A Cidade de Lagos apresenta uma longa e rica evolução histórica, marcada por diversas fases de expansão e declínio.
Pré-História e colonização primitiva
A história de Lagos principia com a fundação de Laccobriga ou Lacóbriga, uma povoação fortificada fundada pelos Cónios cerca de 1899 a.C. na zona do Monte Molião, acidente geográfico a Noroeste do centro da actual cidade de Lagos. A sua prosperidade económica, resultante da exportação de produtos piscícolas salgados e de outros produtos alimentares provindos do interior Algarvio, resultou num incremento do contacto com outros povos. Destacam-se os fenícios, dos quais se descobriram vestígios dos séculos VIII e VII a. C. junto à Rua da Barroca. A cidade foi conquistada por de cartagineses, chefiados por Amílcar Barca, numa data indefinida. Após um sismo, que terá destruído a povoação no século IV a.C., a cidade foi reedificada num novo local pelo capitão cartaginês Boodes em 250 a.C.. A nova localização de Laccobriga terá sido no actual Núcleo Primitivo, uma zona residencial que se estende desde a foz da Ribeira de Bensafrim até à Porta e Baluarte da Vila.
Domínio Romano
Em 76, um cerco por parte dos exércitos romanos é rompido por tropas enviadas por Sertório. A cidade foi tomada pelos romanos num data indeterminada após a morte de Sertório, tornando-se parte da Lusitânia. Durante a ocupação romana, Lacóbriga torna-se num centro de produção e exportação de peixe salgado. Foram encontrados, nas actuais Ruas 25 de Abril e Silva Lopes, vestígios de um complexo industrial que incluía salgas, que estiveram em uso entre os Séculos II e VI, e a lixeira de uma fábrica de cerâmica romana. A cidade detinha alguma influência na região, podendo o seu poder administrativo abranger a povoação romana na actual zona da Abicada, na Ria de Alvor.
Domínio Muçulmano
Após a queda do Império Romano, a cidade seria tomada pelos muçulmanos em 716, sendo entregue a Abderramão I, califa de Córdova. A povoação passou, assim, a chamar-se Halaq Al-Zawaia ou Al-Zawaia, o que, segundo alguns autores, significa “Mosteiro Muçulmano”. A ocupação muçulmana provocou um declínio económico, pois estes transferiram o poder económico, militar e político para Silves.
Rua Garrett, em Lagos. Este arruamento fez parte do novo centro da cidade, formado pela expansão urbana extramuros[editar] Reconquista Cristã e Baixa Idade Média.
A povoação foi tomada pelos cristãos entre 1241 e 1249, sendo a sua conquista parte de uma campanha militar levada a cabo por D. Sancho II e D. Afonso III. Após a reconquista, a povoação, denominada de Lagus, verá rejuvenescida a sua importância económica com um conjunto de medidas aplicadas por D. Dinis. Este renascimento reflectiu-se na independência administrativa em relação a Silves em 1361, na concessão de armações de pesca a estrangeiros e no crescimento da povoação. Além das instalações industriais, também edifícios residenciais (bairros de trabalhadores) e edifícios de cariz religioso, como ermidas e conventos, são erguidos fora da cerca defensiva de Lagus. Um dos núcleos mais importantes forma-se em torno da Ermida de Nossa Senhora da Conceição (actualmente Igreja de São Sebastião), com a construção de habitações para pescadores e operários.
A cidade, devido à suas condições geográficas (local de passagem entre o Mar Mediterrâneo e Europa setentrional, junto a uma baía e um rio) e económicas (indústria piscatória e de salga, centro mercantil de produtos florestais e agrícolas), foi desde sempre um importante porto de construção, reabastecimento e reparação de embarcações. Assim, tornou-se num ponto fulcral durante os Descobrimentos Portugueses (século XV), fornecendo embarcações, instrumentos e apetrechos, alimentos, água, e capital humano.
De facto, vários pescadores, navegadores, comerciantes e militares lacobrigenses participaram nos Descobrimentos, devido aos seus conhecimentos de navegação e orientação. Entre estes, destacam-se Gil Eanes, Soeiro da Costa, Vicente Dias e Lançarote de Lagos.
A cidade envolveu-se nos Descobrimentos desde o seu início, pois foi porto de abrigo para a armada portuguesa a caminho de Ceuta, em 1415.
O Infante Dom Henrique, conhecido como Infante de Sagres ou O Navegador, viveu em Lagos, comandando muitas expedições, que partiram desta cidade em direcção às conquistas em Marrocos e à descoberta das costas ocidentais africanas. Inicialmente, a maior parte dos produtos vindos de Àfrica eram vendidos na Casa da Guiné, um entreposto comercial em Lagos criado especificamente para este fim.
Mais tarde, este estabelecimento seria transferido para Lisboa. Lagos foi elevada a cidade por el-rei D. Sebastião em 1573, aquando da sua deslocação ao Reino do Algarve; contudo, a carta de confirmação do título apenas foi passada pela chancelaria régia no reinado do seu sucessor, o tio-avô Cardeal D. Henrique, em 1579.
