Setembro carrega a nostalgia aos ombros. Os dias cinzentos, a chuva que tomba entre o negrume das manhãs e o vento que bate a anunciar a chegada da mudança.
As rotinas que regressam mesmo em ano de pandemia, a escola dos miúdos, o trânsito e as promessas. A expectativa de um mundo melhor que foi pensado na espreguiçadeira da praia e as forças retemperadas que conseguimos nos dias de descanso.
Recordações das férias
Trouxemos o compromisso de fazermos mais e melhor, de vivermos com mais intensidade e mais qualidade. Nós a declararmos que tudo aquilo que idealizámos no verão será para levar a cabo no Outono. As viagens que pensámos fazer há mais de 10 anos, as visitas, os encontros de amigos e os momentos de família. O tempo que prometemos não deixar passar e asseguramos conseguir agarrar com as nossas próprias mãos. As garrafas RESERVA que amontoamos para períodos especiais que afinal nunca chegam e agora estamos decididos a saborear. A fazer saltar a rolha pelo simples facto de estarmos vivos.
Aproveitar o “já” e deixar o depois para mais tarde, para esse futuro que pode até nem chegar.
Viver a natural sucessão do dia e da noite, do tempo e de todo o universo. A paz, a calma e a certeza do caminho.
Assim é o mundo e assim somos nós, idealistas. Autores de um plano traçado na tal espreguiçadeira.
O nosso espírito é por natureza agitado, rebelde e provocador. Preguiçoso também. Apressado em viver uma vida como se o destino fosse a causa maior. Alma inquieta e curiosa.
Às vezes só e apenas a promessa de uma boa colheita e depois na hora da verdade não passamos de um questionável resultado.
Somos o mistério da subjetividade que se esconde atrás de uma rolha e cuja verdade se revela ao abrir da garrafa, vinho que só se conhece a qualidade depois de bebido. Somos assim sem nunca percebermos onde acaba o verão e começa o outono.
Às vezes conseguimos mas quase sempre falhamos. Às vezes prometemos abrir a tal garrafa mas poucas vezes temos a valentia para o fazer ou quase nunca a coragem de mudar.
#tristaodeandrade