Os últimos meses têm sido de grande agitação e enorme provação. O mundo não tem, aparentemente, solução que garanta o fim da pandemia. Já estivemos confinados, deixámos de estar e agora anunciam a possibilidade de voltarmos ao isolamento.

Diariamente conhecemos novas realidades de um mundo que já sabe que nunca mais voltará a ser o que era.

E o que era? Já não me lembro muito bem. Mas aquilo que me preocupa é sim: o que será?

Que lembrança deixará esta época tão exigente? Que raízes plantamos agora para perdurarem pelos séculos vindouros?

O ano 2020 ficará sem dúvida nos livros de história. E a colheita? Será recordada à luz da desgraça que vivemos?

Que vinho ficará para ser bebido e contar a história?

E a indústria? Os empresários vinícolas, os trabalhadores, os campos e os consumidores? Quem garante salvação a este sector tão importante da nossa economia?

Tenho para mim este conjunto de questões que não consigo ver respondidas. Há uma perturbante falta de respostas, de união e clareza sobretudo daqueles que mandam.

 

Voltando ao vinho e à pandemia.

 

Fomos quantos aqueles que em tardes de confinamento nos dedicámos a saborear o vinho? Não em excesso, obviamente, mas numa quantidade generosa capaz de dar ao espírito o alento para não desistirmos. Quantos fomos aqueles que se confessaram num trago de puro néctar? Eu confesso. Fui.

 

Os nossos dias

 

Esta semana voltamos a ver o escuro lá no fundo do túnel, ou seja, o fim da garrafa. Sinto nas gentes uma tristeza devastadora só pela ideia de podermos voltar a viver o pesadelo. Assim vão os nossos dias divididos entre tentativas de ligações a videoconferências e crianças em tele-escola.

Na televisão somos bombardeados com as notícias do COVID, do Trump e do Bolsonaro. A doce trilogia para qualquer canal informativo. E nós? Nós realmente? Onde ficamos no meio deste acontecimento? Sublinho: não me importo de esquecer como era, preocupa-me, sim, como será?

Onde ficamos no meio deste turbilhão de acontecimentos reais? Vamos ser usados como a almofada ideal para amparar os erros de quem manda? De quem sempre serviu um lado e agora continua a querer servir o mesmo lado num equilíbrio impossível de fazer?

 

Sempre a cultura do bom vinho

 

Por estes dias publiquei o meu último livro “E SE FOSSES TU?”. Um livro de amor onde o leitor é a personagem principal, um livro que se lê de forma diferente aos olhos de cada um. Um leito de páginas que se oferecem para serem pessoais e intransmissíveis. Uma obra diferente que não conta a história dos seus intervenientes mas antes revela e se conduz pelos caminhos de quem o lê. Desafiante e provocador. Um convite ao exercício de pensar e amar.

Escrito nos últimos dois anos teve o vinho como banda sonora, usou do seu espírito e da sua força. Está à venda em todas as livrarias. Ao contrário do vinho não ganha qualidade com o tempo, pelo contrário, pede para ser lido no imediato. Está pronto a ser consumido.

 

Antes de terminarmos a refeição.

 

Antes de terminar esta nossa conversa gostava apenas de lembrar que estivemos sempre a falar de vinho ou então à volta dele. Porque é com ele que discutimos os assuntos mais banais da vida  do quotidiano, é com ele que mantemos longas conversas sobre as matérias sérias da vida e é na sua companhia que brindamos ao sucesso. Esse mesmo sucesso que procuramos nesta hora de exceção.

 

Até para a semana.

 

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