Vila Alva! Estão de Parabéns toda a Organização do Vinho na Vila que permite a muitos comuns mortais durante umas horas disfrutarem de tradição, cultura e gastronomia em volta do Vinho de Talha que Portugal recebeu de “herança” dos romanos que povoaram os nossos actuais territórios, e assim podemos concluir que este novo evento Vinho na Vila uma jornada pelas raízes do Vinho de Talha.
O Vinho de Talha: Uma Tradição Milenar
Os romanos introduziram o método de produção de vinho de talha há mais de dois mil anos, como já abordámos aqui no portal, estamos perante uma tecnologia de vinificação com milhares de anos. Hoje, os alentejanos são os verdadeiros guardiões dessa técnica ancestral, as castas Antão Vaz, Roupeiro, Manteúdo, Perrum, Diagalves e Larião são cultivadas em vinhas centenárias, autênticos tesouros vivos que resistiram ao tempo e à modernização.
No ano de 2023 realizou-se a primeira edição do Vinho na Vila e no passado dia 11 de maio, no coração do Alentejo, entre colinas douradas e campos de oliveiras, encontra-se uma aldeia pitoresca chamada Vila Alva “a mais branca de Portugal”, onde a convite fomos desafiados a visitar no último sábado, e tivemos a oportunidade de explorar as suas ruas estreitas, decoradas a rigor e assim mergulhar numa tradição milenar, que envolve o vinho de talha, amor, tradição, cultura e claro gastronomia. Além de Vinho de Talha, não falta o acolhimento simpático, o conhecimento, os cantares alentejanos, os petiscos e Vinho de 35 produtores com 250 Vinhos em prova.
O “Vinho na Vila”
Ao chegarmos de manhã a Vila Alva, somos recebidos recebidos por uma aldeia inteira e 35 produtores, alguns destes são locais mas neste evento são de todo o “mundo” e de norte a sul de Portugal marcam aqui presença, distribuídos por 13 adegas locais, depois em cada adega, encontramos uma janela para o passado, onde se abrigam histórias e segredos transmitidos de geração em geração, e neste evento “Vinho na Vila” é também uma ocasião de celebração, e portanto uma experiência única a partir do momento que nos permite entrar nas casas dos residentes e ao compartilhar a paixão pelo vinho de talha, bebemos história, conhecimento, cultura e muita paixão. Mas não se bebe apenas Vinho de Talha, ou somente Vinhos Alentejanos, é também uma oportunidade para provar vinhos do Douro, Dão, Beira, Lisboa, etc.
Nesta visita ao Vinho na Vila em Vila Alva encontrámos e provamos alguns vinhos, conhecemos projectos e pessoas locais e de outras localidades, e no fundo recomendamos a todos, pelo menos uma vez na vida fazer esta experiência.
Em 13 adegas temos o Portugal vínico quase todo representado, em mais de três dezenas de produtores e 250 Vinhos, tivemos oportunidade em mais de uma dezena de paragens conhecer e provar alguns, por exemplo na Adega do Guel estivemos em contacto desde Setúbal com o produtor Horácio Simões, ao Douro onde tivemos oportunidade de provar um pouco do produtor Alto da Serra que tem como lema proteger, regenerar, reciclar, aprender e desenvolver e de facto com uma rotulagem interessante proporcionou uma prova que apreciámos. Depois fomos entre outras à Adega do Figueira, e nesta encontrámos da Região do Alentejo a Herdade do Rocim, o produtor Amoreira da Torre, e o produtor Courelas da Torre com os seus Vinhos naturais e Vinhos biológicos com certificação orgânica, e que são produzidos desde 2013 pela família no Redondo, e da serrana região do Dão tivemos contacto com um projecto original Ladidadi wines.
Mas o dia começou ainda antes do almoço e a primeira adega visitada foi a Adega do Mestre Daniel cujo o nosso membro presente já conhecia de visita à Vila Alva em anos anteriores com os seus Vinhos de Talha XXVI TALHAS, e nesta adega encontrou-se também o icónico produtor da Região de Lisboa e do TEJO, com uma proposta de Vinho muito assente numa tónica de permitir ao consumidor uma experiência de descomplicar o consumo e o prazer de beber Vinho, o irreverente Hugo Mendes.
Durante a tarde de sábado registamos a paixão de Alexandre Frade e a sua marca Talha de Frades que encontramos na Adega Manuel Fernando, onde provámos vinhos excepcionais com a Francisca Batalha Reis, desde os Vinhos brancos Millennial 2022, o exuberante e extraordinariamente diferenciador e original branco Castas Antigas 2019, depois finalizámos esta prova com o tinto 1X1 2018 e o tinto N.º 3 de 2017, este último tornou-se numa soberba experiência, porque são vinhos com forte personalidade, além de que, desmitifica-se assim, que os vinhos de talha não tem que ser bebidos com urgência, eliminando um mito que estes Vinhos não podem ser vinhos com vida útil. Ficámos curiosos em provar estes Vinhos com comida e perceber o potencial de maridagem destes Vinhos de Talha.
