de Alcanizes, encontram-se representados nessa obra, os castelos de Castelo Rodrigo,

Almeida, Castelo Bom, Vila Maior e Sabugal, não estando representados nesta zona da Beira,

Castelo Melhor, Monforte e Alfaiates.

 

No desenho do códice de Madrid, lê-se «esta he hua gram ladeira de sobir» o que nos leva a

lembrar que as características fronteiriças de Castelo Rodrigo, que o conde da Ericeira

descreve como alcantilado e fragosa, eram benéficas para a defesa, aliado à própria

fortificação que , apesar da escassa guarnição fazia parte dos castelos de 1ª linha.

 

BATALHA DE CASTELO RODRIGO

Muitos foram os momentos da história portuguesa onde o nome de Castelo Rodrigo foi elevado bem alto pela coragem dos seus habitantes, mas provavelmente o momento mais marcante foi a vitória conseguida a 7 de Julho de 1664 .

 

No século XVII, na Guerra da Restauração, Castelo Rodrigo escreveu a mais bonita página da

sua história. Castelo Rodrigo, mantinha-se como fortificação ativa, pertencendo à comarca

judicial de Pinhel e ao bispado de Lamego, integrando o número de vilas com assento nas

cortes, onde em 1642 ocupava o 11ºbanco. Os seus habitantes prezavam a sua situação como

centro da região. Além disso, a vila tinha voz ativa quanto à organização dos governos de

armas da Beira, coincidindo com Castelo Branco no pedido feito em cortes, em 1646, para que

o governo da Beira fosse dividido em dois, para maior eficácia na defesa.

 

O monarca D. João IV vai então ordenar a divisão da Beira por dois governadores de armas,

acreditando que assim ficaria melhor defendida, pois permitia um melhor racionamento das

tropas, ao encurtar as zonas de acção numa província tão dilatada.

Assim, o governo das armas das comarcas da Guarda, Pinhel, Lamego e Esgueira é confiado a

D. Rodrigo de Castro, então governador da cavalaria do exército do Alentejo, ao passo que

Castelo Branco, Viseu e Coimbra ficaram ás ordens de D. Sancho Manuel.

O primeiro comando designava-se por Partido de Almeida e o segundo por Partido de

Penamacor. Procurando testar o governador do partido de Almeida, os castelhanos tomam-lhe

o pulso, atacando a região de Alfaiates. D. Rodrigo responde, e põe debaixo de ataques S.

Felices de los Galegos e destruíu a «campanha» em redor de Ciudad Rodrigo.

Os dois chefes portugueses chegam a planear um ataque conjunto a Alcântara. Em 1651, os

castelhanos avançam por Castelo Rodrigo e Sabugal, a que D. Rodrigo de Castro responde,

atacando a região de Ciudad Rodrigo e de Salamanca.

Para termos uma ideia clara da importância de Castelo Rodrigo, convém avaliar as várias peças

de armas dos dois reinos. Tal como se passava no plano de defesa Português, também a coroa

espanhola, ponderava as necessidades e prioridade das suas praças de armas, junto à

fronteira de Portugal, onde se destacava Ciudad Rodrigo.

A importância desta praça é bem visível no facto de ter justificado a nomeação, para o seu

comando, do duque de Alba, num primeiro momento, e do duque de Ossuna, num segundo.

Só tendo em conta tais factores, será possível fazer justiça ao significado da Batalha de

Castelo Rodrigo (Salgadela), uma entre as cinco grandes batalhas da Restauração, segundo o

conde da Ericeira.

No ano de 1664, o Marquês de Marialva organiza as forças do Alentejo, tendo as forças

portuguesas atacado Valência de Alcântara, rendendo-se muitos lugares. Na Beira, o duque de

Ossuna fortifica-se perto de Aldeia do Bispo, mas na doença temporária do governador de

armas do partido de Almeida, Pedro Jacques de Magalhães, forças vindas de Trás-os-Montes

impedem qualquer avanço. Por sua vez, em Janeiro, Afonso Furtado de Mendonça passa o rio

Tourões com 6000 infantes e 1000 cavalos; não consegue destruir o forte, mas danifica os

campos de Ciudad Rodrigo.

Depois de construído o forte de Aldeia do Bispo, Ossuna destruiu a ponte de Riba Côa, que

facilitava o provimento de Almeida. A ponte é reparada, tendo o governador de armas colocado

no local uma atalaia.

