Adaptação de apresentação dos Professores do ISA Malfeito Ferreira e Professor Virgílio Loureiro
Decorrente do Simpósio Vitivinícola de Almeirim realizado em 2015 este foi dos assuntos que mais me suscitou interesse, o qual constitui uma revisitação à história e a passados não muito remotos que nos permite entender a importância da casta Fernão Pires ou Fernão “Pirão” como designam os Professores Malfeito Ferreira e Virgílio Loureiro, do Instituto Superior de Agronomia, graças aos quais temos o grato privilégio de conhecer e aprender sempre algo que nos permite enriquecer conhecimento.
Enquadramento
A globalização dos gostos
- Qualidade x identidade
A procura de diversidade
- Diversidade sem identidade (mais do mesmo)
- Diversidade com identidade
O caso do “Fernão Pirão”
GOSTOS E AROMAS GLOBALIZADOS
Comecemos por observar a tendência do Great Gold médio do Concurso Mundus Vini.
RESUMO DO PERFIL DE UM GREAT GOLD
Onde está o chamado palato Europeu:
Equilíbrio, mineralidade, acidez?
(The Gray Report, US blogger, 2011)
Os clássicos Europeus raramente ganham concursos, devido ao método de prova, no mínimo deviam ser avaliados com comida!
Atualmente é conhecida a procura que os brancos de maceração têm em mercados de nicho como Nova Iorque e Londres.
Denominados “Orange Wines”, estão a ser produzidos em países onde nunca se conheceu esta tradição.
Por todo o mundo os depósitos de betão voltaram a ser utilizados, desta vez para vinhos de preço elevado. Em Portugal, os brancos de talha alentejanos (“os petroleiros”) já têm denominação de origem e a animação cultural à sua volta demonstram como é possível manter uma tradição popular a este interesse cosmopolita.
Diferença pelos aromas
- Wine coolers ou Blurred wines (mistelas – infusões de vinho com sumos de fruta e aromas)
- Tentação – juntar aromas artificiais ao vinho (não permitido)
(ananás, maçã, pêssego, morango, cassis, madeira, …)
Diferença pelo aroma e pela boca
• Orange wines, a moda anglo-saxónica mais recente para emoções fortes
Orange Wine Looks Like Pee But Tastes Like Magic | |
Adam Clark Estes | |
Orange Wines Will Never Be Mainstream but a case for | |
why they’re more than a dying trend | |
Anna Lee Iijima |
Portugal has a knack for hiding its light under a bushel. | |
Only last week I discovered that the Alentejo region | |
introduced a DOC for Talha wine in 2012 (Novembro 2015) | |
Sarah Ahmed |
A casta Fernão Pires é a mis utilizada na região de Almeirim para produzir vinhos brancos.
A iniciativa e o dinamismo dos produtores ribatejanos rapidamente a tornaram numa casta de eleição para produzir vinhos aromáticos e atraentes ao gosto do mercado global. Para trás ficou o vinho produzido pelos pequenos fazendeiros, com muito álcool e de uma côr palha carregada, mais ou menos turvo, conhecido popularmente como Fernão “Pirão”.
Vinhos de talha, a identidade alentejana!
- – Certificados pela CVRA como DOC Talha
- – Apoiados pelas autarquias e associações locais
- – Vila de Frades, Amareleja, Granja, Cabeção, …
A questão deixou de ser a qualidade. Hoje a questão é a identidade!
UMA HISTÓRIA DA FERNÃO PIRES!
FAZENDAS DE ALMEIRIM
Em Almeirim, parece fácil dar visibilidade a mais um genuíno “Orange Wine” português, explicando as suas origens históricas, o seu fabrico e demonstrando as suas aptidões gastronómicas.
A “Festa do Fernão Pirão” aproveitando o costume das adiafas ou revitalizando o Cortejo das Oferendas, surge como proposta concreta para valorizar este vinho popular e contribuir para a manutenção deste património único.
Origem de Fazendas de Almeirim
- • Desamortização da Tapada e Coutada real;
- • Início do cultivo da “charneca”;
- • Obras de enxugo do “campo” (Alpiarçoulo);
- • Vinhas do campo de grandes proprietários;
- • Os Ílhavos, Caramelos e Ratinhos faziam o trabalho braçal;
- • A filoxera destrói as vinhas do “campo” (final séc. XIX);
- • Aforamento de terras da “charneca” como retribuição do
trabalho braçal (os proprietários não conseguiam pagar salários); - • Começa o negócio do vinho da “charneca”.
GALERIA DE IMAGENS COMENTADAS
Os 3.º e 4.º barões de Almeirim…
…que aforaram / arrendaram terras para criar as Fazendas de Almeirim
A localização das vinhas ao redor das casas (“A Vinha Urbana”) nas Fazendas de Almeirim, na Gouxa ou nos Foros de Benfica, a fermentação com curtimenta em depósitos e lagares de betão, a sua empatia com a sopa da pedra, os ensopados de borrego, as caldeiradas de enguias, ou as pataniscas das tascas alfacinhas, justificam a singularidade destes vinhos.
No entanto, hoje é difícil de encontrar, mesmo entre os fazendeiros que teimam em manter a tradição de fazer vinho em casa.
A adega do Fernão Pirão
O “Fernão Pirão” | Acompanhava |
• Feito com uvas da casta Fernão Pires | As festas locais; |
• Vinificado de forma tradicional… com “curtimenta” | As adiafas, com o ensopado de borrego |
• Fermentado a temperaturas elevadas e, em regra, oxidado | As caldeiradas à borda do Tejo; |
• Armazenado em cimento/betão | As enguias nos Foros de Benfica; |
• Alcoólico, acastanhado e com o típico “torradinho” | A sopa da pedra em Almeirim… |
• Bebido localmente como um tinto | |
• Tingido com Grand Noir ou Alicante Bouschet (tascas de Lisboa) | |
• A base do “branco velho”, que acompanhava o peixe frito | |
• Bebido nos bacalhoeiros que iam para a Terra Nova |