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História da Cidade de Beja

A cidade de Beja implanta-se num morro com 277m de altitude, dominando a vasta planície envolvente. O campo surge, assim, como uma fronteira natural entre a vida urbana e a vida rural. Esta realidade marca a vida deste povoado desde a sua fundação, algures na Idade do Ferro. Prova cabal desse momento é o troço de muralha proto-histórica descoberta no decurso das escavações da Rua do Sembrano. Achado da maior importância, dissiparia todas as dúvidas sobre a pré-existência de um povoado anterior à ocupação romana; contudo, continuamos sem saber que povo aqui estaria nem tampouco possuímos qualquer informação sobre a forma como se organizava o espaço pré-urbano.
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A cidade de Pax Julia terá sido fundada ou por Júlio César ou por Augusto. Foi capital do conventus Pacensis e administrou juridicamente uma das regiões que constituíam a província da Lusitânia (as outras duas capitais eram Santarém e Mérida). Foi também uma Civitas, ou seja, cidade responsável pela administração de uma região (tratava-se de áreas mais ou menos equivalentes aos nossos distritos) e Colonia. Sem dúvida estamos na presença de uma cidade elementar no funcionamento da grande máquina administrativa que foi a regionalização romana.

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Tratando-se de uma cidade com o estatuto já mencionado, estava equipada com um conjunto de edifícios muito importantes. O espaço por excelência onde se tratava a administração jurídica provincial era o Fórum, do qual também fazia parte o templo dedicado ao culto imperial. No caso de Beja, o Fórum localizava-se junto à actual Praça da República, como testemunharam as escavações realizadas por Abel Viana quando se construiu o actual depósito de água (na altura foi identificada uma enorme estrutura que se interpretou como parte das fundações do templo imperial). A importância dos diversos achados que se têm verificado em vários sítios da cidade confirmam-nos a existência de outros edifícios, tais como o teatro, anfiteatro, o circo, as termas, etc., embora a localização para estes espaços continue na esfera das hipóteses. Certamente que a cidade romana sofreu alterações ao longo do tempo, os seus principais espaços adaptar-se-iam às novas regras e modas que sopravam de outros pontos do império.
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A mudança de poder não lhe retirou importância. Durante o período de domínio visigodo manter-se-ia como uma das principais cidades do Ocidente, ainda era um centro administrativo regional e cabeça de bispado. Desta fase, ficou-nos a pequena, mas importante, Igreja de Santo Amaro, onde está instalado o Núcleo Visigótico do Museu Regional, cuja colecção é constituída por peças provenientes da cidade e do campo. O povo germânico terá contribuído para a conservação e manutenção dos espaços públicos e privados.

A cidade é referida pelos autores árabes, não só pela sua importância mas também pelos belos edifícios que possuía, assim como pelas vias grandes e bem conservadas que a ela levavam. No entanto é a partir deste momento que a configuração da cidade sofrerá as mais profundas alterações: a sua forma ortogonal vai-se alterando e ganhando uma forma radial. Infelizmente da cidade muçulmana pouco sabemos: os vestígios são mínimos, encontrando-se, desta época, apenas uma ou outra inscrição funerária e alguns artefactos. A cidade entra em declínio sensivelmente a partir do século XI: não é mais o centro administrativo e religioso, perdendo prestígio a favor de cidades que ganhavam cada vez maior importância, como era o caso de Évora.

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O processo da Reconquista fez-se sentir de forma muito violenta. As muralhas foram completamente destruídas, a cidade quase deixara de existir. O Foral de D. Afonso III é muito claro: havia que repovoar a cidade e reconstruir as suas muralhas; a cidade ficaria dotada com um novo sistema defensivo, constituído pelo castelo com torre de menagem e novo pano de muralhas.

Com a fundação do Ducado de Beja projecta-se uma nova fase. Os primeiros Duques de Beja, Infantes de Portugal, vêm residir para a cidade alentejana, onde fundam o Convento de Nossa Senhora da Conceição. Junto a este edifício surge o Palácio dos Duques de Beja (Palácio dos Infantes), que terá sido um bom exemplo da arquitectura mudéjar. Como reflexo deste novo impulso, à sua volta iriam surgir novos conventos e palácios que marcariam a diferença entre a Beja velha e destruída e um novo espaço que surgia. O momento áureo deu-se, sem dúvida, com a ascensão de D. Manuel I a rei. Tratando-se do segundo Duque de Beja, desenvolveu um forte processo de nobilitação desta cidade. Assiste-se à reabertura de um novo espaço, a Praça D. Manuel I, para onde se deslocam os Paços do Concelho, que haviam funcionado junto à Igreja de Santa Maria e promove-se também a construção do primeiro Convento-Hospital de Nossa Senhora da Piedade ou da Misericórdia no lugar da antiga Gafaria. Este trabalho de recuperação teria continuidade com o Infante D. Luís III, Duque de Beja, que foi o patrono da construção da Igreja da Misericórdia, cuja loggia constitui um dos expoentes máximos da arquitectura do Renascimento em Portugal.