Após a tentativa portuguesa falhada de tomar Sobradilho, já que a artilharia não chegou a

tempo por dificuldades de transposição do Águeda, Ossuna responde com 5000 infantes, 70

cavalos, 9 peças de artilharia, munições e carruagens e a 6 de Julho está sobre Castelo

Rodrigo, que segundo Ericeira era «praça sem mais defesa que uma muralha antiga, porém,

situada em terra defensável», sendo a vila governada pelo mestre-de-campo António Freire

Ferreira Ferrão, com uma guarnição de 150 soldados. Foi valorosa a resistência dos

defensores, mas necessitavam de socorros. Pediram-nos, tendo estes chegado devido à

diligência de Pedro Jacques Magalhães que com 2500 infantes, 500 cavalos e 2 peças de

artilharia, avança em socorro da praça sitiada, sem mantimentos, tendo os soldados que

partilhar o pão que levavam.

No dizer de D. Luís de Meneses, «… Obedeceram os soldados, alegres e valorosos, em todos

os séculos glorioso por esta acção, pois raramente se achará exemplo de igual constância e

sofrimento…». Vindo em socorro, na manhã de 7 de Julho, encontravam-se perto das hostes

castelhanas, já que aproveitaram o silêncio da noite para avançar sem serem notados. Ossuna

atacava a praça, tendo o governador e seus homens resistido. Avança Pedro Jacques,

antecipando-se ao reforço que o exército espanhol esperava do Comissário Geral de Cavalaria

D. João de Robles, que no dia anterior havia chegado a Ciudad Rodrigo com 300 cavalos e

1000 infantes.

Pedro Jacques exorta os seus homens a combater, lembrando os ataques constantes de

Ossuna à província. Manda tocar as trombetas e caixas, som que identificou ao duque de

Ossuna a presença das forças, tomam a artilharia espanhola e desbaratam as suas forças. A

batalha estendeu-se depois nos campos entre o Convento de Santa Maria de Aguiar e a Mata

de Lobos.

 

Pedro Jacques de Magalhães, tendo retirado vitorioso para Almeida, enviava à corte o seu filho

Henrique, de 14 anos, que não obstante a idade, já exercitara o posto de capitão de infantaria.

A corte celebrava a vitória. O jornal Mercúrio Português dedicava ao acontecimento um número

especial ‘… Mercurio Portuguez, com as novas do mez de julho anno 1664. Com a gloriosa &

maravilhosa vietoria, que alcançou Pedro Jacques de Magalhães, Governador das armas do

partido de Almeyda, contra o duque de Ossuna em Castello Rodrigo…’.

Do lado espanhol, D. Guilhermo Toribio conta-nos a retirada do Duque de Ossuna “… acosado

el duque por todas partes, com el ejército em derrota, emprendió la retirada … perseguido de

cerca y hostilizado constantemente…”.

A luta ficava então reduzida a pequenas escaramuças locais até à paz de 13 de Fevereiro de

1668, terminando também o reinado dramático de D. Afonso VI, a quem sucede o regente,

infante D. Pedro, ao serviço de quem estará Pedro Jacques de Magalhães, o chefe vitorioso de

uma grande batalha da restauração, a única que teve lugar na Beira, numa das praças da

fronteira.

No local da Salgadela, ainda hoje existe um Padrão, designado de Padrão de Pedro Jacques de

Magalhães, que foi classificado como Monumento Nacional em 1910. João da Fonseca Tavares

mandou erguer em 1664 no local da batalha, em lembrança da vitória:

A paz entre Portugal e Castela foi finalmente assinada em Madrid a 5 de Janeiro de 1688 e

ratificada em Lisboa a 13 de Fevereiro do mesmo ano. Instalava-se durante alguns tempos,

nova época de paz, num concelho que durante 28 anos havia vivido em constante inquietude,

com muitas povoações incendiadas e duas completamente destruídas, arruinando toda a vida

económica da região, o que levou ao despovoamento.

Sendo uma região de fronteira, importante do ponto de vista militar, o Concelho de Castelo

Rodrigo, viveu sempre em clima de desconfiança face ao exército Espanhol, referências a

muitas surtidas feitas por ambos os lados. As épocas de Paz nunca eram longas.

O início do governo de D. Pedro II em 1667 e com a assinatura da paz com Espanha em 1668,

a vida política interna e externa do país, manteve uma certa estabilidade que só seria

destruída aquando das invasões francesas.

A nível da política externa, assinalou-se a intervenção de Portugal entre 1703 e 1713 na

Guerra da Sucessão de Espanha, ao lado das várias potências europeias, contra a França e a

Espanha. Ficou famosa uma incursão do exército português sob a direção do marquês das

Minas que, em 26 de Junho de 1705, conseguiu entrar em Madrid.