A importância de Lagos aumentou durante o Domínio Filipino, entre 1580 e 1640, tendo sido estabelecido o posto de Governador do Algarve, que residia no Castelo ou Paço dos Governadores. Foi estabelecida uma rede de forticações para defesa da cidade e da costa, contra os corsários ingleses, que então assolavam a área.
Declínio Urbano
A cidade começou a sofrer sinais de decadência após a restauração da independência, devido a uma quebra na produção agrícola, redução das actividades comerciais provocados pela centralização em Lisboa, e uma epidemia de cólera que grassou a partir de 1640.
O auge do declínio urbano deu-se, no entanto, quando a cidade foi devastada pelo Terramoto de 1755 e subsequente tsunami. A destruição da maior parte das construções, o assoreamento do rio Molião (actualmente Ribeira de Bensafrim), acentuado devido ao movimento de terras durante o maremoto, a deslocação do poder administrativo e comercial para Faro, os problemas de saúde devido ao número de mortos, agravamento das condições de higiene e a destruição das embarcações de pesca provocaram uma profunda recessão económica.
Durante mais de meio século, assistiu-se a um esforço de reconstrução e recuperação económica, embora o poderio comercial, militar e administrativo de Lagos conquistado durante os Descobrimentos tenha sido irremediavelmente perdido.
A partir do século XIX, a recuperação económica da cidade é interrompida pelas Invasões Francesas (1807-1810) e pela Guerra Civil Portuguesa (1828-1834). José Joaquim de Sousa Reis, apelidado de Remexido, comandante miguelista, ataca e cerca a cidade durante vários meses.
Vestígios da fábrica de conservas Algarve Exportador, uma das maiores unidades industriais em Lagos.
Da Revolução Industrial até à Segunda Guerra Mundial
Desde meados do século XIX e até cerca de 1960, Lagos foi uma cidade dominada pela indústria, devido ao facto da cidade deter mão-de-obra em grande quantidade, uma ligação directa ao interior algarvio, de aonde provinham matérias-primas e trabalhadores, e um porto para o escoamento dos produtos. De entre as actividades industriais, a que deteve mais impacto foi, sem dúvida, as conservas alimentares, devido ao facto da cidade deter uma indústria piscícola em plena actividade. A primeira fábrica conserveira em Lagos foi a F. Delory, que se estabeleceu em 1882. Junto com as conserveiras também se estabelecem várias fábricas que confeccionavam produtos de suporte, como latas para a conserva, chaves para abrir as latas, cestas de vime, apetrechos de pesca, azeite, caixas de madeira, entre outros. A indústria atingiu o seu auge em 1920, existindo 32 empresas a laborar em Lagos naquele ano. A necessidade intensiva de mão-de-obra para as indústrias provocou um êxodo rural no concelho. Além do rejuvenescimento económico, também se assistiu a uma evolução nos transportes, com a construção da Estrada Nacional 125 e da estação ferroviária, em Agosto de 1922. Foi neste período que se iniciaram as primeiras actividades turísticas na cidade; em 1913, foi publicado um folheto da Sociedade de Propaganda de Portugal, anunciando a construção do “Lagos Palace Hotel”, que, no entanto, não chegaria a ser construído, apesar do apoio da Câmara Municipal de Lagos. O transporte ferroviário permitiu a chegada de turistas à cidade, e estabeleceram-se as primeiras unidades de alojamento, em casas particulares e em parques de campismo.
Pós-Guerra
Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a concorrência dos produtos estrangeiros, a deslocalização das indústrias para o Norte de África, o assoreamento do porto de Lagos e a diminuição da produção piscatória, matéria-prima para a indústria conserveira, provocaram o declínio desta actividade,[20] e de outras indústrias que dela dependiam. Assistiu-se assim, a uma decadência económica e social, que só seria afastada nos anos 1980 e 90, com o desenvolvimento da actividade turística na cidade. Apesar do turismo já ser conhecido na cidade desde inícios do século XX, foi com a inauguração do Aeroporto de Faro, em 1965 que se verificou um aumento no número de visitantes. Assistiu-se, igualmente, à construção da Avenida dos Descobrimentos e ao restauro do Forte da Ponta da Bandeira, entre outros empreendimentos de cariz patrimonial e urbano, nos anos 50 e 60, já se prevendo um incremento nas actividades turísticas na cidade. Em 28 de Fevereiro de 1969, verificou-se um sismo de intensidade elevada, provocando avultados prejuízos materiais na região. O antigo edifício da Câmara Municipal de Lagos foi bastante afectado, tendo as reparações tido lugar em 1982.
Actualidade
A cidade de Lagos encontra-se num processo de estabilização da actividade turística, estando a Câmara Municipal a investir em eventos culturais, em infra-estruturas de suporte à actividade turística e o restauro de edifícios de valor histórico. Entre os projectos públicos da autarquia, destacam-se o novo edifício da Câmara Municipal, ainda em construção, o Complexo Desportivo e o Parque da Cidade. Outro projecto de elevado impacte económico foi a construção da Marina de Lagos em 1994, empreendimento que dinamizou a actividade turística na cidade.
FONTE: Wikipedia
1 Comentário
Cassandra Almeida
13 anos atrásMuito giro este castelo