A mesa é o centro do mundo. Senhora dona da capacidade de reunir à sua volta amigos, inimigos, conhecidos, desconhecidos, familiares e toda a humanidade. Homens, mulheres e crianças. Ajuda a resolver conflitos mas também os criá-los. É a cama de acesas discussões, o campo de batalha para a resolução de diferenças, o pasto, a calvário, a montanha e o território.
Conto de fadas mas também sanatório.
Seja quadrada, redonda, oval, retangular de pouco importa porque fundamental é quem se senta à sua volta. Às vezes derramamos nela a diplomacia com ameaças e avisos de um murro.
Local misterioso, místico e sedutor. Pedaço de céu onde o calor de uma refeição aquece qualquer coração partido. É a mesa. Área de reuniões e banquetes, de jogos e cartadas. Descanso de mãos cansadas e oficina das almas derrotadas.
Há sempre mais uma cadeira.
Chego, cumprimento os presentes e tomo o meu lugar. Assim é a mesa. Sempre disposta a albergar mais um que venha por bem. A defender contra o temporal, contra a pandemia e as dificuldades. Contra tudo aquilo que ameaça o futuro porque à mesa conversa-se sobre o passado mas sobretudo sobre aquilo que vem depois. Projeta-se. Resiste-se. Insiste-se e debate-se até ao capítulo final. Cultiva-se a cultura, a teimosia e os caprichos do universo. A loucura de um amigo que é diferente na cumplicidade que se sente ao ouvir um desabafo.
Um porto seguro.
Uma lágrima que cai, um sorriso que se levanta, uma farta gargalhada. A vida inteira num instante sentado. Um momento descansado. Um cozido à portuguesa, feijoada à transmontana ou peixe grelhado. Vinho espalhado pelos copos, conversas cruzadas e boa disposição. A sensação de que algo vai mudar mesmo que não mude nada, a mesa tanto abre a estrada como faz tudo ficar no mundo dos sonhos.
E nada enche mais um coração que ouvir em coro a mesa inteira dizer: “Não vás já embora e fica mais um pouco, ainda há tanto vinho para beber”.
Alguém que reclama a nossa presença e nos faz perceber o quanto somos insubstituíveis.
A vontade de ficar, a obrigação de partir e o desejo de voltar rapidamente. O vinho que foi partilhado, os brindes, a confraternização, a discussão, a simplicidade, a honestidade e a verdade. As tréguas e a paz.
Partimos carregados de saudade com a vontade de voltarmos onde fomos felizes, ali, à mesa. Seja aquela ou outra qualquer.
#tristaodeandrade