Enquadramento |
• A globalização dos gostos |
– Qualidade x identidade |
• A procura de diversidade |
– Diversidade sem identidade (mais do mesmo) |
– Diversidade com identidade |
• O caso do “Fernão Pirão” |
Decorrente do Simpósio Vitivinícola que se realizou na semana passada, esta foi dos assuntos que mais me suscitou atenção, o qual constitui uma revisitação à história e a passados não muito remotos que nos permite entender a importância da casta Fernão Pires ou Fernão “Pirão” como designam os Professores Malfeito Ferreira e Virgílio Loureiro, do Instituto Superior de Agronomia, os quais tenho o grato privilégio de conhecer e aprender sempre algo que me permite enriquecer o meu conhecimento. Bem hajam a ambos pela gentileza que tiveram em ceder-me o vosso trabalho. Até uma próxima.
GOSTOS E AROMAS GLOBALIZADOS
Observemos a tendência do Great Gold médio do Concurso Mundus Vini.
RESUMO DO PERFIL DE UM GREAT GOLD
Onde está o chamado palato Europeu: |
Equilíbrio, mineralidade, acidez? |
(The Gray Report, US blogger, 2011) |
Os clássicos Europeus raramente ganham concursos, |
devido ao método de prova, no mínimo deviam ser |
avaliados com comida! |
Atualmente é conhecida a procura que os brancos de maceração têm em mercados de nicho como Nova Iorque e Londres. Denominados “Orange Wines”, estão a ser produzidos em países onde nunca se conheceu esta tradição. Por todo o mundo os depósitos de betão voltaram a ser utilizados, desta vez para vinhos de preço elevado. Em Portugal, os brancos de talha alentejanos (“os petroleiros”) já têm denominação de origem e a animação cultural à sua volta demonstram como é possível manter uma tradição popular a este interesse cosmopolita.
Diferença pelos aromas
– Wine coolers ou Blurred wines (mistelas – infusões de vinho com sumos de fruta e aromas) |
– Tentação – juntar aromas artificiais ao vinho (não permitido) |
(ananás, maçã, pêssego, morango, cassis, madeira, …)
Diferença pelo aroma e pela boca
• Orange wines, a moda anglo-saxónica mais recente para emoções fortes
Orange Wine Looks Like Pee But Tastes Like Magic | |
Adam Clark Estes | |
Orange Wines Will Never Be Mainstream but a case for | |
why they’re more than a dying trend | |
Anna Lee Iijima |
Portugal has a knack for hiding its light under a bushel. | |
Only last week I discovered that the Alentejo region | |
introduced a DOC for Talha wine in 2012 (Novembro 2015) | |
Sarah Ahmed |
A casta Fernão Pires é a mis utilizada na região de Almeirim para produzir vinhos brancos. A iniciativa e o dinamismo dos produtores ribatejanos rapidamente a tornaram numa casta de eleição para produzir vinhos aromáticos e atraentes ao gosto do mercado global. Para trás ficou o vinho produzido pelos pequenos fazendeiros, com muito álcool e de uma côr palha carregada, mais ou menos turvo, conhecido popularmente como Fernão “Pirão”.
Vinhos de talha, a identidade alentejana!
– Certificados pela CVRA como DOC Talha |
– Apoiados pelas autarquias e associações locais |
– Vila de Frades, Amareleja, Granja, Cabeção, … |
A questão deixou de ser a qualidade. Hoje a questão é a identidade!
UMA HISTÓRIA DA FERNÃO PIRES!
FAZENDAS DE ALMEIRIM
Em Almeirim, parece fácil dar visibilidade a mais um genuíno “Orange Wine” português, explicando as suas origens históricas, o seu fabrico e demonstrando as suas aptidões gastronómicas. A “Festa do Fernão Pirão” aproveitando o costume das adiafas ou revitalizando o Cortejo das Oferendas, surge como proposta concreta para valorizar este vinho popular e contribuir para a manutenção deste património único.
Origem das Fazendas de Almeirim
• Desamortização da Tapada e Coutada real; |
• Início do cultivo da “charneca”; |
• Obras de enxugo do “campo” (Alpiarçoulo); |
• Vinhas do campo de grandes proprietários; |
• Os Ílhavos, Caramelos e Ratinhos faziam o trabalho braçal; |
• A filoxera destrói as vinhas do “campo” (final séc. XIX); |
• Aforamento de terras da “charneca” como retribuição do |
trabalho braçal (os proprietários não conseguiam pagar salários); |
• Começa o negócio do vinho da “charneca”. |
GALERIA DE IMAGENS COMENTADAS
Os 3.º e 4.º barões de Almeirim…
…que aforaram / arrendaram terras para criar as Fazendas de Almeirim
A localização das vinhas ao redor das casas (“A Vinha Urbana”) nas Fazendas de Almeirim, na Gouxa ou nos Foros de Benfica, a fermentação com curtimenta em depósitos e lagares de betão, a sua empatia com a sopa da pedra, os ensopados de borrego, as caldeiradas de enguias, ou as pataniscas das tascas alfacinhas, justificam a singularidade destes vinhos. No entanto, hoje é difícil de encontrar, mesmo entre os fazendeiros que teimam em manter a tradição de fazer vinho em casa.
A adega do Fernão Pirão
O “Fernão Pirão” | Acompanhava |
• Feito com uvas da casta Fernão Pires | As festas locais; |
• Vinificado de forma tradicional… com “curtimenta” | As adiafas, com o ensopado de borrego |
• Fermentado a temperaturas elevadas e, em regra, oxidado | As caldeiradas à borda do Tejo; |
• Armazenado em cimento/betão | As enguias nos Foros de Benfica; |
• Alcoólico, acastanhado e com o típico “torradinho” | A sopa da pedra em Almeirim… |
• Bebido localmente como um tinto | |
• Tingido com Grand Noir ou Alicante Bouschet (tascas de Lisboa) | |
• A base do “branco velho”, que acompanhava o peixe frito | |
• Bebido nos bacalhoeiros que iam para a Terra Nova |