Livros e Vinhos.
Sim, eu confesso. Assumo que gosto de ficar imóvel a apreciar as prateleiras dos vinhos. Pregado ao chão de olhos fixos a contemplar. Entrar numa garrafeira e deslizar o meu olhar pelos rótulos das garrafas. Imaginar a história, o trabalho, o esforço e a dedicação.
Beber toda aquela paixão.
Em cada garrafa há o bater de um coração que dá vida ao vinho. Gosto de admirar a silhueta das garrafas, o lacre, a cor do vidro, o líquido e a rolha.
A importante rolha que se quer de cortiça. A sã guardiã da qualidade e da justiça que procuro sempre que abro um saboroso néctar. E o que me leva a escolher? A investir e a trazer comigo um produto especial?
Confesso que por vezes tenho dificuldade em identificar a casta, o blend ou a safra. Mas enquanto tento desvendar os segredos técnicos vou inventando histórias. Vou avivando memórias de experiências passadas.
Vinhos que já bebi, alguns que esqueci e outros que voltaria a comprar. Instantes que me fazem recordar boas e más experiências. Analiso preços, peço conselhos e converso. Ouço com atenção o chefe de garrafeira que me acolhe e exijo a sua mestria no ofício de receber.
Visitar uma garrafeira é como entrar numa biblioteca. É preciso gostar e ter tempo, é preciso lá ficar a sentir aquele momento de paz espiritual. A serenidade fatal que se renova a cada visita.
Comprar vinho tem tanto de técnico como de poético, tem tanto de opção comercial como de corrente artística. Tal como nas livrarias sente-se a mesma mística nas garrafeiras. Há o odor das feiras medievais, a sofisticação dos restaurantes com estrelas Michelin, o sol da manhã, a lua da madrugada e o mistério.
Confesso que gosto de ficar parado a olhar para as prateleiras dos vinhos porque me fazem lembrar estantes de livros onde, tal como em cada publicação, encontro e descubro o segredo do seu autor, o amor e o seu coração.
#tristaodeandrade
#vaicomvinho