Outra história de paixão que partilhamos hoje neste artigo foi a que conhecemos na Adega do Zé Inácio um produtor francês e um português, este último personalizado pelo João e seu pai José Vieira com o projecto Adega Cananó Wines situado no Cabeção com uma história muito própria da produção de Vinho de Talha e o Encosta do Pinhal também do Cabeção muito bem representados pelos franceses Anne-Marie e Laurent Hallez e que ambos os casos fazem parte da Confraria de Vinhos de Talha de Cabeção constituída em 2023 com objectivo de assegurar técnicas ancestrais e uma produção de Vinho de Talha de barro no concelho de Mora com características únicas devido ao terroir e as castas utilizadas, destacando-se o castelão nos tintos e nos brancos Fernão Pires. Ao provar os vinhos concluímos estar perante vinhos genuínos e interessantes, além de se demonstrar que o mundo dos Vinhos de Talha reserva-nos igualmente a surpresas e demonstra-se que é um universo diversificado mais vasto do que se pode presumir.
Continuando pela Vila Alva podemos encontrar no Vinho na Vila outros produtores de diferentes regiões, como exemplo do Dão o Quinta da Ramalhosa, da Beira interior o produtor Gardunha Sul, a partir de Região de Lisboa um casal de enólogos representa a Curativinhos com uma proposta de Vinho muito própria, assim como o produtor Quinta do Monte d’Oiro, Quinta do Piloto, e adega familiar Vinhos Desviso, da Região dos Vinhos Verdes o produtor Poema, da Região da Península de Setúbal a FR Wines e A Serenada, ainda da Região do Alentejo o produtor NATUS, A Quinta da Pigarça, Honrado Vineyards, A Adega Coop. de Vidigueira, Cuba e Alvito com muita oferta de Vinhos e também Vinhos de Talha, o produtor MAQUETE, com menos tempo de existência o produtor MAINOVA, além do produtor Gerações da Talha, o projeto LEGADO DE TALHAS, e ainda de várias regiões destacou-se o projecto e produtor Artisan Terroir um projecto que visa na sua proposta de Vinho muito o tema família, e o produtor 1000 curvas, projecto de Rodrigo Soares e Pedro Mota com Vinhos na região dos Vinhos Verdes, Douro, assim como o produtor João M Barbosa Vinhos.
A calcorrear as ruas da Vila Alva e disfrutando dos petiscos diversos à disposição de quem visita o evento Vinho na Vila, passamos pela Adega do Bezerrão e com Eng. Gilberto Marques estivemos a conhecer o produtor Cas’Amaro da região de Lisboa, os Vinhos de Joaquim Arnaud que são sempre um privilégio continuar a apreciar os Vinhos deste produtor de Pavia (Alentejo) que marca pela originalidade a forma como “pinta” e afina os Vinhos com a sua criatividade e originalidade em diversos tipos e regiões, e em seguida estivemos a ver ao vivo a pezga de talhas, uma técnica com muitos anos de tradição que resume a arte de trabalhar o barro em especial as talhas em diversos formatos.
XXVI Talhas: O Templo do Vinho de Talha
Uma das adegas mais emblemáticas de Vila Alva é a XXVI Talhas, onde se percebe que se dedicam a preservar essa tradição, honrando os métodos antigos e as uvas autóctones e não é por acaso este evento contar com elementos deste projecto na organização, e cada garrafa é uma cápsula do tempo, contendo séculos de história e amor pelo vinho.
Aqui chegados, Vila Alva pode ser considerada uma das “Mecas” do vinho de talha, e o evento “Vinho da Vila” é uma oportunidade única de lembrar que o vinho não é apenas uma bebida, mas uma celebração da cultura, da tradição, histórias, amor, património e um legado da comunidade alentejana. Se ainda não visitou esta aldeia encantadora, faça-o pelo menos uma vez na vida. Permita-se viajar no tempo, degustando o passado em cada taça, conheça o presente e esperemos que seja o futuro, pois estamos mais tranquilos com o que vimos nesta 2.ª edição do Vinho na Vila e aproveitamos por fim, dar os parabéns à organização nas pessoas encantadoras e sempre disponíveis de t-shirt amarela que faziam parte do staff, atendiam os visitantes e auxiliavam os produtores presentes no evento.