Conforme o consumo que dele é feito, o vinho pode ser considerado bastante benéfico para a saúde ou um veneno que pode matar.
Relações opostas de que falamos hoje. Se beber moderadamente pode ambicionar uma esperança de vida maior que a de um abstémio.
Mas um abstémio viverá provavelmente mais que um indivíduo alcoólico.
Segundo múltiplas conclusões, de outros tantos estudos médicos, o consumo diário e moderado de vinho (tinto em particular, rico em cor e taninos) trata-nos da saúde sob múltiplos aspectos usando pelos menos quatro tipos de mecanismos distintos dos quais ainda pouco se conhece em profundidade mas que já estão perfeitamente identificados.
Efeitos antioxidantes
Os compostos fenólicos são os “bons da fita”. Entre todos o revesratrol tem atributos de vedeta.
Actuam impedindo a oxidação de moléculas na circulação sanguínea, como por exemplo, as lipoproteínas de baixa densidade (LDL – o mau colesterol) que em estado oxidado é o principal factor de aterosclerose (obstrução dos vasos sanguíneos). Este mecanismo ainda que observado em estudos de laboratório não pode ser comprovado dentro do organismo humano propriamente dito. No entanto o tema é facilmente compreensível e aceite em geral pelo consumidor comum.
O meio e o local onde se processam os efeitos antioxidantes continuam em discussão. Entre a corrente sanguínea e os intestinos, tudo está em aberto.
Efeito directo do álcool na corrente sanguínea
O álcool do vinho, ou de qualquer outra bebida, provoca o aumento de lipoproteínas de alta densidade (HDL – o bom colesterol) no sangue. Esta molécula tem efeito anti-inflamatório e crê-se que transporta para o fígado as moléculas de colesterol acumuladas nas artérias para serem eliminadas. O álcool diminui o risco de arteriosclerose.
Efeito anti-trombose
Num mecanismo semelhante ao da aspirina, a ingestão de vinho reduz a espessura das plaquetas sanguíneas, ou trombócitos, evitando ou reduzindo o risco de formação de coágulos sanguíneos nas artérias ou veias que podem provocar ataques cardíacos ou acidentes vasculares cerebrais (AVC).
Efeito protector do Endotélio
Os polifenóis do vinho inibem fortemente a formação de moléculas de endotelina-1 que têm a capacidade de causar a contracção dos vasos sanguíneos encorajando o desenvolvimento de aterosclerose. Por outro lado estimulam a formação de óxido nítrico pelas células endoteliais que está envolvido no relaxamento e protecção dos vasos sanguíneos.
O vinho modifica a função do endotélio e a aterosclerose começa com deterioração deste. Pode concluir-se que o vinho (tinto escuro e taninoso em particular) inibe o desenvolvimento de doenças do coração.
Vinho e saúde: verdade ou ficção?
Os estudos multiplicam-se nos quatro cantos do Mundo. E as conclusões encontradas multiplicam-se por outros tantos. Para além das benesses coronárias… é anti cancerígeno, anti Alzeihmer, anti-diabetes, anti-hipertrofia da próstata, anti-muita coisa (ver caixa).
Mas apesar de todas as boas notícias que do vinho nos chegam para a saúde, a verdade é que grande parte das conclusões é alcançada sobre outros animais e em laboratório. Faltam estudos conclusivos sobre indivíduos humanos durante um prazo suficientemente longo, pois que as doenças relacionadas com a ingestão de vinho têm normalmente um desenvolvimento muito lento.
Temos também o lado dos cépticos. Em dois estudos, um sueco e outro dinamarquês, sobre as características de diferentes grupos consumidores de vinho, concluiu-se que os bebedores moderados tendem a ser mais ricos, melhor educados e com um perfil psicológico mais favorável – factores que são normalmente associados com melhor saúde.
Outra questão que rodeia o tema “Vinho e Saúde” é a mediatização dos resultados dos vários estudos. Além dos interesses comerciais que envolvem esta feliz associação não se pode esquecer que a maior parte dos jornalistas redactores/editores são eles próprios grandes aficionados da bebida.
A grande questão: o que é moderação?
Não existe uma medida que sirva a todos. Um consumo moderado para “A” pode ser excessivo para “B”. Além do mais a bebida standard varia de um país para outro. Nos EUA contém 14 gramas de álcool, em Inglaterra 8 gramas e no Japão 19,75 (1% Vol. corresponde a cerca de 8 gramas de álcool por litro de bebida).
Quantas bebidas se podem tomar antes de ser considerado consumo excessivo? Em Inglaterra aceita-se como consumo moderado 3 a 4 bebidas por dia (24 a 32 gramas de álcool) para o homem e 2 a 3 (16 a 24 gramas álcool) para a mulher.
O conceito de “consumo moderado de vinho” depende de muitos factores: idade, sexo, peso, estrutura e forma física, hábitos de consumo de bebidas alcoólicas, historial clínico, metabolismo próprio, ritmo de ingestão de vinho, estilo de vida, aspectos genéticos etc. Tudo é muito relativo. Para dois adultos de constituição física normal e saudável e com hábitos distintos de consumo, 5 copos de vinho podem ser considerados um consumo moderado para o que bebe vinho diariamente enquanto que para o outro, bebedor de fim-de-semana, 5 copos de vinho podem ser um tremendo excesso.
