Este artigo é mais um reunir dos diversos artigos que entretanto foram sendo publicados, sob forma de resenha histórica.
Fica assim tudo aglutinado no mesmo local.
1 – A ORIGEM DA VIDEIRA
2 – CHEGADA DA VIDEIRA A PORTUGAL
3 – EXPANSÃO DA CULTURA DA VINHA EM PORTUGAL – DA NACIONALIDADE ATÉ AO SÉCULO XVIII
4 – SÉCULO XIX – UM SÉCULO CONTURBADO
Fica a faltar os períodos entre os Séc XX e XXI.
1 – A ORIGEM DA VIDEIRA
A origem da vinha e da videira perde-se nos tempos. consta até que precede a própria Humanidade! Presume-se há 65 milhões de anos, em que era apenas uma liana, que crescia de forma frondosa e em larga escala competindo com outras plantas.
Existem diversas espécies do génerop Vitis. No nosso caso interessa a espécie Vitis Vinifera, selecionada para a atual produção do néctar dos deuses: o vinho!
Ao longo deste período existiram inúmeras alterações climáticas, pelo que consta que a videira se tenha instalado principalmente numa zona entre o Mar Cáspio e o Mar Negro, local onde segundo dizem as lendas, Noé terá fundeado a Arca após o Dilúvio.
Nessa zona, Noé plantou vinha, nos Montes Ararat, aí bebeu vinho e embriagou-se. Sendo mais objetivo, a videira instalou-se em definitivo após a última glaciação que foi mais moderada (tendo como base a análise de fósseis), nas margens do Mediterrâneo de onte partiu para zonas de condição climatérica mais favorável. E isto há 10000 anos, período considerável como determinante para o ponto de viragem histórico do Homem.
Nesta fase, o Homem passou de uma vida nómada a outra mais sedentária, fixando-se em terrenos vocacionados para práticas agrícolas e pecuárias, recorrendo ao fabrico de utensílios e ferramentas.
A videira, passou a ser um elemento essencial de cultura e parte integrante das principais civilizações que começaram a surgir a partir da região da Mesopotâmia, nomeadamente a Civilização Suméria, associando a agricultura à atividade comercial, principalmente o vinho que era transportado em vasilhas de argila, devidamente identificadas com sinais gráficos gravados em cunha.
Era consumido em grande escala, especialmente em épocas festivas, sendo símbolo de prosperidade até.
Com base no Código de Hamurabi, dos mais conhecidos reis da Babilónia, os habitantes desta região eram verdadeiros apreciadores de vinho, estando até regulamentada punição para práticas de fraude.
No entanto, quem mais contribuiu para a difusão da plantação da vinha são os Fenícios!
Navegadores por excelência, levaram consigo pés de videira para zonas tão distantes como as Ilhas Britânicas.
No caso de Portugal, o cultivo da Vitis Vinifera foi amplamente promovido na zona da bacia do Tejo, com plantas trazidas da atual Síria, sendo atribuída a esta civilização, a introdução da vinha no nosso território.
2 – CHEGADA DA VIDEIRA A PORTUGAL
Existe uma segunda corrente que refere que a introdução de vinha é anterior aos Fenícios,
devido aos achados de graínhas de uva na zona de Marrazes (Leiria).
No entanto, na zona da região anteriormente designada por Estremadura, foi onde os Fenícios iniciaram o plantio de vinha em larga escala, devido à sua posição bastante favorável quer em termos geográficos, quer em termos edafo-climáticos.
Na altura, a Civilização Fenícia entrou em declínio, enfraquecida pelas Guerras Púnicas, sendo sucedida pelas Civilizações Egípcia, Grega e Romana.
Primeiro o Egito, onde a cultura de vinha se processava em espaldares, havendo inúmeras gravuras alusivas quer à cultura e produção de vinho, quer ao seu transporte, sinónimo da grande importância que tinha para esta civilização.
Na Grécia foi onde verdadeiramente se iniciaram estudos muito mais aprofundados, como os locais mais adequados para o plantio de vinha, as castas, a condução das latadas, a poda, a produção e conservação de vinho.
Conseguiu-se produzir néctar dos deuses de forma mais racional e de muito melhor qualidade!
Para o transporte marítimo eram utilizadas as ânforas, muito procuradas ainda hoje quando se trata de estudos e procuras arqueológicas. Havia ainda o transporte em odres que davam mau aroma ao vinho, levando assim, à adição de resina, solução encontrada na época, conduzindo ao termo “retsina”.
O destino da produção vínica grega era até o Imperador Augusto, da Civilização Romana. Devido à grande atividade militar, o cultivo das terras assumia um papel secundário.
Mais tarde os Romanos dedicaram-se verdadeiramente quer ao cultivo da vinha quer ao aperfeiçoamento da produção de vinho.
