Recentemente, tivemos a oportunidade de visitar a emblemática Fita Preta em Évora, a adega do renomado enólogo António Maçanita para conhecermos o seu vinho Enxarrama 2014, arqui-rival do Pêra-Manca que tem um custo de 480 euros.
O vinho Enxarrama produzido na Herdade da Fita Preta, perto de Évora, tem a sua primeira referência em 1321, embora a região seja mencionada desde o final do século XIII. O nome deste vinho está intimamente ligado ao rio Enxarrama, rio mais importante de Évora, hoje conhecido como Xarrama.
Segundo António Maçanita, no século XIX, há um estudo sobre o potencial vitivinícola do nosso país que divide Portugal em três partes e no qual o Visconde de Vila Maior fica com o Norte do país, Augusto de Aguiar fica com o Centro e o reconhecido agrónomo, académico e investigador do século XIX, João Inácio Ferreira Lapa fica responsável pela zona Sul. Ferreira da Lapa faz várias referências ao Enxarrama entre 1867 e 1869 numa das quais escreveu a seguinte: “de todos os vinhos de Évora, o mais procurado e mais bem pago na capital é o Enxarrama, há outros mais ou menos nomeados pela sua qualidade, os do Redondo e os de Pêra-Manca, que parecem ter sido cantados por Camões“.
Em 1867, Ferreira da Lapa faz também a sua nota de prova sobre vinho e escreve o seguinte:
“O vinho do Enxarrama é bastante tinto e encorpado, crystallino, cheiro tartsoso, e não suave, de sabor quente e macio, com travo (…) bem pronunciado. Não é um vinho alcoólico, nem aromático, é um vinho forte e bastão, que bem por causa do seu tanino pode tolerar o seu volume em álcool (…) Talvez por estas rasões, quasi tanto por suas outras qualidades, é elle mais que nenhum outro de Évora procurado para a venda a retalho nos armazéns de Lisboa.”
Aproveitando a longa fama deste Enxarrama, António Maçanita, pega na nota de prova de Ferreira da Lapa de 1867 e decide recriar o Enxarrama.
Saiba tudo sobre o Enxarrama 2014
Lançado em Setembro de 2024 com uma produção de 1218 garrafas numeradas, o vinho tinto Enxarrama 2014 provém de vinhas cultivadas em sequeiro, sem rega, em regime de produção biológica certificada. A vindima é manual e feita durante a noite. A uvas são depois selecionadas em mesa de escolha, garantindo que apenas a melhor fruta entra na cuba. As uvas são depois conduzidas até à cuba de fermentação por gravidade, sem recurso a qualquer bomba, permitindo uma extração suave e longa. A fermentação é espontânea e o tempo total de curtimenta entre 25- 40 dias. A segunda fermentação malo lática ocorre parcialmente em barrica (30%) e o restante em cuba. Este Enxarrama estagiou no total durante 10 anos, divididos por 36 meses em barricas de 228 Litros de carvalho francês, cerca de 12 meses em cubas de 500 Litros, e posteriormente 6 anos de estágio em garrafa.
Ficha Técnica:
Castas: 85% Alicante Bouschet, 15% ( Aragonez, Trincadeira, Castelão e Moreto)
Ano de Colheita: 2014
Álcool: 15% Vol
Idade das Vinhas: 25-30 anos
Solos: Granitos com algum Xisto
Temperaturas de Conservação e Serviço: Conservar a 12º Armazenamento, servir a 16º e deve ser bebido a 18º.
Produção: 1218 garrafas
PVP: 480 euros
O “Arquirrival” do Pêra-Manca
A comparação do Enxarrama com o icónico Pêra-Manca não é feita de ânimo leve. Existem várias evidências históricas nesse sentido sendo que ambos são vinhos que procuram capturar a essência do Alentejo, mas com abordagens distintas. Enquanto o Pêra-Manca é associado à tradição e à exclusividade, o Enxarrama apresenta-se como uma alternativa ousada e inovadora para quem não quer sempre estar provar os mesmos vinhos.
Novidades: Um Restaurante Promissor
Como se a paixão pelos vinhos e pela história não fossem suficientes, António Maçanita prepara-se agora para surpreender o público com outra faceta: a gastronomia. Em janeiro, abrirá o seu novo restaurante, ainda sem nome, prometendo uma experiência onde os vinhos e a comida se complementam na perfeição. O espaço, integrado na Fita Preta, pretende ser um ponto de encontro entre o tradicional e o moderno, refletindo o espírito inquieto e criativo do enólogo.
Com pratos inspirados nos sabores alentejanos e uma carta de vinhos cuidadosamente selecionada, o restaurante será certamente uma extensão da filosofia de António: valorizar o que é local, respeitando o passado, mas sempre com um olhar para o futuro.