No dia 26 e 27 de Fevereiro estivemos a oportunidade de estar no estádio do Algarve para participar no Algarve Trade Experience a convite da Garrafeira Soares, entidade responsável pela organização do evento. Esta 10ª edição contou com alguns dos produtores mais conceituados do país tendo sido uma excelente oportunidade para os apreciadores do elixir do deus baco provarem vários vinhos de diversos produtores num único local.
Começando pelo primeiro dia, tivemos uma prova especial com Daniel Niepoort, o futuro da casa Niepoort, que nos revelou que pretende continuar o legado deixado pelo seu avó (Rolf Niepoort) e pelo seu pai (Dirk Niepoort) nomeadamente mantendo a consistência dos seus vinhos, respeitando a história e garantindo a sua autenticidade. Durante a nossa conversa fiquei com uma certeza, Daniel Niepoort é um tipo genuinamente apaixonado pelo mundo dos vinhos, um purista, um homem da terra que adora estar junto das suas vinhas, das suas pessoas, a trabalhar no seu próximo vinho. Da vasta gama de vinhos que provei decidi destacar o vinho do Porto Niepoort 20 year Old Tawny, um Porto incrível com aromas fabulosos de frutas cristalizadas e damascos secos que transparecem no palato, juntamente com um caráter alcoólico suave e bem integrado no final.
Na prova seguinte falámos com Filipa Tomaz de Costa, uma das primeiras enólogas em Portugal e aquela que mais tempo permanece em exercício na função. Sendo a responsável pelos vinhos Bacalhôa na região Setúbal revelou-nos que nos anos 80 teve a felicidade conviver com Thomas Scoville e com o Engº António d’Avillez que lhe deram a oportunidade de se lançar no mundo dos vinhos e que a ajudaram imenso no desenvolvimento da sua função. Nesta prova destacamos o Quinta da Bacalhôa Centenarium Tinto 2015, um tinto com as castas Cabernet Sauvignon, Merlot, Petit Verdot, que lhe conferem notas ligeiramente apimentadas, um toque suave a vegetal e alguma fruta silvestre tornado este vinho muito elegante, fresco e com boa profundidade de aroma.
No final deste dia fomos convidados para um jantar de apresentação de vinhos da Malhadinha Nova, Teixinha e do Convento do Paraiso, no Palácio Gama Lobo em Loulé. O palácio que foi recuperado e inaugurado pela Câmara Municipal de Loulé a 1 de Junho de 2019 sendo hoje a sede do Loulé Criativo onde se realiza exposições e criação de artesanato com artesãos daquele município.
Neste evento estiveram presentes várias figuras importantes da politica e do tecido empresarial do Algarve com destaque para a presença da família Soares proprietária da Garrafeira Soares e dos produtores em exposição, dos presidentes da câmara de Faro, Loulé entre outros ilustres convidados.
Durante este jantar foram apresentados vinhos de uma qualidade assinalável sendo que para o Clube de Vinhos Portugueses a estrela da noite foi o fabuloso Vinho Tinto Teixinha Field Blend 2021 que nos foi apresentado pela Renata Villena, Brand Builder da Herdade da Malhadinha Nova. Este vinho é um sério candidato a ser um dos melhores vinhos produzidos em 2021, esta primeira edição estagiou catorze meses em barricas de carvalho francês que lhe confere notas de tosta muito subtis, feito através das castas Aragonês, Alicante Bouschet, Trincadeira é um vinho elegante, com taninos sedosos, com corpo, que apesar dos seus 15 graus, se bebe tranquilamente revelando até alguma evolução no copo.
Passando para o segundo dia, começámos com a prova da Adega Cartuxa, uma das principais marcas da Fundação Eugénio de Almeida liderada pelo enólogo João Baptista desde 1997. Nesta prova estava presente um grande vinho, o Cartuxa Reserva Tinto 2017, tendo já sido eleito como o melhor vinho tinto do Alentejo deste ano, era fundamental saber qual a sua longevidade e qual o seu posicionamento para os investidores/colecionadores de vinho. Segundo João Baptista, o tempo de guarda expectável para este Cartuxa é de cerca 30 anos sendo que o seu potencial máximo provavelmente será a meio desse período, relativamente à evolução do preço deste vinho obviamente que está relacionado com a relação entre a procura e a oferta do mesmo mas aos dias de hoje ainda se pode adquirir nas garrafeiras por um preço médio de 45 euros.
