Nos anos 90, uma conhecida marca de whisky fez sucesso com a frase “a tradição já não é o que era”, mas no caso da Herança Sanheiro acontece exatamente o contrário e ainda bem. O produtor Joel Sanheiro faz vinhos monocasta de Castelão, em Palmela, com foco na qualidade, mantendo a tradição viva e a história da família.

 

Há na região Península de Setúbal um microprodutor, Joel Sanheiro, que podemos chamar de vigneron, cuja pequena propriedade familiar está em Palmela e é lá que produz os vinhos Herança Sanheiro Story e Herança Sanheiro Supreme, ambos feitos 100% com a casta Castelão.

 

Herança Sanheiro vem do nome de família e é, agora, marca registada. De imagem muito clean, as garrafas contam com um rótulo em comprimento, onde predomina o branco, destacando uma risca azul em baixo, que representa a casa da propriedade onde se situa a adega (e as da zona que antigamente tinham uma risca azul como acontece no Alentejo). Cada garrafa é selada manualmente em lacre.

 

O Herança Sanheiro Story 2020 é um Castelão tradicional, franco e vibrante, já o Herança Sanheiro Supreme 2020 é um tinto mais desafiador para os sentidos, de taninos ricos e envolventes, deixa notas que refletem o estágio em barrica de carvalho francês. São vinhos de pouca intervenção, onde quase tudo é manual, como pisa a pé e mistura de massas também a pé, sendo utilizada uma prensa muito antiga, com mais de cem anos.

 

Joel Sanheiro explica resumidamente a história de produção de vinhos dos seus antecessores: “O terreno vem da altura do meu bisavô, foi ele que lá plantou a vinha original. O meu avô tratava da vinha, vendia parte da uva e fazia vinho para consumo próprio. Depois passou para o meu pai, Joaquim Sanheiro, que logo tomou a pulso a situação e tratou de replantar e aramar. Fez uma adega com lagares e depósitos de cimento e passou a usar a uva toda para fazer vinho, cuja produção vendia a granel, boca a boca e em patuscadas, festas com comida e bebida aos fins-de-semana. Em 2017 decidi começar a fazer vinho e seguir as suas pisadas. Atualmente uso apenas 1 hectare, que corresponde ao terroir com solo arenoso (o restante tem solos mais argilosos). A vinha tem agora mais de trinta anos e não é regada”, destaca o produtor.

Já Joaquim Sanheiro salienta que os vinhos Herança Sanheiro resultam de “um conhecimento que se transmitiu de geração em geração e de formação, o que levou a que tenha havido uma evolução na forma com se tem vindo a fazer vinho”. Sobre a produção do filho, Joaquim revela, orgulhoso, que tem havido “muitos melhoramentos na forma como este produz vinho em relação ao que fazia”.

 

Joel Sanheiro ocupa-se da enologia, com apoio do pai, e reconhece que nem toda a gente gosta de vinho 100% Castelão, mas acredita que “o importante no vinho é as sensações e lembranças que traz ao beber e se é agradável ou não”. Os vinhos Herança Sanheiro não são filtrados, a filtragem é feita por decantação natural, o vinho precipita nos depósitos, é passado a limpo, e assim sucessivamente. “Quero fazer o vinho como era feito aqui antigamente e mantendo a tradição familiar, mas com alguns melhoramentos no processo para lhe dar a qualidade necessária”, destaca.

 

O produtor realça que os vinhos que faz são gastronómicos: o Herança Sanheiro Story mais para acompanhar queijos, carnes, caça e comida de forno e o Herança Sanheiro Supreme mais redondo e com tosta da barrica, faz uma boa harmonização também com um bacalhau no forno e qualquer tipo de risoto.

 

A colheita de 2020 é a que está em comercialização. Uma edição limitada a 1500 garrafas, 600 do Supreme e 900 do Story. Ambos estão disponíveis para venda na loja online Herança Sanheiro e a nível regional na garrafeira Mercado do Vinho, em Setúbal; no Vinus Rarus, no Barreiro; no restaurante/garrafeira Brindar 37, no Seixal; e no restaurante Flavors na Quinta do Anjo. De salientar que o Herança Sanheiro Supreme 2019 foi premiado com uma Medalha de Prata no “Asian Wine Trophy” e o 2020 ganhou também a Medalha de Prata no “Portugal Wine Trophy”.

 

Num futuro próximo, o produtor prepara-se para fazer obras de requalificação da adega. A colheita de 2022 vai contar com um ligeiro aumento, há 900 garrafas do Story e 900 da referência Supreme (mais 300), no entanto, não há qualquer intenção de comprar uva para aumentar a produção, os vinhos serão sempre resultado da vinha própria, mantendo a tradição e unicidade que os distingue.