Podemos afirmar que a cidade respirava um novo ar com a promoção a que assistia. A classe dirigente local não acompanhou, contudo, este processo progressista. Beja voltaria a desenvolver-se muito lentamente, esquecida na planície alentejana. As obras que marcam a cidade são pontuais, vivendo-se momentos pequenos de falsas esperanças ao desenvolvimento que nunca chega.

O segundo processo destrutivo a que assistimos dá-se precisamente nos finais do século XIX continuando pelo séc. XX. Sob a batuta do Visconde da Ribeira Brava, imbuído de um espírito vanguardista, decide-se “modernizar” a cidade, despojando-a dos edifícios velhos numa tentativa clara de criar novas ruas abertas e largas. O resultado foi que a cidade perdeu metade dos seus emblemáticos edifícios, como por exemplo, no Largo dos Duques de Beja, o Palácio dos Infantes. Na sua continuidade encontra-se o Convento de Nossa Senhora da Conceição, que ficou reduzido a menos de metade, salvando-se a Igreja o Claustro menor e a sala do Capítulo. Com ligação a este Convento encontrava-se outro, o Hospital Convento de Santo Antonino e nas suas proximidades a Igreja de São João. Todo este conjunto foi simplesmente arrasado. Mas a vontade de progresso far-se-ia sentir ainda noutros espaços, já que outros conventos tiveram o mesmo fim, destruindo-se a memória dos tempos clericais.

A cidade foi assim “varrida” de boa parte dos seus equipamentos existentes. Quem visita e percorre as suas ruas sente a ausência de algo, sem compreender muito bem o quê. Apenas uma pequena parte dos novos espaços abertos foi reocupada. O espaço urbano entra no séc. XX completamente alterado, atravessando um processo de construção/desconstrução o qual se mantém mais ou menos calmo até ao momento do Estado Novo.

Com a afirmação deste regime, a cidade sofreria novas intervenções dentro do Centro Histórico. A primeira terá sido o processo de reconstrução do Castelo e das suas muralhas. Sob a direcção da DGEMN toda a zona envolvente às muralhas do Castelo seria desafogada do casario humilde que desde os tempos de paz ali se instalou. A muralha ficaria totalmente à vista, assim como o Arco Romano das Portas de Évora, imagem que parcialmente se concretizou.

A segunda grande intervenção dá-se na década de 40 na Praça da República, dotando-a da configuração actual. Com a austeridade natural do regime, esta alteração imprimiria ao Largo um sentido de nacionalismo e concentração de poder, recolocando o Pelourinho na Praça. Uma das intervenções mais importantes terá sido, também, a destruição da Cadeia Filipina e a rápida construção, no seu lugar, do novo edifício das Finanças. Este espaço, apesar de discreto, destoa num conjunto que era até aqui homogéneo, verificando-se uma interrupção desnecessária na continuidade da história deste espaço. A infelicidade de um incêndio nos antigos Paços do Concelho em 1947 levaria á necessidade de reconstrução de um novo edifício no mesmo espaço, projecto de um dos mais importantes arquitectos do Estado Novo, Rodrigues de Lima. Mais uma vez a Praça da República sofre nova intervenção. A consolidação do poder estava completada.

Entre as décadas de 30 e 40 vão surgindo novos equipamentos que vão colmatando os enormes espaços vazios libertados no início do séc. XX. O velho Teatro sofre obras de fundo, sendo totalmente alterado e adaptado a Cinema, com possibilidade de representações teatrais. Na zona onde existiu o Convento de Nossa Senhora da Esperança constroem-se o Banco de Portugal, de gosto neo-joanino, o Tribunal, o Governo Civil e por fim a Nova Caixa Geral de Depósitos, com um volume mais sóbrio e portanto mais moderno.

A arquitectura moderna vem pois ocupar, algo timidamente, alguns dos espaços libertados dentro do Centro Histórico, patenteando todavia, as dificuldades e vícios de um Estado autoritário e pouco esclarecido que não entendia as questões que com a revolução de 1974 se tornaram inadiáveis no Centro Histórico da cidade de Beja.

CASTELO

Desde sempre, o Castelo é símbolo de grande referência para uma cidade. Beja não é excepção, o seu Castelo com a sua magnifica Torre de Menagem, de entre as maiores e mais elegantes da Península, sempre foi o ex-libris desta velha Pax-Julia. Ao aproximar-nos de Beja, logo se avista o seu Castelo, antes fortificação de defesa e, actualmente património histórico e pólo de atracção turística.
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A fundação afortalezada é, provavelmente de origem romana. Reconstruído e acrescentado em épocas sucessivas pelos povos que por aqui passaram, nomeadamente visigodos e árabes. No entanto, foram as dinastias portuguesas que lhe deram a traça que hoje podemos contemplar.

