Cheira a natal. O ano corre apressadamente para o seu final e no comércio já se vislumbram sinais da época natalícia. Dentro de alguns dias as famílias e os amigos começarão em redobrados e cuidadosos contatos para agendarem encontros, almoços e jantares.
Sim, é verdade, este será um ano absolutamente atípico por vivermos um período de pandemia mas português que é português não deixará de comemorar e festejar seja física ou virtualmente. Vai fazer a festa e chamar o bacalhau, o polvo, o cabrito e todos os milhares de doces e sobremesas. As entradas, o pão, o azeite e o vinho. Transformará a noite mais longa do ano num momento de renovação de forças para o que virá lá para a frente.
É o Natal.
E o vinho?
Não é fácil convidar o melhor para a nossa mesa numa noite como esta.
– O que beber? – perguntará qualquer um de nós
– O que souber bem e melhor. – dirá o espirito secreto que habita no nosso imaginário, a voz que responde a tudo.
Lá teremos a difícil missão de encararmos as prateleiras de vinhos e iniciarmos a aventura. Enfrentar a dúvida de apostar no cavalo com palmarés, e comprar aquele vinho que já conhecemos, ou explorar o desconhecido?
Arriscar e meter à prova a maturidade do paladar?
Recorrer à leitura e aceitar propostas dos especialistas?
Sempre a mesma questão para quem navega naqueles corredores como batata frita na maionese.
Árduas questões que habitam o nosso espirito por estes dias.
Neste período fico sempre surpreendido com a quantidade de ementas natalícias que encontramos no nosso pequeno território. De norte a sul, com diferença de poucos quilómetros, vamos saboreando pratos distintos que constituem a oferta para a noite da consoada. Mudam as iguarias e mudam as preferências vinícolas mas os critérios de sabor e qualidade são sempre os melhores. Os mais exigentes. Tudo isto é valor e cultura, tudo isto é tradição que sustenta um povo que conhece bem o seu rumo mesmo que às vezes se sinta perdido.
Não existe no mundo um natal mais rico e diversificado regado com o melhor que as vinhas nos conseguem proporcionar.
Abre-se o apetite para os dias que estão para chegar, a vontade de acreditar que melhores tempos virão e os céus darão ao homem o presente da cura, o final da pandemia, o reencontro, a proximidade física e social.
Somos seres de afetos emocionais mas também de toques. Haverá natal sem um abraço? Talvez este ano seja desta maneira, talvez este ano os copos não se cheguem a tocar no brinde anual. Talvez este seja o teste que precisamos passar para, com distinção, merecermos voltar a estar juntos com o respeito e a paz que garantirá o que vem lá para a frente.
Resta-nos a esperança e o futuro. Fica-nos o Natal com as nossas escolhas. E quais serão? Com certeza uma delas é o vinho certo.
#tristaodeandrade