DO MINHO, o rio e a região, vem-nos um apelo forte. A paisagem, uma certa doçura de clima, gastronomias harmoniosas, a vizinhança galega. Mais as gentes, naturalmente, e depois um “ex-libris”: o vinho Alvarinho.
Entre Monção e Melgaço, cada vez mais a vinha (esta vinha) se torna uma evidência e produto de uma região. Tudo junto, apetece partir para Norte. Deixando marcadas algumas notas prévias: há uns 50, 60 anos, menos mesmo, o Minho era mais de 90 por cento de vinho tinto contra uns nove de vinhedos brancos.
Hoje o panorama mudou completamente, e descobre-se a excelência de um produto com uma larga aceitação em mercados nacionais e estrangeiros. Foi esse o pretexto para a descoberta de alguns dos produtores de Alvarinho, acrescentando a esse a fruição de outros prazeres anexos, numa jornada que se aconselha, no mínimo, para dois dias.
E sendo que há que começar por algum sítio, seja este a Quinta da Pedra, por exemplo. Vindos então de Sul para Norte, a alturas de Monção contorne-se a rotunda que dá acesso aos Arcos de Valdevez, prosseguindo sempre para Melgaço. No segundo cruzamento à direita, segue-se para Longos Vales: dois quilómetros adiante, de novo à direita e à face da estrada, tem-se a Quinta da Pedra, pertença da UNICER.
Habituados a ver esta empresa noutras andanças, encontrá-la aqui nos vinhos surge um pouco estranho no início. Mas, depois, o diálogo vai-nos esclarecer: diversificar é a política, o campo de manobra são as bebidas, a estratégia é “produzir vinho e não vir aqui comprar as uvas para o produzir depois”. A Quinta da Pedra surgiu há largos anos noutras mãos, passou depois para a posse da RAR no tempo de Macedo e Silva (1991), que construiu a adega, “conferindo- lhe um ar de catedral”, diz-nos o jovem enólogo Rui Moura.
Essa atmosfera é criada pelas madeiras e pela luz especial que se filtra para as instalações. Depois da morte de Macedo e Silva aparece ainda um outro proprietário, até que a UNICER assegura a sucessão. Algum orgulho é manifesto quando nos dizem estarmos perante a maior mancha de vinha contínua da região demarcada: 30 hectares, numa propriedade que conta com um total de 40 hectares de vinhedos. Em edifício anexo, a destilaria alberga-se em casa de granito e telha vã, com seu toque artesanal.
Na vinha, o topo de cada bardo evoca Bordéus, com seu renque de rosas. Se lá as rosas existem para avisar do perigo do oídio, a flor aqui é mais poética e menos funcional: o perigo local é mais o míldio, e esse as roseiras não o anunciam. Almoça-se na Adega do Sossego, no Peso, mesmo sendo necessário dar o salto para o concelho vizinho.
Mas as distâncias não assustam, e breves minutos nos bastam para a deslocação. Uma advertência: há hoje duas estradas praticamente paralelas entre Monção e Melgaço. A que corre mais a poente é feita para urgências e negócios do quotidiano; a outra, “a antiga”, mais intimista, mais romântica, mais lenta, com as suas curvas e contracurvas proporciona à vista outros prazeres. Para mim, com frequência, a opção é clara e sigo pela segunda.