Vitorino Nemésio e Natália Correia são exemplo da qualidade das gentes oriundas desta belíssima ilha, divida em dois concelhos: Angra do Heroísmo, Património Mundial pela UNESCO e Praia da Vitória.

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ANGRA DO HEROÍSMO

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Angra do Heroísmo é uma cidade que se localiza na costa Sul da Ilha Terceira, nos Açores, com cerca de 10 200 habitantes.

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É sede de um município com 237,52 km² de área e 35 581 habitantes (2001), subdividido em 19 freguesias. O município é limitado a nordeste pelo município da Praia da Vitória, sendo banhado pelo Oceano Atlântico em todas as demais direcções.

Com cerca de 21.300 habitantes, constitui-se na capital histórica e em sede da diocese dos Açores. Abriga ainda um destacamento militar, o Regimento de Guarnição nº 1. A riqueza de seu património edificado fê-la ser classificada como cidade Património Mundial pela UNESCO desde 1983. Juntamente com Ponta Delgada e Horta, Angra constitui uma das capitais regionais.

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O local escolhido pelos primeiros povoadores foi uma crista de colinas, que se abria, em anfiteatro, sobre duas baías, separadas pelo vulcão extinto do Monte Brasil. Uma delas, a denominada “angra”, tinha profundidade para a ancoragem de embarcações de maior tonelagem, as naus. Tinha como vantagem a proteção de todos os ventos, exceto os de Sudeste.

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As primeiras habitações foram erguidas na encosta sobre essa angra, em ruas íngremes de traçado tortuoso dominadas por um outeiro. Neste, pelo lado de terra, distante do mar, foi iniciado um castelo com a função de defesa, à semelhança do urbanismo medieval europeu: o chamado Castelo dos Moinhos.

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Em 1474, o capitão do donatário Álvaro Martins Homem deu início aos trabalhos da chamada Ribeira dos Moinhos, aproveitando a forças de suas águas e lançando as bases para o futuro desenvolvimento económico da povoação. Ao mesmo tempo, liberava a àrea do vale para que, de acordo com os princípios do urbanismo do Renascimento, pudessem ser abertas ruas obedecendo a um plano ortogonal, organizadas por funções, de acordo com as necessidades do porto que crescia com rapidez. Desse modo, já em 1534, ainda no contexto dos Descobrimentos, Angra foi a primeira povoação do arquipélago a ser elevada à condição de cidade. No mesmo ano, foi escolhida pelo Papa Paulo III para sede da Diocese de Angra que tem jurisdição sobre todas as ilhas dos Açores.

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A cidade, mais de uma vez, teve parte ativa na história de Portugal: à época da Crise de sucessão de 1580 resistiu ao domínio Castelhano, apoiando António I de Portugal que aqui estabeleceu o seu governo, de 5 de Agosto de 1580 a 6 de Agosto de 1582. O modo como expulsou os espanhóis entrincheirados na fortaleza do Monte Brasil em 1641 valeu-lhe o título de “Sempre leal cidade”, outorgado por João IV de Portugal.

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Posteriormente, aqui esteve Afonso VI de Portugal, detido nas dependências da fortaleza do Monte Brasil, de 21 de Junho de 1669 a 30 de Agosto de 1684.

Posteriormente Angra constitui-se na capital da Província dos Açores, sede do Governo-geral e em residência dos Capitães-generais, por Decreto de 30 de Agosto de 1766, funções que desempenhou até 1832. Foi sede da Academia Militar, de 1810 a 1832.

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No século XIX, Angra constitui-se em centro e alma do movimento liberal em Portugal. Tendo abraçado a causa constitucional, aqui se estabeleceu em 1828 a Junta Provisória, em nome de Maria II de Portugal. Foi nomeada capital do reino por Decreto de 15 de Março de 1830. Aqui, no contexto da Guerra Civil Portuguesa (1828-1834), Pedro IV de Portugal organizou a expedição que levou ao desembarque do Mindelo e aqui promulgou alguns dos mais importantes decretos do novo regime, como o que criou novas atribuições às Câmaras Municipais, o que reorganizou o Exército Português, o que aboliu as Sisas e outros impostos, o que extinguiu os morgados e capelas, e o que promulgou a liberdade de ensino no país.

Em reconhecimento de tantos e tão destacados serviços, o Decreto de 12 de Janeiro de 1837 conferiu à cidade o título de “mui nobre, leal e sempre constante cidade de Angra do Heroísmo”, e condecorou-a com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada.