 

Castelo Rodrigo e toda a região estariam de novo envolvidos pelo espectro da guerra. A praça forte de Castelo Rodrigo, traduzindo um clima geral de preocupação, vê aumentada a

guarnição com a chegada de 30 soldados.

Mais tarde, no reinado de D. José, a situação de crispação Internacional voltaria a envolver o

país e em particular as regiões fronteiriças sob o espectro da guerra. Defendeu-se a

neutralidade portuguesa perante a Guerra dos Sete Anos (1756-1763), o que provocou no ano

de 1762 a invasão por tropas espanholas e francesas das regiões fronteiriças, como represália

contra a recusa de D. José em integrar Portugal no «Pacto de Família» dos Bourbons. Segundo

este acordo, o monarca português deveria combater contra a Inglaterra por ser casado com D.

Mariana Vitória, filha de Filipe V, rei de Espanha e da família Bourbon de França.

A França declara guerra a Portugal a 20 de Julho de 1762. Um exército composto por forças

francesas e espanholas entram por Trás-os-Montes a 23 de Julho, estando sobre o Riba Côa a

11 de Agosto. Uma vez mais, as populações sofrem as pilhagens perpetradas pelas forças

invasoras.

Quando em 1789 se dá em França a revolução, assiste-se por parte das monarquias europeias

a uma forte reação. A animosidade do governo português ficou patente no envio de soldados

para se juntarem a tropas inglesas e espanholas na Campanha do Rossilhão contra a França,

que decorreu em 1794.

Sem qualquer vantagem para Portugal, o conflito suscitou mais tarde a reação francesa que,

aliando-se à Espanha, declarou guerra a Portugal a 27 de Fevereiro de 1801. Por três vezes é

invadido Portugal, sendo que a terceira invasão no ano de 1810, chefiada por Messena, entrou

no nosso território pelas terras de Riba Côa.

Milhares de vítimas, culturas e fábricas destruídas, foram os resultados que se fizeram sentir

de forma dramática sobre os habitantes deste concelho e de todos os concelhos vizinhos. A

violência das tropas francesas deixou profundas marcas nas freguesias do concelho.

As invasões francesas constituíram a ultima grande penetração violenta de estrangeiros no

território nacional, deixando contudo profundas recordações, ainda hoje vivas na memória

popular.

Poucos anos depois, Castelo Rodrigo que desde 1209 desempenhou papel fundamental na

região do Riba Côa, vai sofrer rude golpe. A rainha D. Maria II atribuiu o título de vila a

Figueira a 25 de Junho de 1836. A 31 de Dezembro de 1836, por decreto de Passos Manuel, é

extinto o histórico concelho de Castelo Rodrigo, que é substituído pelo de Figueira de Castelo

Rodrigo.

 

No concelho de Figueira de Castelo Rodrigo sempre se tratou e cultivou a terra, não havia campo por mais distante da Freguesia que ele fosse que não desse cereal, não havia as modernas máquinas que há hoje para facilitar o trabalho, mas mesmo assim os figueirenses foram sempre pessoas que nunca cruzaram os braços ao trabalho. Era da agricultura que vinha o sustento de muitas famílias, assim como acontece com a pecuária, sobressaindo nesta, a pastorícia.

Mas, com o passar dos tempos a modernização também chegou à economia figueirense. Figueira de Castelo Rodrigo tem agora um moderno Parque Industrial que oferece uma posição estratégica para laborar e fazer escoar os produtos. A proximidade com Vilar Formoso e com uma das principais portas de entrada com Espanha e com as auto-estradas A25 e A23, que rapidamente nos ligam a todo o país, fazem com que este lugar comece a ser procurado por outros empreendedores. Recentemente a Câmara Municipal levou a cabo a empreitada de construção do “Ninho de Empresas do Conhecimento”, nas antigas casas dos magistrados. Com esta infra-estrutura pretende este Município incentivar os jovens investidores das áreas do conhecimento e novas tecnologias da informação a fixarem-se no concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, é uma verdadeira “janela de oportunidade” para o pequeno investimento, num momento em que o mercado está em crescimento. 

A nível de indústrias, predomina a transformação de granitos, a vitivinicultura, a produção de azeite e amêndoa e os lacticínios. A estas atividades junta-se também o artesanato como suporte às necessidades básicas da população, com os seus mais variados misteres.

