O Natal está a chegar e com ele toda uma época carregada de simbolismo. A festa da família, o momento religioso, a cultura e o vinho. O vinho que se prepara para ocupar as mesas, as mesas que se preenchem de pratos, copos e almas. Almas que se invadem de paz e amor com as famílias reunidas. Assim é por norma um Natal comum e assim não será este ano.
2020 um ano de colheita de homens fortes.
A estrada está difícil, o caminho tortuoso e sobrecarregado de adversidades. A vida é ameaçada por uma maldita pandemia e a economia está a ser atacada pela impossibilidade da vida comum mas sobretudo pelo medo. Medo do que vem depois, receio de um futuro que se avizinha negro e incerto. Medo de quem está no rebanho e medo de quem manda.
Vemos empresas a fecharem as portas, famílias a entrarem em rotura e um longo inverno à nossa frente. Desafios nunca lançados à geração atual. E como lutar contra este novo normal? Com a resiliência e a força dos nossos antepassados. Com a energia dos nossos braços que mesmo quando cansados nunca se devem deixar derrotar.
Porque na vida a opção nunca é parar.
É seguir em frente, é ter em mente o dia de sol que nos está prometido. É correr no sentido da vitória, da glória que o futuro nos trará. De sermos a memória de quem viverá graças à nossa luta.
E o vinho?
Onde fica o vinho neste campo de batalha? Ao nosso lado? Ali num copo parado pronto a ser bebido? Ou nas caves guardado para ser consumido em noites de festa?
O vinho que nos dá a força dos deuses, a loucura dos demónios e a bravura dos guerreiros lusitanos. O vinho que nos entrega a coragem que os homens fracos não conseguem ter. Vinho que se deixa beber como o elixir da longa vida.
E o que fica depois?
Dizem os pensadores que depois virá a bonança, a esperança e a nova colheita. Novos sabores, paladares e experiências. Que resistem os mais fortes e saudáveis. A escolha natural da lei da vida, a seleção do universo. Tempos difíceis que se propõem a separar o Trigo do Joio. Aqueles que ficam pelo caminho e os outros que seguem em frente.
Esperança no vinho.
Nesta época de grande agitação, de incomparável sensação de impotência, de demência e total insegurança resta-nos a perseverança de existir. De seguir à procura do melhor sabor, do melhor paladar, de todo o calor que um vinho nos tem para dar. Porque a poesia é a religião dos aflitos e sem mezinhas ou gritos ergue um copo de vinho para brindar: Feliz Natal com a boa esperança de que tudo isto irá passar.
Tristão de Andrade