A influência dos polifenóis na adstringência dos vinhos tintos
Neste artigo aborda-se a influência dos polifenóis na adstringência dos vinhos tintos e a forma como intervém de forma decisiva no sabor e especialmente na sensação.
A adstringência é um conjunto de percepções sentido com uma grande variedade de alimentos, incluindo frutos, chocolate, chá vinho e cerveja.
Um exemplo clássico da sensação de adstringência é a sensação de secura e aspereza sentida quando se come um dióspiro verde ou uma maça verde.
De facto, a adstringência é normalmente descrita como um conjunto de várias sensações bucais incluindo a aspereza, secura e constrição.
Sensações descritas como uma falta de lubrificação ou humidade que provocam atrito e fricção entre as varias superfícies orais e uma sensação de aperto e contracção sentida na boca, lábios e interior das bochechas.
Sensação de adstringência
Pensa-se que a sensação de adstringência é causada pela ligação dos taninos presentes nos alimentos às proteínas presentes na saliva, causando possivelmente uma precipitação destes agregados.
Perfis sensoriais
A adstringência é influenciada por diversos factores, entre os quais características do provador (tais como o fluxo salivar ou a composição da saliva).
Temos ainda as características do alimento degustado, tais como a concentração dos polifenois, viscosidade do alimento e presença de outras substâncias, tais como os polissacarídeos.
Um dos alimentos em que a sensação de adstringência é mais importante é o vinho tinto.
Vinhos tintos com adstringência
De facto o vinho tinto é extremamente rico em polifenois e uma das características de um vinho de boa qualidade é ter uma adstringência equilibrada
Se for demasiado adstringente torna-se um vinho duro, seco, agressivo, se tiver pouca adstringência é descrito como um vinho plano, sem volume, sem corpo.
A sensação de adstringência apresenta variantes muito subtis de adstringência tais como macio, granulado, duro, verde, etc.
Pensa-se que estas variações subtis poderão estar relacionadas com o facto de os vinhos tintos terem um perfil complexo de polifenois.
Também a presença de inúmeros outros compostos em solução, entre os quais polissacarídeos, poderão causar modulações da sensação de adstringência.
Os polifenóis no vinho mais susceptíveis de causar este efeito são os taninos.
Os taninos têm a capacidade de interagir com as proteínas.
Mecanismos que conduzem à adstringência
Apesar de não haver dados muito concretos na literatura sobre os mecanismos envolvidos na formação dos complexos tanino/proteína, é consensual que estas interações se efectuam através de ligações cruzadas (“cross-linking”).
Isto tudo entre as cadeias peptídicas e os taninos que actuam como ligandos polidentados à superfície da proteína envolvendo ligações hidrofóbicas, pontes de hidrogénio e ligações do tipo iónicas.
De uma maneira geral, a precipitação dos agregados tanino/proteína efectua-se em duas etapas distintas.
Na primeira, a proteína e o polifenol associam-se formando complexos solúveis, e numa segunda etapa, estes complexos podem agregar-se e precipitar.
As interacções proteína-tanino podem ser influenciadas por diversos factores, nomeadamente as estruturas das proteínas e dos taninos.
As suas concentrações relativas e as características do solvente, tais como pH, força iónica e a presença de outras substâncias em solução tais como os polissacarídeos.
Pensa-se que os polissacarídeos têm uma grande influência na adstringência.
De facto, tem-se a noção de que frutos pouco maduros, por exemplo banana verde ou maça verde, são mais adstringentes que frutos maduros.
Maturação versus adstringência
Também se sabe que durante o amadurecimento existem alterações no conteúdo de polissacarídeos do fruto.
Pensa-se que a perda de adstringência com o amadurecimento está relacionada com a solubilização de pectinas, que poderiam impedir a interacção proteínas-taninos e diminuir a sensação de adstringência.
No caso dos vinhos tintos apesar de estes serem ricos em polifenois também contém carbo-hidratos.
Acredita-se que um equilíbrio entre estes dois tipos de compostos possa levar a um vinho com boas características.
Um vinho com corpo, estrutura, redondo, que não seja amargo, áspero ou demasiado adstringente.
No entanto este conhecimento permanece um tanto ou quanto empírico.
Ver ainda
Os polifenóis na evolução da cor do vinho tinto