Já alguma vez ouviu falar do senhor Alvarinho? Então já sabe a quem me refiro, Anselmo Mendes pois claro. Este produtor é provavelmente o enólogo mais inovador da região dos Vinhos Verdes tendo sido o primeiro a amadurecer a casta Alvarinho em barricas de carvalho francês. Nesta prova fiquei impressionado com a gama Parcela Única produzida por este “feiticeiro” da zona dos vinhos verdes. Provamos desde os anos 2011 até aos 2021 e posso-vos dizer que foi muito difícil escolher aquele que mais se destacava. Vou ter de destacar o Parcela Única 2015, um vinho de sabor intenso, notas de maça verde, laranja confitada, bom nível de acidez e dar uma menção honrosa ao Parcela Única 2011 que se revelou um vinho com um sabor diferente mas para bom, notas de toranja, caramelo salgado ainda com uma boa acidez, que nos mete a pensar como é que é possível este vinho branco feito da casta Alvarinho ter 10 anos e estar tão bom. Talvez o mito de que os “vinhos verdes” se devem beber num curto espaço de tempo tenha sido destruído por este Parcela Única 2011.
Para fechar o ciclo de provas especiais deste evento contámos com o enólogo Antonio Maçanita. Um produtor que dispensa apresentações que colaborou em diversos projectos vínicos pelo mundo inteiro. Nesta prova bastante concorrida, sob o tema “As Ilhas Portuguesas” infelizmente por motivos alheios à minha vontade não consegui ter o privilegio de estar presente, no entanto, no final da apresentação consegui sentar-me com ele para falarmos um pouco. De uma simpatia e conhecimento vínico assinalável António Maçanita explica-nos a razão pela sua obsessão em recuperar as castas autóctones quase extintas, ele afirma que essa obsessão é um aplauso à teimosia, é a sua contribuição para reconciliar a história e a memória colectiva. Ele fala-nos da importância de se estar a investir mais no sector dos vinhos em Portugal e consequência disso é já começarmos a ter uma representação nacional mais significativa nas principais e mais importantes lojas de vinho mundiais como na Astor Wines & Spirits em Nova Iorque onde já encontramos à venda garrafas de alguns produtores Portugueses. Neste momento o mercado Americano representa 85% da sua exportação tendo produzido o ano passado cerca de 600 mil garrafas.
Durante este evento, decidimos que queríamos encontrar um produtor que não fosse tão conhecido do público geral para lhe dar destaque aqui neste artigo. Fomos de balcão em balcão à procura desse unicórnio e encontramos um que achamos ter vinhos manifestamente interessantes, com castas diferentes, e que merecem ter aqui um destaque.
E o Produtor escolhido foi … A Serenada. Conhece?
Jacinta Sobral da Silva, farmacêutica e enóloga, foi a cara que encontramos no balcão da A Serenada, um produtor que se localiza a 10 Km da Costa Alentejana na Serra de Grândola, a 150 m de altitude, que tem 7 ha de vinha plantada geridas por agricultura sustentável e produção integrada. O que nos chamou mais à atenção deste produtor foi a quantidade de monocastas do seu portfólio, são 5 monocastas de Verdelho, Gouveio, Touriga Nacional, Jaen e Ramisco. Tivemos a oportunidade de provar todos, sendo na sua maioria vinhos bastante interessantes, mas temos de destacar o vinho A Serenada Ramisco Tinto 2020, produzido a partir da casta Ramisco, estagiou em barricas de carvalho francês por 6 meses, exibindo uma cor aberta e aromas de frutos silvestres com subtis notas a especiarias. Na boca, revela um perfil frutado com uma pitada de pimenta branca, conjugando perfeitamente os taninos com a frescura notável, culminando num final longo e salino.
Gostaria de terminar este artigo dando nota da importância de um evento desta natureza se realizar na região do Algarve, um agradecimento especial à Rita, João e Paulo Soares da Garrafeira Soares pelo convite e pelo atrevimento em realizar um evento desta magnitude.