 

Agricultura

 

A agricultura está a passar por uma fase crítica, devido à escassez de mão-de-obra. O solo, duro e pedregoso, exige um esforço árduo e pouco compensador, fez com que grande parte da população se visse obrigada a procurar na emigração, e nos grandes centros urbanos, a solução para a melhoria das suas condições de vida.

A propriedade é do tipo de minifúndio, predominando a policultura. É uma agricultura de subsistência e pouco lucrativa. O tipo tradicional, praticava-se à base do trabalho humano, ajudado pelos animais. O arado de pau, com relha de ferro e a charrua eram os mais utilizados. Atualmente, são os tratoristas quem preparam e executam quase todas as tarefas básicas: cavar, lavrar e gradar.

Nas terras mais fundas, semeiam-se os «carrapatos» e o milho. Perto das povoações predominam as hortas. Com terra de boa qualidade, bem estrumada e convenientemente regada com o auxílio de engenhos de vários tipos, onde sobressai o uso da «picota» ou «burro», aí se cultivam as batatas, os feijões, as abóboras e as cebolas, entre outros. Os campos mais afastados, muitos deles já ao abandono, eram destinados ao cultivo do trigo e do centeio. As vinhas e os olivais, para além das árvores de fruto, completam o espólio económico dos lavradores locais.

Na época das sementeiras, depois do arado revolver a terra para a tornar mais fofa e arrancar a erva, dão-se umas voltas com a grade para a alisar e desfazer os torrões. No final, faz-se uma nova passagem com o arado para que as sementes fiquem bem envolvidas na terra. As boas condições climatéricas encarregam-se de as desenvolver, desabrochar e proporcionar ao agricultor o sustento da família e a recompensa do seu árduo trabalho.

Em muitas freguesias é comum o nome de «eiras» para designar o lugar onde, ainda não há muitos anos, se malhava e trilhava o centeio e o trigo. Esse trabalho, atualmente, é feito por modernas máquinas debulhadoras e enfardadeiras.

 

Pastorícia

 

No Verão, os pastores dão grandes caminhadas com o rebanho à procura das pastagens que rareiam. Manhã cedo, quando o Sol se ergue no horizonte, já o redil está vazio e as ovelhas pastam a erva seca que encontra nos prados. Nas horas de maior calor, os animais aproveitam para «acarrar» (descansar), ao abrigo de qualquer sombra protetora. Ao fim da tarde, o rebanho aproveita para uma nova refeição. Dispersando-se pelos prados, sob o olhar vigilante dos cães e do pastor, dirige-se lentamente, para a aldeia, levantando uma nuvem de poeira à sua passagem.

Do «sarrão», feito com pele de chibo ou borrego, o pastor retira a merenda. Aí guarda os utensílios necessários para socorrer os seus animais nalguma aflição.

Das chaminés da aldeia, o fumo eleva-se e dilui-se na penumbra que vai envolvendo o ambiente. O Sol, qual bola de fogo, tinge o firmamento de tonalidades brilhantes sobressaindo os cambiantes dourados e rosáceos.

Os chocalhos tilintam, os cães ladram, pastor assobia, os grilos e os raios enchem noite que se avizinha de sons melodiosos.

O rebanho entra na povoação. No bardo, separam-se para o aprisco as ovelhas que serão ordenhadas. Sentado num banco, com o cântaro entre as pernas, o pastor ajeita a ovelha e inicia o trabalho da ordenha. O leite jorra para a vasilha. Nos meses de Abril e Maio, este leite é aproveitado para se fazerem o queijo delicioso desta região. É, também, a altura de se aliviarem as ovelhas da lã que, durante o Inverno, as protegeu do intenso frio. Vários homens empunhando grandes tesouras de folhas largas, dirigem-se para os animais. Deitando-os no chão, atam-lhes as patas e começam a tosquiá-los pelas pernas, passando de seguida para o lombo e terminando na barriga.

A lã cai em grandes tiras ao lado do animal que, preso pelos possantes braços do tosquiador estrebucha em vão. Colocando um pé sobre a lã, o «atador» levanta-a e torce-a em volta do braço, formando os «novelos». Estes serão guardados na tulha até ao dia em que o comprador os venha procurar.

 

Industrias

 

É, principalmente, na transformação de granitos que está a base de sustento de muitas famílias figueirenses, bem como na construção civil, mas há outras atividades paralelas a estas como é o caso da indústria vitivinícola, que produz os saborosos e afamados vinhos da região e dos laticínios. A dinamização da produção de produtos regionais está tomar um novo fôlego, o aumento de turistas na região faz com que aumente também a procura de produtos regionais para adquirir.

 

FONTE: C.M. Figueira de Castelo Rodrigo