De um modo mais corrente ou comum a maior parte de nós atribui “moderação” ao seu próprio nível de consumo.
Mas por vezes a conversa está animada e bebe-se…
Um copo a mais
Resultado de uma situação aguda e passageira temos a conhecida ressaca, que pode acontecer a qualquer indivíduo saudável. É o preço, por vezes elevado, para uma festa que afinal, até nem foi assim tão boa.
Mais comum nas camadas jovens com os seus excessos habituais das noites de desbunda, também aos adultos, habituados a um consumo diário, sensato e avisado de vinho, a ressaca pode ensombrar uma manhã cheia de sol. Basta para tal que depois de um bom jantar onde foi servido entre amigos um par de bons vinhos de mesa chegar à mesa um Vintage imperdível. Os comensais dirão “apenas um bocadinho para provar” mas a qualidade superior e a raridade do produto leva a esquecer o pressuposto e a garrafa chega ao fim. No fatídico dia seguinte a cabeça está pesada e a disposição entre o cinzento e o negro.
A ressaca tem causas múltiplas e os sintomas variam de pessoa para pessoa, de ocasião para ocasião; começam habitualmente várias horas depois da ingestão das bebidas e não é ainda claro se afectam as capacidades cognitivas do paciente. Não tem cura. Apenas se pode atenuar os seus efeitos ingerindo muita água ou uma solução electrolítica de sais (ver Caixa)
A face negra
E agora a parte de que ninguém gosta de falar. São entre 800.000 a 1.000.000 os alcoólicos deste país, ainda que o vinho contribuía apenas em parte para esta desgraça pública (os espirituosos são mais do agrado deste tipo de doente).
Entre as consequências mais comuns do consumo de álcool em excesso está a cirrose hepática resultante da destruição de células do fígado no processamento do metabolismo do álcool. A continuada destruição das células pode levar ao colapso deste órgão vital e à morte do paciente.
Outra causa bem conhecida é o aumento da tensão arterial provocando hipertensão arterial que pode resultar na cardiopatia alcoólica (insuficiência biventricular do coração). Aumenta também o risco de contrair alguns tipos de cancro.
Os efeitos neurobiológicos do álcool provocam inúmeros acidentes que podem resultar em morte ou ferimentos graves na população.
Os sucessos medicinais do vinho |
● Consumidores moderados de vinho (tinto em particular) têm menos 50% de hipóteses de contrair sindromas metabólicos: menos 58% de hipóteses de contrair doenças do coração; menos 40% de hipóteses de contrair diabetes do tipo 2. Fonte: Revista Angiology Dez/Jan 2008. ● Revesratrol contra a obesidade. Inibe a produção de células adiposas maduras e dificulta a sua acumulação. Fonte: Estudo da Universidade de Ulm na Alemanha. ● O vinho tinto e o chá inibem a enzima alfa-amilase ajudando pacientes com diabetes tipo 2 a metabolizar açúcares e amidos. Fonte: Journal of Food Biochemestry. ● Estudo de longo prazo (34 anos) em 1458 indivíduos, revela que mulheres consumidoras regulares de vinho têm menos 70% de hipóteses de contrair demência. Fonte: American Journal de Epidemiology. ● Estudo em 7.897 abstémios durante 10 anos, dos quais 6% abandona a abstinência durante a investigação, revela que estes últimos apresentaram menos 38% de hipóteses de sofrer de doenças coronárias. Fonte: American Journal of Medicine. ● Num estudo com ratos constatou-se que o Resveratrol mantém mais saudáveis os ossos, olhos, rins, coração e outros músculos. Fonte: Jornal Cell Metabolism. ● Estudo em ratos machos revela que o resveratrol pode diminuir até 87% do risco de contrair a mais mortífera variedade de cancro da próstata. Fonte: Site El Mundo. |
O Metabolismo do Álcool |
O etanol é diurético, estimula os rins, aumentando a produção de urina e desidratando o corpo. A partir de um certa quantidade de ingestão de álcool a desidratação leva a uma diminuição do volume do cérebro. Enquanto bebemos vinho (ou outra bebida alcoólica) é importante beber água para evitar este efeito desidratante. Beber uma solução electrolítica de sais dissolvidos em água também atenua ou anula a desidratação. Assim que ingerimos vinho, o etanol entra na corrente sanguínea e começa a ser metabolizado no fígado por enzimas que primeiro o degradam em acetaldeído, muito tóxico para o organismo e precursor da ressaca, e depois em acetato. O aumento destas enzimas responsáveis pelo metabolismo do álcool inibe e retarda a gluconeogénese (formação de glucose a partir de substratos de carbono não açucarados) impedindo o fígado de fornecer glucose aos vários orgãos (hipoglicémia) entre os quais o cérebro e fornecendo mais uma causa para a ressaca. No metabolismo do álcool a partir de uma molécula de etanol produzem-se duas moléculas da enzima NADH desidrogenase utilizando a vitamina B12 como coenzima. O consumo excessivo de etanol pode levar a uma deficiência desta vitamina. Esta é outra causa possível para a ressaca. Além do dito existem outros álcoois e produtos secundários da vinificação que podem funcionar como potenciadores dos sintomas da ressaca. |