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De planta pentagonal, o castelo afonsino-dionisino, era composto por duas portas principais, abertas a nascente e a poente da Alcáçova, e por seis torres defensivas, uma delas a Torre de Menagem. Relativamente à cintura de muralhas que circundava o núcleo urbano, esta era bastante mais complexa. Tratava-se de uma cerca formada por mais de quarenta torres e quatro portas principais, nomeadamente as “Portas de Évora”, “Portas de Aviz”, “Portas de Mértola”, e “Portas de Aljustrel”, de origem romana.
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Com o decorrer dos anos, foram construídas mais três portas, neste caso, as “Portas de Moura”, as “Portas de São Sisenando” e as “Portas da Corredoura”.
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Conquistada em 715 pelos árabes, a cidade foi atacada por Afonso I de Leão e Asturias e por Fruela I de Oviedo, neste mesmo ano e em 718. Mais tarde, em 760, é atacada por Abd al-Raman e cerca de 910-14 por Ordonho II. Em 985 é tomada por Almansor, e em 1037 é atacada por Fernando Magno de Leão.
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Depois, entre 1115 e 1150, D. Afonso Henriques tenta conquistá-la, mas sem sucesso. Finalmente, em 1162, a cidade é tomada por Fernão Gonçalves, e em 1170, assiste-se à morte do Célebre Lidador, Gonçalo Mendes da Maia, durante o último ataque árabe.

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Após a reconquista, em 1200, a cidade encontrava-se quase despovoada e a muralha era um verdadeiro monte de ruínas. No entanto, D. Afonso III, concede-lhe Foral em 1254, com o objectivo de facilitar e incentivar a fixação de populações, tornando-se o verdadeiro reconstrutor da cidade.
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Em 1310, D. Dinis cuidou da sua defesa, afortalezando-a e construindo a Torre de Menagem. Posteriormente, a muralha fernandina é outro renovo defensivo de que restam belos troços.

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Também a existência de outras torres foi sendo alterada com o decorrer dos séculos, o mesmo sucedendo às portas da muralha, que se foram modificando e abandonando consoante as necessidades defensivas.

Na Praça de Armas, localiza-se a Alcaçova, provavelmente construída por D. João II em 1485, para albergar os Infantes D. Isabel de Castela e D. Afonso de Portugal. As janelas geminadas e de arcos ultrapassados, todas elas com grande valor patrimonial e arquitectónico, foram adaptadas a este edíficio, tendo pertencido a palácios e casas demolidas na cidade de Beja, no início do século XIX. Merecem especial atenção os arcos de tijolo denticulado, de origem mudéjar.
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Relativamente à Torre de Menagem, esta é considerada um dos melhores exemplos de arquitectura guerreira medieval. De planta quadrada, possui janelas geminadas uma em cada face, sendo a do norte a mais alta e em forma de varanda. Para além destas características, apresenta ainda no alto um varandim apoiado numa cachorrada de sólida airosidade.

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Com uma altura aproximada de 40 metros de altura e 198 degraus, é considerada a mais alta do país e da Península Ibérica. O seu interior é constituído por três grandes salas sobrepostas, com acesso por escadas em caracol, que se encontra implantada no engrossamento de um dos ângulos da atalaia. Possui a particularidade única, de ser totalmente construída em mármore. Outro aspecto interessante, prende-se com as diversas marcas de cantaria que se podem encontrar gravadas nas superfícies, interior e exterior das pedras, cujas siglas representam as diversas confrarias de obreiros que a construíram, também conhecidas como marcas de cantaria.

A primeira sala de planta octogonal na base, torna-se pentagonal na parte superior, devido à existência de trompas em três dos cantos. Aqui também é de realçar a abóbada estrelada com um autêntico fecho, e nos cantos podem observar-se mísulas

A segunda sala também de planta octogonal, é iluminada por três janelas de estilo gótico, que nos convidam a descansar e contemplar a vista. Também a abóbada é estrelada, com nervuras de cantaria, e possui fechos artisticamente lavrados. Os seus arcos estão assentes em mísulas, que representam atlantes.

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Na terceira sala,  mais pequena, de planta quadrangular, salienta-se uma cercadura toda à volta, interrompida por representações vegetalistas, de homens e animais. A abóbada é decorada com ornatos góticos.

No topo acede-se ao eirado, através de alguns degraus de escada direita,  onde se pode contemplar em redor da torre uma paisagem única, a peneplanície.

FONTE: CM Beja