A minha profissão oferece-me o privilégio de viajar e conhecer o país, nesse exercício de exploração conheço gentes, almas e corações. As regiões portuguesas são diferentes e as suas pessoas também, em cada localidade há uma virtude humana única, uma força, cada região tem em si algo único e os Açores são para mim, as ilhas das pessoas que têm gente dentro.
As ilhas da simplicidade e humanidade compartilhada.
Já me apaixonei muitas vezes por diferentes zonas nos Açores, assumo este meu poliamor de arquipélago, e na verdade não há ilha de onde não traga em mim um amigo, uma memória e uma relação que perdura.
E assim cheguei à Terceira, onde mais uma vez caí de amores. Das paisagens exuberantes, vaidosas e inesquecíveis às visitas pelas vinhas e vinhos nos Biscoitos, tudo contribuiu para o início desta simbiose já previsível.
Em nome do Clube de Vinhos Portugueses tive o privilégio de conhecer três casas de gente do vinho e da vinha, três histórias e caminhos distintos, três formas bonitas de estar para o vinho, para os Açores e sobretudo pela elevação da zona dos biscoitos. Biscoitos, o nome levou-me logo para coisa doce e apesar do nome ser dado a um doce tradicional nos Açores feito com especiarias é também o nome dado a esta terra queimada nascida dos vulcões. Numa ilha vulcânica, o terreno excluído, não fértil, é pedra e foi com a pedra que se ergueram os muros que mantêm a vida na vinha, formando as chamadas pequenas “curraletas” que garantem o necessário abrigo às videiras do vento e da ressalga, este aconchego junto à lava permite reter a energia solar, otimizando a maturação da uva.
Esta é a cultura da vinha nos Biscoitos uma história que só é possível graças à resiliência e persistência no potenciar dos recursos da natureza. Nos Biscoitos, vive-se a vaidade individual da vinha e da adega e o orgulho da produção própria, desde o século XVI que se produz vinho de Verdelho nesta zona, é talvez por isso que a sua continuidade se sente como dever cívico.
Há despretensiosíssimo na hora da prova, o processo é apresentado com a normalidade de quem está habituadíssimo a trabalhar na adversidade e no desafio, o vinho é tratado com respeito, mas importante é mesmo a criação de uma ligação com quem se está a beber.
Fazer vinho nos biscoitos é uma narrativa de resistência e amor.
Agradecimento:
À querida Madalena da Materramenta dos biscoitos, pela hospitalidade, simpatia, generosidade e humanidade partilhada. À D. Maria de Lurdes Brum, da Casa Agricola Brum, pela sua delicadeza e doçura que está taco a taco com os vinhos licorosos que produzem. Ao Cecílio Faustino da Adega Cooperativa dos Biscoitos, pelas gargalhadas, palavras francas, pelo entusiasmo e paixão com que promove a sua ilha e a sua Cooperativa. E uma palavra de agradecimento e reconhecimento à Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos.
Esta lady and red provou os brancos magníficos e proclamou-os tesouros, tal como os viticultores dos biscoitos que se alimentam a teimosia, paixão e espírito de de missão.