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A cidade sempre teve forte tradição municipalista, e a sua Câmara Municipal foi a primeira do país a ser eleita, já em 1831, após a reforma administrativa do Constitucionalismo (Decreto de 27 de Novembro de 1830).

Em Angra encontraram refúgio Almeida Garrett, durante a Guerra Peninsular, e a rainha Maria II de Portugal entre 1830 e 1833, durante a Guerra Civil Portuguesa (1828-1834). Por aqui passou Charles Darwin, a bordo do “HMS Beagle”, tendo aportado a 20 de Setembro de 1836. Darwin partiu daqui para a ilha de São Miguel em 23 de Setembro, após fazer um passeio a cavalo pela ilha, onde entre vários locais visitou as Furnas do Enxofre, tendo na altura afirmado que a nível biológico “nada de interessa encontrar”. Mais tarde, e reconhecendo o seu erro, pediu a vários cientistas, nomeadamente a Joseph Dalton Hooker, a Hewett Cottrell Watson e a Thomas Carew Hunt que lhe enviassem espécimes da flora endémica da Macaronésia e também amostras geológicas.

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O Centro Histórico de Angra do Heroísmo encontra-se, desde 1983, classificado como Património Mundial pela UNESCO.

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PRAIA DA VITÓRIA

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Breve história

O concelho da Praia da Vitória – um dos dois em que está dividida a ilha Terceira, a mais populosa das ilhas do grupo central do arquipélago dos Açores – situa-se na parte oriental da ilha e tem uma área total de 163 Km2.
Está circundado pelo oceano Atlântico (norte – este) e pelo concelho de Angra do Heroísmo (sul – oeste), tendo como constante o mar, quase sempre à vista, e o seu ambiente natural enriquecido de verdes múltiplos e permanentes e por um povo laborioso mas dado também às festas tradicionais e ao gosto da hospitalidade.

Tem cerca de 20.500 habitantes, distribuídos pelas seguintes localidades:
• Praia da Vitória, a sede do concelho, constituída pelas freguesias de Santa Cruz e Cabo da Praia, fica a 20 km de Angra do Heroísmo.
• Agualva
• Biscoitos
• Fonte do Bastardo
• Fontinhas
• Lajes
• Quatro Ribeiras
• São Brás
• Vila Nova
• Porto Martins

Praia da Vitória (cidade)

Sede da capitania da Terceira nos primeiros anos do povoamento (nela se instalou, Jácome de Bruges primeiro Capitão Donatário, da ilha e como tal a sua primeira capital) o «lugar da Praia» (como simplesmente era então conhecido) foi feito Vila em 1480, ainda no tempo de Álvaro Martins Homem.

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Por Carta Régia de 12 de Janeiro de 1837, foi-lhe concedido o titulo de «Muito Notável Vila da Praia da Vitória» corno apreço pela extraordinária vitória das tropas liberais (pelas quais tomou partido) contra a esquadra absolutista, em 11 de Agosto de 1829 «Foi na bahia grande e larga da muito notável vila da Praia da Vitória que se travou o ataque decisivo da campanha liberal nesse célebre dia 11 d’Agosto de 1829, derrotando nas suas águas a poderosa e arrogante esquadra miguelista, composta por 22 vasos de guerra» cf. Gervásio Lima, ir PATRIA AÇOREANA, 1989. pág. 78.

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O Padre Jerónimo Emiliano de Andrade, que viveu em meados do século XIX refere: «Apenas o viajante sai da freguesia do Cabo da Praia tem logo à vista a magnífica e majestosa Vila da Praia da Vitória, que lhe fica m distância de pouco mais de um quarto de légua. (…)
Poucos lugares poderão oferecer ao observador um painel mais agradável e pitoresco e tantos assuntos de profundas reflexões. Sua localidade é a mais vantajosa que se podia desejar. Situada numa vasta planície é ladeada ao norte pela serra do Facho, que lhe apresenta uma brilhante perspectiva de terrenos declives vestidos de verdura e arvoredos: ao nascente é aformoseada pelo seu grande e memorável areal em forma de meia-lua (…) ao sul e ao poente a rodeiam vastas campinas agricultadas (…). O viajante contemplativo antes de nela entrar não pode deixar de admirar suas belezas e de revolver em seu espírito um sem número de recordações históricas. Aqueles campos como que lhe estão falando e anunciando os grandes acontecimentos de que têm sido testemunhas. Naquela Vila vê (…) o lugar, onde residiu o seu primeiro Donatário (…), nela vê o lugar, onde na ilha primeiro retumbou o grito da restauração a favor de el-rei D. João IV (…), nela vê enfim o teatro glorioso da sempre memorável Vitória que no dia 11 d’Agosto quebrou as armas do absolutismo.
O Dr. Silva Sampaio escreve: «A Vila Praia da Vitória constitui unia pequena cidade, com trinta e três ruas e travessas bem construídas e alinhadas, cinco praças ou largos, com excelentes habitações particulares e alguns edifícios públicos.» Pedro de Merelim, in FREGUESIAS DA PRAIA, pág. 325, 326 e 328.

