Na Idade Média houve, contudo, algumas reminiscências vagas, tendo a Igreja Romana tolerado, a partir do século X, a representação nos próprios templos, de alguns autos teatrais, geralmente de temas sacros e doutrinários, mas também algumas farsas de costumes, recordação de festividades pagãs, pré-cristãs, enquadrando assim a íntima relação, de origens vetustas e ancestrais, entre as manifestações artísticas teatrais e os rituais religiosos, os mais antigos de origem vinária, como vimos.
Desenvolver-se-iam as personagens típicas do mimo e do jogral, outros tantos arremedos histriónicos dos sátyros da tragédia, que corporizaram o teatro popular, tradicional, e a farsa satírica, com personagens tipificados, mas de crua realidade. O teatro medieval, parente vago da tragédia antiga era representado por estudantes, confrades de grémios, mais tarde por companhias ambulantes.
Atingiu o máximo explendor mais tarde, em plena Idade Moderna, no séc. XVI, na Inglaterra, na variante do teatro das moralidades e no género histórico edificante, pelo protagonismo de William Shakespeare.
Mas regrediu e decaiu, retrocedeu face ao avanço do drama naturalista, género ao gosto da burguesia prosaica do século XIX, que se conforma e compraz em cenas imitadoras, das realidades quotidianas mais triviais, rejeitando as sublimação e mediação históricas e mitológicas, que haviam generalizado paixões e heroísmos, vícios e virtudes, num género edificante.
Excepcionalmente apenas se assiste a uma notável recuperação dos fundamentos estéticos da tragédia com a obra operática de Richard Wagner, inspirada que foi na interpretação estética nietzschiana da arcaica tragédia grega, ao tentar reviver a totalidade da sua essência, agora reformulada num novo tipo de teatro em que confluiam todas as artes – a ópera revolucionária wagneriana.
No Século XX, nesta tão apregoada época neo-trágica, por paradoxo, desaparece quase totalmente a forma trágica como elemento teatral canónico.
Mas não só no teatro se materializaram o espírito dionisíaco e as alegrias do vinho. Também noutras disciplinas artísticas, noutras diversas artes se concretizou esse espírito peculiar, e ainda, e sobretudo, num fundo cultural, mítico e simbólico, que cristalizou, pelo devir dos tempo, o fascínio que provocou, desde a noite dos tempos, a embriaguez exaltante que a cultura da vinha e do vinho propiciaram dos nossos mais primevos antepassados das mais variadas civilizações e tradições culturais.