No caso da Península Ibérica, o interesse especial e legado de conhecimento foi deixado pelos Romanos, dado o muito longo tempo em que permaneceram por estas paragens: natureza dos solos, a sua preparação para a cultura da vinha, a multiplicação das plantas, o sistema de condução e a poda, a enxertia, as fertilizações, os tratamentos, e até o rigor na definição da data da vindima. Estes foram aspetos muito aprofundados e que nos foram deixados até à atualidade.
O mesmo se aplicava à produção de vinho e as diversas fases. Desde a pisa de uvas no Calcatorium,
à prensagem no Torcularium,
à fermentação do mosto na Tinaia, à adega ou armazenamento para conservação na Cella Vinaria terminando no seu envelhecimento na Apoteca.
Foi no último século antes de Cristo que se admite ter sido introduzido um parafuso na extremidade da prensa de vara, que perduram inúmeras em produtores nacionais, utlizando de forma proveitosa algo tão simples como a influência da gravidade.
Nesta época, o consumo e produção de vinho eram já em grande escala, quer para acompanhar refeições, quer nas inúmeras festividades, sendo que as mais importantes designavam-se as bacanais, em alusão ao deus Baco, o principal alvo de diversas comemorações e homenagem pelo saboroso néctar proporcionado.
Após o declínio do Império Romano, com as invasões bárbaras, o cultivo de vinha sofreu forte delapidação, e mais ainda com os Muçulmanos em 711, que salvo raríssimas exceções, e em consequência da religião que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas. Estes mesmo assim, enfrentaram forte oposição do mundo cristão, que sob ponto de vista económico herdou a produção e consumo de vinho. Apesar deste facto, o desenvolvimento e evolução do cultivo de vinha estancaram.
3 – EXPANSÃO DA CULTURA DA VINHA EM PORTUGAL – DA NACIONALIDADE ATÉ AO SÉCULO XVIII
Após a fundação da Nacionalidade e consequente expulsão dos Mouros que permanecerem no nosso território mais de 4 séculos, retomou-se o cultivo de vinha, tendo sido fortemente incentivado o seu cultivo, entregando esta tarefa às ordens religiosas.
ETAPAS CRONOLÓGICAS
Chegaram primeiro os Beneditinos, os Clunicenses e finalmente a Ordem de Císter que na Estremadura teve ação forte e determinante em Alcobaça.
O arroteamento de terras permitiu a instalação dos coutos, de novas áreas de vinha e, para o seu cultivo, foram retomadas técnicas descritas pelos “Geopónicos” do tempo de Roma.
Os mosteiros, em particular o de Santa Maria de Alcobaça, e graças ao seu contributo no cultivo de vinha, permitiu a fixação de população nesta região, tanto que nas Cartas de Foral, existia sempre menção a obrigações e privilégios relativos à vinha e ao vinho.
Atingiu-se uma época de estabilidade, resultado da expansão e comercialização dos produtos da terra e do mar, em particular a vinha era o produto de maior peso.
A morte do rei D. Fernando provocou uma crise de sucessão dinástica, à qual se sucederam guerras e epidemias e consequentemente apareceu uma forte recessão económica. Isto não apenas em Portugal como em toda a Europa.
Naturalmente que o setor vitivinícola sofre forte revés com dificuldade de recuperação futura. Entre os séculos XIV e XV assiste-se ao arranque da epopeia dos Descobrimentos, onde homens válidos para os trabalhos agrícolas são transformados em marinheiros.
Contudo o negócio do vinho apesar de tudo manteve-se e mesmo expandiu com a sua exportação para terras de Além-mar. Na segunda metade do século XIV a saída de vinho rondava os 25 a 30 mil tonéis por ano.
Mesmo durante o período filipino, a situação da vitivinicultura foi de relativa normalidade, e a própria qualidade não era sequer contestada. Pelo contrário. Segundo algumas crónicas existem referências bastante abonatórias em diversos documentos. Existem descrições do Chantre de Évora, são afamados vinhos da zona de Leiria, Vila Nova de Ourém, Alenquer e Torres Vedras na Estremadura, bem como no designado Termo de Lisboa em Loures, Charneca, Oeiras, Unhos e Camarate. Já em 1645, Rodrigo Mendes da Silva, na “Publicación General de España”, qualifica de famosos os vinhos de Ourém e regalado o de Alenquer.
Em 1703 é assinado o Tratado de Methuen,
com o propósito de melhorar as relações comerciais com Inglaterra, sendo que nesta altura e em consequência, melhoram as vendas de vinhos do Douro e regista-se quebras nas exportações em Lisboa.
Apesar disto, a cultura da vinha sempre foi central em toda a atividade agrícola, ao ponto de em 1775 e por ordem do Marquês de Pombal, foi dada ordem para o arranque de vinha nas margens dos rios Tejo, Mondego e Vouga, estendendo a ordem em 1776 às terras da Baixa Estremadura, excetuando as zonas de Alenquer e Torres Vedras por considerar que os vinhos destas zonas era de muito elevada qualidade. Decisões polémicas estas, dado que o Marquês tinha especial predileção pelos vinhos do Douro. Para combater a crise, o Marquês de Pombal funda a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, através do alvará régio de 10 de Setembro de 1756. A Companhia fiscalizava a qualidade dos vinhos, determinava os preços e impunha regras na produção e comércio. Em 1756 iniciou-se o processo de demarcação da região de produção dos vinhos no Douro, que viria a ser uma das primeiras regiões demarcadas do mundo. O Marquês instaurou outras medidas que regularam a vinha, entre as quais a obrigação da plantação separada das castas tintas e brancas.
