Numa tarde soalheira em Lisboa tivemos o prazer de conhecer Micael Batista, um jovem produtor de vinho que em conjunto com a enóloga Patricia Santos lançaram a gama Ramalhosa e Quinta da Ramalhosa.
Para quem não conhece a Quinta da Ramalhosa esta localiza-se na região de Tondela, sub-região de Besteiros, no Dão. Paulo Batista, pai de Micael Batista e produtor agrícola já de longa data, herdou do seu pai, Adriano, a Quinta da Ramalhosa, onde em tempos foram plantadas vinhas para, como era tradição na região, fazer vinho em garrafão para consumir e partilhar com os amigos. Eram assim os vinhos do Dão naquele tempo. Para dar continuidade a este trabalho, Paulo quis fazer vinho a partir destas vinhas que já tinham idade para contar histórias, e nas quais continua a desenvolver todo o trabalho de viticultura. Fez vinho para consumo próprio e venda a amigos, até que chegou uma altura em que equacionou diminuir a produção e talvez arrancar parte das vinhas. Estávamos a viver a crise iniciada em 2008.
Em 2012, o seu filho, Micael Batista, com apenas 14 anos, decidiu seguir a área de trabalho família, a agricultura que pais e avós desenvolveram desde sempre, e foi para Montemor-o-Velho tirar um curso de Técnico de Produção Agrária. Foi lá que aprendeu mais sobre a terra e os seus frutos, e desenvolveu o seu trabalho final sobre cerveja artesanal, que lhe valeu dois prémios no concurso da escola – um primeiro lugar a nível regional e um segundo no distrito de Coimbra -, o que não só despertou nele o lado empreendedor, como o fez decidir assumir e investir no projeto de vinho da Quinta da Ramalhosa, com uma visão muito focada em produzir vinhos de grande qualidade, com um posicionamento muito bem definido.
E em 2015, aos 17 anos, Micael faz o seu primeiro vinho, que chegaria ao mercado como Quinta da Ramalhosa Field Blend tinto 2015.
Em 2017, ano em que a tragédia dos incêndios bateu à porta e assolou a família com a destruição do trabalho de uma vida, Micael conhece a enóloga Patrícia Santos, com quem começou a trabalhar no início desse ano, na estruturação da empresa e da produção, tomando as rédeas de um projeto familiar que estava então a renascer das cinzas. No ano seguinte, em 2018, a enóloga participa no engarrafamento da colheita de 2015,
por ter considerado ser um vinho com grande potencial. Mas é 2017 o ano que marca o início do projeto, e também o ano em que é feita a primeira vindima – 2ha de vinha – já com a colaboração de Patrícia Santos.
Seguiu-se a plantação de mais 4ha de vinha, com o objetivo de replicar as vinhas existentes, que contam com mais de 40 anos, para que se possa vir a dar continuidade ao projeto com esta mesma essência. Em 2021, a área de vinha plantada chegará a cerca de 7 a 8ha. Com as novas vinhas, a produção irá chegar às 40.000 garrafas anuais, todas elas rotuladas com inspiração na essência desta área e nos elementos que a constituem: as sarapilheiras utilizadas nas apanhas agrícolas, que simbolizam a dedicação de uma família às suas terras.
As vinhas velhas do Dão, tipicamente, caracterizavam-se – antes dos anos 70 – por uma mistura de castas brancas e tintas, em que a uva branca conferia alguma acidez e contribuía para a tonalidade final dos tintos que ali se produziam. Hoje as uvas brancas são colhidas antes das tintas, mas permanece a vontade de recriar o vinho que o avô fazia no lagar de pedra por baixo de casa – onde ainda hoje vive a avó de Micael – e assim homenagear o patriarca da família. Nesse sentido, e cumprindo esse desejo, além dos field blends, que fazem parte do ADN da marca, e caracterizam a filosofia do projeto. Foi em 2019 que se lançou o primeiro palhete DOC Dão (hoje temos o 2021 no mercado, e o 2022 está prontos para lançar), um vinho que conta com 15% de uva branca. Por tradição da região, e por convicção, Micael é apologista de blends, por considerar que a mistura traz ao vinho um valor agregado e confere características peculiares que as monocastas não têm.
Micael Batista vê o potencial da região do Dão e a oportunidade de mercado com as apenas 10 castas utilizadas para a produção vinícola. Com base nisto, será desenvolvido um trabalho dedicado às castas do Dão – com início de plantação prevista para agosto de 2021 -, que esperam que venha a funcionar como uma espécie de laboratório para estudo das castas, e para mostrar ao mundo o que se fazia no Dão. Para esta análise serão utilizadas as castas Cerceal, Uva Cão, Terrantez, Tinto Cão, Alvarelhão, Marufo e Camarate. O objetivo é desenvolver um campo de ensaio para o Centro de Estudos Vitivinícolas do Dão. Esta pesquisa servirá também para recolher informação sobre as castas antigas, compreender o motivo pelo qual algumas foram sendo abandonadas, e descobrir se algumas delas revelam potencial para microvinificações, no sentido da produção de vinhos monovarietais, ou se se confirma serem os blends o “destino” da região.
E quais as gamas disponíveis?
Assim, e com a chegada de novas referências este ano, foi decidido dividir a oferta deste produtor em duas gamas distintas: Ramalhosa e a Quinta da Ramalhosa.
A Ramalhosa está focada num estilo mais jovem, fácil e com maior capacidade de produção, logo mais escalável. Nasce com o objetivo de ajudar na expansão da marca, olhando essencialmente para dois grandes mercados em crescimento, o dos jovens que estão a iniciar a sua relação com o mundo do vinho, e o dos vinhos com menos álcool e menos extração, uma tendência mundial também muito alinhada com as preocupações ambientais.
Estes vinhos assentam muito em intervenções manuais na vinha, evitando significativamente a utilização de produtos fitossanitários, sendo que se tenta que as intervenções sejam maioritariamente em ações de prevenção e não de tratamento. Esta gama integra as seguintes referências: Ramalhosa Field Blend Tinto, Ramalhosa Field Blend Branco, Ramalhosa Encruzado e Ramalhosa Touriga Nacional.
Na gama Quinta da Ramalhosa queremos manter tudo o que de clássico a região do Dão oferece, como a elegância e frescura, evidenciando o equilíbrio natural da região. Temos aqui os nossos topos de gama, e nesta gama o vinho espera em garrafa o tempo necessário até ir para o mercado. Utilizamos vinhas velhas com mais de 50 anos, e algumas vinhas novas, com castas estrategicamente plantadas, que acreditamos podem ser o futuro da região. A ideia passa por fazer grandes vinhos, como são já o Quinta da Ramalhosa Palhete, Quinta da Ramalhosa Touriga/Alfrocheiro e os Quinta da Ramalhosa Vinhas Velhas Branco e Tinto.
A conjugação disto tudo é a Quinta da Ramalhosa Wines, um projeto familiar de grande ligação à terra, com apanha manual e de mínima intervenção. Por altura da vindima, juntam-se sempre amigos e vizinhos, que participam nas várias fases do processo, numa entreajuda natural, que ali se pratica em modo de convívio.
Vinhos disponíveis e seus PVPs:
- Ramalhosa Field Blend (branco e tinto): 10€
- Ramalhosa Monovarietais: 16€
- Quinta da Ramalhosa Touriga/Alfrocheiro: 30€
- Quinta da Ramalhosa Palhete: 30€
- Quinta da Ramalhosa Vinhas Velhas (branco e tinto): 60€