Não há fado sem nódoa de vinho ou vinho sem notas de fado. É impossível separar um do outro. São irmãos que o próprio destino se incumbiu de juntar, dedos de uma mão que se ajudam na hora de trabalhar. Filhos da mesma criação.
Vinho e fado argumentos na mesma oração.
Quando se ouve fado há sempre vinho a acompanhar. Sempre que um copo de vinho se serve há sempre fado a tocar. São como as guitarras a trinar a galope do tom do fadista. Pode o fado cantar mas o vinho também é o artista.
É destino, obrigação e impulso. É protocolo. É fatalidade.
É um sensação única e indivisível. É a realidade. Um não vive sem o outro. São os fundadores do sentimento da saudade.
São a verdade quando o fado se bebe e o vinho se ouve. É Malhoa que percebe que só o fado consegue fazer-se ouvir com os sentidos. É vinho que se serve na fartura dos ouvidos.
É ouvir quem sabe sobre a técnica sem nunca deixar ao leigo a nota final.
É o povo novo que se ergue na esperança de um copo de vinho. É o estado antigo, a modernidade, o passado e o futuro sem olhar à idade. São as almas, sempre as almas, os espíritos erguidos nas nossas tradições, as ilusões, as noites perdidas a pensar na revolução, é a canção da promessa.
São os serões, as tavernas, as bebedeiras, as últimas mas também as primeiras. É a eterna juventude com a saúde de imortalidade. É um copo de vinho bebido sem pressa a escutar um fado que prepara o caminho. É o regresso a casa, a confusão, a volta ao ninho, a escuridão e a luz. É aquilo que nos conduz e nos faz dizer chega, o que nos leva a dar o murro na mesa e a mudar de vida. É a raiva e a paz. É o herói audaz que vive dentro de cada um de nós.
É o “Senhor Vinho”, é Amália, é Eusébio, são almas caídas, almas vencidas, brindes a perder de vista, hinos de miséria e mistério, odes à reconquista de um Portugal no seu quinto império.
É futebol, Camões e o Nobel de Saramago. É Pessoa, poesia boa e pasteis de bacalhau. Pão, azeitonas e toalhas de xadrez.
É o vinho, é o fado e o orgulho em ser Português.
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#vaicomvinho