OLHA-SE PARA A SUA MANCHA no mapa e não temos logo a percepção do que iremos encontrar, acabando por transformar a jornada numa peregrinação entre destinos próximos, e que acabamos por ligar de forma aleatória. Entre Coimbra e Aveiro, abrangendo uma ponta do Bussaco, à vista da serra do Caramulo, espraiando-se para oeste quase até Mira, a Bairrada é uma espécie de pentágono grosseiramente traçado, e que a antiga estrada Porto-Lisboa, seguida quase em paralelo pela actual auto-estrada, atravessam longitudinalmente.
É claro que essa travessia viária, ao longo da qual se foram acumulando desordenadamente construções da mais variada índole, não ajudaram a preservar a paisagem. Para encontrar recantos secretos e muito belos é preciso sair dos eixos principais e percorrer as pequenas estradas transversais, passando por localidades onde, ainda assim, as novas técnicas de plantio da vinha emprestaram fisionomias diversas à paisagem. Mas as surpresas não faltam e, com frequência, o encontro com o vinho e a vinha torna se gratificantes. A história da região e das suas relações vinhateiras vem aliás de tempos recuados: perto se situaram mosteiros que cultivaram a vinha, e já o rei fundador, ainda não ia o século XII a meio, dava autorização para o plantio de vinha na zona, com a interessante contrapartida de receber uma parte razoável da produção.
Depois foi sempre a crescer, até que o Marquês de Pombal, não se sabe se desinteressadamente, pôs um pouco cobro ao desaustinado aumento da cultura numa região que seria, em meados do século XIX ,a segunda mais produtiva a seguir ao Douro. A nossa deambulação bairradina, com estas coordenadas em mente, iniciou-se então com uma visita às Caves Aliança, onde o nosso anfitrião foi Fernando Castro, há décadas na casa, e que defende o vinho ligado à gastronomia da região. “Não pretendemos separar o vinho das componentes lúdica e cultural.
A Bairrada entrou na rotina e esteve pouco atenta à mudança no mercado do vinho e no turismo, deixando- se ultrapassar – até na qualidade e na rela o qualidade-preço”. Recentemente, tem vindo a ser feito esforço de recuperação: é necessário rever a maneira de abordar produtos e consumidores. E estas considerações dizem respeito à globalidade do produto bairradino, afirmou o nosso anfitrião: “Finalmente estão a ser revistas as rotas turísticas da Bairrada”. Com um salão de banquetes onde acolhe os visitantes para provas mais substanciais do que as simplesmente vínicas, na sua sede em Sangalhos, a Aliança propicia visitas guiadas às instalações, designadamente as caves onde descansam para cima de dois milhões de garrafas dos seus vinhos “intranquilos”.
Fonte: Blue Wine