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O seu centro histórico apresenta casas seculares, com curiosos talos de pedra e interessantes janelas e varandas, bem como um notável património arquitectónico.
Implantada junto da maior baía dos Açores, onde hoje existe um excelente Porto Oceânico bem como o Parque Industrial da ilha, é ainda testemunha do desenvolvimento que a seu lado se processa decorrente de importantes instalações aeronáuticas e militares sediadas na Base das Lajes – importante centro estratégico nos últimos conflitos mundiais – desempenha assim importante papel na economia da região.

Chafariz Praia da Vitória Largo da Luz

A Praia da Vitória deu à Terceira e ao país um dos seus mais notáveis escritores, Vitorino Nemésio, que deixou títulos como «Mau Tempo no Canal», «Festa Redonda», «Paço do Milhafre», entre outros.
O escritor fez ainda, durante muito tempo, um programa na R. T. P. que ficou para a história, por causa da sua qualidade e do seu sucesso «Se Bem Me Lembro».

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Locais a visitar:

• Igreja Matriz – imóvel classificado, cuja fundação, devida a Jácome de Bruges, data de 1456, ou seja coeva da colonização. Foi sagrada a 24 de Maio de 1517, pelo Bispo D. Duarte.
Igreja rica e nobre, da invocação de Santa Cruz, tem três naves e apreciável obra de talha dourada na Capela – Mor e na do Santíssimo Sacramento. São dignas de registo as abóbadas manuelinas das capelas laterais bem como as portas e pilares de mármore.
“Os portais em estilo manuelino, que se admiram na face oeste e na face sul, enviou-os para a Terceira, nos fins do Séc. XVI, D. Manuel ou D. Sebastião.
A entrada principal deste templo tem urna aparência nitidamente gótica (…) semelhante às que, do Séc. XIII à primeira metade do Séc. XV resguardavam os portais nobres (…), evocando o conjunto dos portais célebres de 3. Francisco de Santarém e o Mosteiro da Batalha cf. Pedro de Merelim in FREGUESIAS DA PRAIA.
A pia baptismal de mármore foi também oferecida por D. Manuel ou por D. Sebastião.
O tesouro sacro alberga preciosas imagens e alfaias religiosas, entre as quais um Menino Jesus de alabastro em caixa de prata – o Menino Jesus do Agrado Real (Séc. XVII) proveniente do antigo Mosteiro de Jesus. Esta imagem chegou mesmo a ir a alguns nascimentos reais.
A caldeirinha de água benta tem grande valor pela sua grande antiguidade, supondo-se que vem do tempo da fundação.
Possui uma importante colecção de esculturas que remontam ao Séc. XVI.
São peças de destaque:
– a Custódia dos Anjos em prata dourada;
– a imagem de São Cosme; escultura flamenga do Séc. XVI que conquistou, em 1991, o primeiro lugar em peças de arte de influência flamenga, na exposição Europália, realizada na Bélgica.
Possui ainda uma rara escultura de marfim indo-português policromado do Séc. XVIII e valiosas peças de ourivesaria, algumas das quais executadas por ourives locais.
Das duas custódias existentes, uma é do ourives praiense Jácome Jerónimo de Lemos.
Na sacristia encontra-se uma mesa de mármore tendo como suporte urna base e capitel de antiga coluna.
Os dois sinos grandes são de 1473 o de menor dimensão data de 1857.
No adro ergue-se um padrão que assinala a proclamação, pela primeira vez nos Açores, da restauração de Portugal por Francisco Ornelas da Câmara em XXIV- III- MDCXLL.

• Igreja do Senhor Santo Cristo das Misericórdias – é um templo do século XVI, da invocação do Senhor Santo Cristo, reedificado no nosso século após um incêndio que a destruiu quase completamente. E um edifício de duas naves, separadas por uma colunata, formando duas igrejas com as respectivas capelas – mor.
Aqui existia uma imagem de grande devoção em toda a ilha e que, segundo a tradição teria aparecido, um dia, dentro de um caixão que boiava no mar, não se sabendo de onde provinha.
Foi restaurado após o terramoto de 1980, altura em que foi descoberta a existência de duas sepulturas: a de Pedro de Barcelos e a de Dona Leonor Pacheco de Meio.
O Senhor Santo Crista é festejado solenemente no dia 1 de Janeiro de cada ano.