Na zona da Estremadura e apesar desta ordem, foi feita alguma resistência tendo mesmo diversos agricultores mantido vinha em zonas onde ele tinha decretado proibição.
Estas restrições foram revogadas pela rainha D. Maria I.
4 – SÉCULO XIX – UM SÉCULO CONTURBADO
Apesar da sobreprodução registada a meio deste século, factos gravosos levaram a um grande declínio da viticultura em Portugal.
Invasões Francesas
Começaram no início do século e conduziram ao abandono de terras e propriedades, a juntar aos saques perpetrados pelos invasores, culminando com o desvio de quase toda a mão-de-obra para a edificação da defesa de Lisboa, as célebres Linhas de Torres. Estamos na zona da Estremadura, mais concretamente a Sul de Torres Vedras.
1813-1834 – Do Senhorialismo ao Liberalismo
A massa camponesa, de condição miserável e com poucos conhecimentos, continua subjugada aos grandes senhorios, tendo como principais referências sociais o desembargador, o frade e o foreiro. A recuperação foi de curta duração, com o início das Guerras Liberais em 1820 que estenderam até 1834 em que se implantou o Liberalismo.
As pragas
A viticultura portuguesa sofreu forte revés a partir de metade do século XIX.
Primeiro vem o Oídio em 1851 que ataca fortemente os bagos e até as varas, afetando a produção de vinho. A juntar a isto, regista-se forte adição de enxofre aos tratamentos, conduzindo a vinhos intragáveis, refletindo-se na drástica redução das exportações.
Mal refeitos do Oídio, aparece a arrasadora Filoxera! Uma verdadeira calamidade para o setor.
A praga generalizou-se em todo o território nacional, provocada por um inseto que ataca as raízes das plantas, e consequente à morte de praticamente todo o património viticola português.
A região primeira a ser fortemente afetada foi a do Douro, calcula-se em 1867, e onde foram investidos largos anos até se descobrir forma de combater a praga, onde foram introduzidos porta-enxertos de variedades americanas, resistentes a estes ataques.
Conhecida a solução, as colinas e montes da Estremadura, rapidamente ficaram novamente cobertas por vinha, e com uma pujança rejuvenescida, passaram a contribuir com enorme volume, levando a excesso de vinho e aguardente armazenados, situação agravada com as medidas aduaneiras de importação de aguardentes estrangeiras para o Vinho do Porto. Refletindo-se igualmente na Estremadura que com frequência tinha que produzir aguardente para também poderem fornecer as solicitações do Douro.
Durante o primeiro Congresso Agrícola realizado no ano de 1888 em Lisboa, foram tomadas posições que levaram o Governo a rever direitos de importação de aguardente álcoois, isentando os destiladores de contribuições diretas. Estas medidas foram reforçadas com a concretização de uma iniciativa dos destiladores dos concelhos situados na região da Estremadura, fundando a União Agrária da zona de Torres Vedras, para promover a comercialização dos produtos vínicos. Isto em 1889, quase no fim do século, a tempo ainda de mais uma doença penalizante para o setor.
Em 1893 sente-se o efeito de uma nova doença, o Míldio, que veio do estrangeiro, tendo como epicentro a França.
A vantagem era o conhecimento profiláxico e da sua forma de tratamento. Aparece a Calda Bordalesa; uma preparação de sulfato de cobre em meio alcalino. Sendo um tratamento que se devia dar antes da doença, foi cometido o erro de aplicar apenas no meio da mesma, levando também a algumas perdas, quebrando mesmo a produção de forma significativa.
Apesar de ter sido dos séculos mais conturbados para a vitivinicultura, assistiu-se no fim do mesmo às Adegas a abarrotar de cheias, com superprodução, registando-se muita dificuldade no escoamento do vinho.
Aparece o enólogo de mérito, António Batalha Reis, igualmente produtor de vinhos na Estremadura, e na qualidade de relator dos vinhos de pasto do Congresso Vitícola Nacional, afirmou que o futuro da produção de vinhos na Região, implicaria uma elaboração mais cuidada de vinhos de pasto, melhor apaladados, de consumo imediato e com maior aceitação por parte dos diversos mercados.
2 Comentários
Inácio M. Sousa
4 meses atrásUma exemplar descrição de um tema interessantíssimo. Bem documentado, numa linguagem perceptível e esclarecedora. Muito Obrigado
Carlos Fraga
4 anos atrásMAGNIFICA INFORMAÇÃO