• Hospital da Misericórdia – existe desde 1499 sendo por isso uma das mais antigas instituições do país.

Ermidas – Existem na cidade da Praia da Vitória as ermidas de : Nossa Senhora dos Remédios de São Salvador e de São Lázaro:
• Ermida dos Remédios – fundada no Séc. XVII, tem uma janela sobre a porta larga da entrada, duas janelas laterais e urna porta para a Rua dos Remédios.
• Ermida de S. Salvador – construída em 1560 é , actualmente , pertença da Matriz
• Ermida de S. Lázaro – dos séculos XVI- XVII, fazia parte do hospital do mesmo nome e nela eram acolhidas pessoas que sofriam lepra. Foi paroquial da vila após o terramoto de 1614, enquanto a Matriz se erguia dos escombros.

Paços do Concelho – imóvel classificado, edifício de traça característica, relativamente amplo, com escadaria externa larga e bem lançada, com alpendre e torre sineira. É um exemplar arquitectónico dos princípios do século XVI que sobre a porta de entrada para a torre sineira tem gravada a data de 1596 – eventualmente o ano da sua conclusão.
Na base da torre está inscrita a legenda: «Esta é a Câmara de/Diogo de Teive /Álv° Martins Homem / Pero de Barcelos /Que aqui povoaram / e daqui abriram / à Europa os mares / do Oeste – 1964 Ano do Infante,»

Lar D. Pedro V – criado por alvará de 1861 com a designação de Asilo da Mendicidade D. Pedro V, está localizado em parte do antigo Convento da Luz.

Casa da Alfândega – mandada reedificar em 1844 por José Silvestre Ribeiro, nela se instalou a Alfandega em 1632 ano da sua criação na Praia da Vitória.

Casa onde nasceu Vitorino Nemésio – edifício do século XVII, situado na rua de S. Paulo, com alterações do século XIX, molduras de cantaria e alvenarias rebocadas e caiadas.
Nesta casa podem ainda ser visitados:
– a cozinha tradicional
– a exposição permanente de uma Oficina de Carpintaria / Marcenaria « testemunho de uma época e de uma arte, para uns recordação, para outros escola.» Como a seu propósito referem Ramiro Botelho e Luís Bettencourt, responsáveis pela inventariação e montagem da mesma.
– o quintal, onde se podem apreciar bonitos trabalhos em cantaria.

Casa das Tias – construção do século XVIII, situada junto à Igreja do Senhor Santo Cristo. Foi reconstruída no século XIX, após o sismo de 1841. Nela habitaram as Tias de Vitorino Nemésio e foi aqui que o ilustre escritor açoriano passou parte da sua infância e juventude.

Casa da Roda – Pequeno edifício dos séc. XVIII/ XIX, onde as mães solteiras na época deixavam os filhos indesejados.

Forno da Telha da Boa Vista – remonta aos séculos XVI/ XVII. Terá sido construído durante a ocupação Espanhola. De salientar as suas molduras e chaminés de cantaria e alvenaria rebocadas e caiadas.

Estátua da Liberdade – no centro da Praça Francisco Ornelas da Câmara, é uma homenagem aos heróis da Batalha do 11 de Agosto.

Estátua de José Silvestre Ribeiro no centro do Jardim Municipal, é uma homenagem ao antigo Governador que tomou a seu cargo a reedificação da Praia da Vitória, após o terramoto de 1841.

Busto de Vitorino Nemésio – junto à Casa das Tias, foi inaugurado a 17 de Dezembro de 1994. Da autoria do escultor Álvaro Raposo França, destina-se a assinalar a passagem do 50º aniversário da publicação do romance «Mau Tempo no Canal».

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Miradouro do Facho – autêntica «Varanda da Cidade», está situado junto à Serra de Santiago e oferece uma óptima panorâmica sobre a cidade da Praia.

Serra do Cume – proporciona uma das mais completas panorâmicas do Concelho e da ilha. De um lado a baía da Praia da Vitória e a planície das Lajes, do outro a vasta área do interior da ilha até à Serra da Ribeirinha.

FONTES: CM Angra do Heroismo, CM Praia da Vitória, Canalaçores, RTP Açores.